No Sul, o cenário reproduziu o das demais regiões no início da noite desta terça-feira (23) em Santa Catarina faltando exatos 40 dias para as eleições. Teve prefeito remarcando reunião. E teve deputado em campanha levando o papo para perto do monitor da TV. E teve aspirante conectando para assistir. A expectativa desses e de tantos outros envolvidos direta ou indiretamente no processo eleitoral foi confirmada pela pesquisa Ipec divulgada pela NSC: vai ser voto a voto a disputa ao Governo do Estado.
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Trata-se de um cenário distante da cristalização. Os 23% de preferência para Carlos Moisés (Republicanos) guardam uma incógnita, afinal são contrapostos pelos emblemáticos 27% que o colocam no topo da rejeição. Na intenção de voto, ele supera o vice-líder Jorginho Mello (PL) em 7% e são 8% a mais que o ex-governador Esperidião Amin (PP). Pouco, em um cenário bivalente: Moisés é o atual governador e na sua cola estão dois bolsonaristas que surfam melhor no público do presidente que o próprio Moisés, desgarrado do palanque embora filiado a um partido da órbita de Bolsonaro.
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O G-4 bolsonarista soma 62%
O fator Bolsonaro deve ser levado em conta. Os quatro primeiros colocados pedem voto para ele. Somados, os membros do G-4 bolsonarista em Santa Catarina (Moisés, Jorginho, Amin e Gean Loureiro, União Brasil, com seus 8% de preferência) carregam 62%. A margem de erro faz de Jorginho e Amin sócios da mesma causa, a da incerteza. Cada passo precisa ser calculado e, de mais a mais, eles são linhas paralelas ao mesmo projeto. Ou seja, o que chegar a um eventual segundo turno com Moisés (no cenário de hoje) carrega o outro. E isso já é razão de sobra para dores de cabeça do atual inquilino da Agronômica.
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É essa verossimilhança espelhada que coloca Jorginho, Amin e Gean (em ordem de contundência) com dificuldades de ataques mútuos. Afinal, no plebiscito que os debates demonstram ser imposto a Carlos Moisés, o que passar desses três catalizará os interesses dos demais contra o governador. Não há qualquer espaço para não haver segundo turno. O único fato novo que se aproxima e poderá embaralhar ainda mais o cenário tem data marcada: nesta sexta-feira (26), com o início do horário eleitoral em rádio e TV.
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Desafios de Jorginho, Amin e Gean
Focando em Moisés para tirar dele algo que possa ser decisivo na briga quase siamesa com Amin, Jorginho vem elevando o tom quanto à principal ferida do governador: os R$ 33 milhões. Aproveitou mais um debate para, tendo Ralf Zimmer (Pros) como “facilitador”, bater em Moisés na busca por respostas que o governador ainda desenha em tangentes: afinal, mais que a recuperação dos R$ 33 milhões, falta dar nome aos bois dessa fraude que manchou Santa Catarina, a qual seguirá sendo poderosa boia dos opositores no mar revolto que planejam impor ao governador.
Amin sofre de uma pedra no sapato semelhante à de Moisés: o empate técnico entre o sim e o não. Os 15% de preferência contrastam com os 17% de rejeição. O ex-governador precisa de carta na manga que talvez não esteja no seu partido, ainda cindido por divisões, muitas motivadas pelos pix de Moisés salpicando obras e investimentos para gratos prefeitos progressistas. Amin precisa achar o algo mais.
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Gean parece estar confiando demais no que a TV vai lhe proporcionar de audiência. Tem faltado a ele arrojo nos debates, e o tempo é c urto para buscar algo que Amin e Jorginho, nesta ordem, têm mais: a estadualização. Mas o ex-prefeito de Florianópolis tem a favor um índice que também favorece Jorginho Mello e é olhado com muita atenção pelos marqueteiros: a rejeição. Os 7% que negam Gean dão a ele chance de ter espaço. Cabe saber se haverá tempo para isso. Idem para Jorginho, que até surpreende com os 9% que não votarão nele. Provavelmente, o congestionamento do campo bolsonarista o ajudou também nesse item, canalizando o não para Amin, com seus 17% de rejeição. Somados, os candidatos que aliam-se a Bolsonaro (Moisés, Jorginho, Amin e Gean) contabilizam 60% de negação do eleitorado pesquisado. Quase metade pertencem ao atual titular do governo.
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A insônia de Décio
Por ser a única força claramente identificada com o ex-presidente Lula, Décio Lima (PT) deve estar sofrendo da insônia que também passa a perturbar Moisés. Afinal, não há dúvidas que ambos esperavam números mais robustos na aceitação e menores na reprovação. Com 6% de apoio na pesquisa, Décio não está nem na sombra do que os petistas esperavam. Precisará de fatos novos que o tirem da monocórdica conversa dos debates, pois em cada cinco palavras (ou algo assim) do ex-deputado petista, uma é “Lula”. Décio precisa desgarrar, e os números deram um contundente aviso. Na rejeição, os 15% que não votam no petista se assemelham aos 17% que negam Amin.
Dos demais, pouco a considerar. Odair Tramontin (Novo) tem potencial para avançar dos 2% que ostenta na estimulada. Mas precisa ser mais prático no discurso. O 1% de Jorge Boeira (PDT), o alinhando aos novatos Leandro Borges (PCO), Alex Alano (PSTU) e Ralf Zimmer chama a atenção, por ser o pedetista um ex-deputado de quatro mandatos. Mas não chega a ser uma rotunda surpresa. Boeira tanto vem para representar o discurso de sua preferência (o da educação) que chegou a dizer em debates que a solução para a segurança pública passa pela educação, apelidando as armas adquiridas e tão decantadas por Carlos Moisés para a polícia catarinense de “arminhas do FBI”.
Alguns setores têm demonizado a presença de Ralf Zimmer no pleito. Ele, naturalmente, cumpre uma missão não tão discreta de ser uma candidatura em linha auxiliar de ataque a Carlos Moisés. Estratégia antiga e, de certa forma, até benéfica ao governador. Afinal, confere a ele a “escada” para tratar de temas espinhosos. O estilo enfático do defensor público, se não mexe em votos, ao menos quebra o ritmo cadenciado demais de uma eleição que se apresenta repleta de candidatos menos dispostos ao confronto. Como dito por um presidenciável em 2018 (Ciro Gomes) ao se ver diante de uma pergunta sem muito nexo de um franco atirador (Cabo Daciolo): “a democracia tem seus preços”. Esse é um deles.
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