O trágico fim do professor Marcondes Nambla, 36 anos, espancado e morto por um homem com um pedaço de pau em Penha, litoral Norte, revela o tamanho da brutalidade contra indígenas em Santa Catarina.
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A motivação ainda é desconhecida, mas o tipo de crime evidencia características de raiva e a possibilidade de intolerância racial não pode ser descartada pela investigação policial. Foi o que imploraram nesta quarta-feira amigos da vítima nas redes sociais.
A Polícia Civil da vizinha cidade de Balneário Piçarras investiga o assassinato e informou à reportagem da NSC TV que as apurações estão adiantadas a partir de filmagem e depoimentos de testemunhas. Já em Penha, a informação que a Delegacia de Polícia local estaria de recesso causou surpresa, embora já fosse conhecida a pequena quantidade de agentes disponíveis na estrutura.
Com população estimada de 31 mil habitantes em 2017 e movimento intenso de turistas, principalmente no Parque Beto Carrero, Penha conta com poucos policiais civis. O déficit na segurança local talvez não evitasse o homicídio caso a realidade fosse diferente. Mas, agora, diante do pior, se espera prioridade e rapidez na solução da morte.
“Perdemos todos com a partida brusca, trágica e inadmissível de Marcondes Namblá, ocorrida em 02 de janeiro de 2018. Estamos de luto, sentindo profunda amargura e consternação”, lamentou a equipe de licenciatura intercultural da Universidade Federal de Santa Catarina. Colegas afirmaram que tinha liderança expressiva, era juiz na terra indígena de José Boiteux, criativo, sensível, competente, alegre, entre outras qualidades.
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Em meio à tristeza, difícil não relembrar outros fatos de violência contra índios no Estado. Em 30 de dezembro de 2015, num crime cruel, o índio Vitor Pinto, de apenas dois anos, foi degolado na frente da rodoviária de Imbituba. O assassino confesso, Matheus de Ávila Ferreira, pegou 19 anos de prisão.
Recentemente, reportagem do jornal Hora de Santa Catarina mostrou o clima de tensão e medo entre indígenas e não-indígenas na região do Morro dos Cavalos, em Palhoça. Há relatos de tiros contra a aldeia, principalmente de noite. Nas ruas da Capital, a lastimosa realidade social: índios são cada vez mais presentes em viadutos na região do terminal rodoviário Rita Maria, além de crianças pelas ruas centrais em condições de mendicância.
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