Nesta sexta-feira (7), poucas horas depois de consumado mais um retorno de Carlos Moisés ao comando do estado, o colega Renato Igor nos desafiou, na Rádio CBN, a elencar o tamanho dos prejuízos para o sul de Santa Catarina que resultam do processo de impeachment.

Continua depois da publicidade

A corretíssima provocação pontuava, mais que as circunstâncias políticas, detalhadas e qualificadamente expostas pelo Renato e os demais colegas aqui do NSC Total, os atrasos de desenvolvimento, os gargalos que se tornaram fraturas ainda mais expostas em nossa Santa Catarina.

> Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo Whatsapp

Aqui pelo sul, é grande a lista de demandas que poderiam ter avançado, mas não foram por conta desse verdadeiro constrangimento ao qual fomos expostos. Mas a principal não está em lista de obras em andamento. Ela é menos palpável mas longe de figurar em tangentes: é o investimento que não veio. 

O empresário que se intimidou pela insegurança política e, por consequência, jurídica, é algo que dificilmente se recupera. Estado sem governo estável atrai investidores? Se em vias normais já é difícil, a falta de solidez no comando aperta ainda mais esse torniquete. Não há, e os indicadores apontam, região de Santa Catarina mais necessitada de novas empresas que o sul. Os empreendedores que aqui estão encontram-se penalizados, pagando elevados impostos (os demais, de outras regiões, também) mas arcando com a missão de gerar os empregos que faltam. 

Continua depois da publicidade

Para piorar, há uma infraestrutura que até sofreu avanços, mas ainda transita muito mais no discurso que na prática. O governador Carlos Moisés até lançou ideias animadoras, mas que não saíram do papel, ainda, também por conta da instabilidade política. Nessa lista, a quarta etapa do Anel de Contorno Viário e o Centro de Inovação de Criciúma, a lenta restauração da Rodovia Jorge Lacerda, acesso sul a Criciúma, e a SC-442, em uma região agrícola e industrial entre Cocal do Sul e Morro da Fumaça.

O ponto onde o Anel Viário termina em Criciúma
O ponto onde o Anel Viário termina em Criciúma (Foto: Denis Luciano / Arquivo)

Há ainda a Serra do Rio do Rastro, importantíssimo manancial turístico e ecológico, que até vê avançar sua grandiosa obra de recuperação de encostas, mas a pista, de concreto, ali está a duras penas sob o sonho futuro de uma necessária e profunda recuperação. Trata-se, também, de um vetor de desenvolvimento que, com o pires na mão, aguardará por uma recomposição que vai além das encostas. Fora a iluminação, que está apagada, e o estado alega que essa conta caberá à prefeitura de Lauro Müller.

Também às escuras encontra-se a Via Rápida, rodovia de acesso a Criciúma inaugurada no fim de 2017. O projeto de iluminação arrasta-se na Celesc, e agora, sob a leitura do que está acontecendo na Serra do Rio do Rastro, suspeitamos que a conta vá ser enviada também às prefeituras, neste caso de Içara e Criciúma, o que amarrará ainda mais esse investimento tão necessário.

Via Rápida, no acesso a Criciúma, precisa de iluminação
Via Rápida, no acesso a Criciúma, precisa de iluminação (Foto: Denis Luciano / Arquivo)

Mais algumas expectativas

Para Araranguá, Carlos Moisés prometeu importantes projetos para o turismo no balneário de Morro dos Conventos, e a ponte que criará uma nova ligação sobre o Rio Araranguá, o que será fundamental agente para que um dia saia do papel a tão antigamente falada Interpraias, a rodovia que ligaria os balneários do sul, formando um corredor de asfalto paralelo à BR-101. 

Continua depois da publicidade

Ao norte, entre Laguna e Jaguaruna, faz poucos dias que a ainda governadora Daniela levou uma comitiva para perceber o nível do assoreamento da Barra do Camacho, região pesqueira de destaque por aqui. É outra solução que vai demorar um pouco mais por conta desse vai e vem dos gestores.

Barra do Camacho, entre Laguna e Jaguaruna, precisa de desassoreamento
Barra do Camacho, entre Laguna e Jaguaruna, precisa de desassoreamento (Foto: Julio Cavalheiro / Secom)

Mais ao sul, existe o trecho da SC-108 entre Jacinto Machado e Praia Grande, um investimento alto também já sinalizado em uma das gestões de Carlos Moisés, em outra região com forte potencial agrícola mas isolada pela poeira da atual e velha estrada. E a SC-290, também em Praia Grande, uma ligação turística e econômica com o Rio Grande do Sul, obra iniciada há anos, paralisada por questões ambientais e cujo resgate também andou no radar da Secretaria de Estado da Infraestrutura. A troca de governos fez esse projeto, entre tantos outros, ficar paralisado no rodízio dos titulares das gavetas das respectivas secretarias.

Os dias de Moisés e Daniela

O governo Carlos Moisés iniciou há 857 dias, em janeiro de 2019. Ele governou por 662 dias até outubro de 2020, quando veio o primeiro afastamento. Foram 34 dias fora, com o estado entregue à vice Daniela Reinehr. Moisés retornou em novembro de 2020, sendo novamente apeado em março de 2021, somando 119 dias no segundo tempo da sua gestão. Voltou Daniela para mais 42 dias até esta sexta. 

Moisés, ao lado do prefeito Clésio Salvaro, em uma das primeiras vindas a Criciúma, em 2019
Moisés, ao lado do prefeito Clésio Salvaro, em uma das primeiras vindas a Criciúma, em 2019 (Foto: Denis Luciano / Arquivo)

No fim das contas, até agora, são 781 dias em duas passagens de Carlos Moisés e 76 dias nos “dois mandatos” de Daniela. E a pergunta: o prejuízo disso não será maior que o dos R$ 33 milhões? Claro que os culpados precisam ser punidos, que ainda há R$ 19 milhões a resgatar (R$ 14 milhões já foram recuperados), mas que há uma conta incalculável e pautada no sofrimento de uma região, isso não resta dúvida. Uma dívida que não se resolverá em alguns governos, mas talvez em gerações.

Continua depois da publicidade

Leia também:

> Os secretários que devem retornar ao cargo com a volta de Moisés ao governo

> Entenda o impeachment contra o governador de SC pelo caso dos respiradores

> Moisés sobrevive ao impeachment, mas maculado pelos votos dos desembargadores