“Resolve Moisés! Devolva a nossa dignidade”. O recado, claro e indignado, constava em uma das faixas estendidas ao longo desta terça-feira (15) defronte à Casa d´Agronômica e também nos arredores do Centro Administrativo, em Florianópolis. Tratava-se de mais um protesto dos trabalhadores da saúde em Santa Catarina chamando a atenção para as graves condições do Serviço Médico de Urgência (Samu).

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– Tentamos de novo sensibilizar o governo. Não fomos recebidos nem na Agronômica, nem no Centro Administrativo. Mas conseguimos falar com um diretor da Secretaria de Saúde – conta o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nos Estabelecimentos de Saúde de Criciúma e Região (SindiSaúde), Cléber Cândido.

Os cerca de 950 trabalhadores terceirizados do Samu em Santa Catarina reclamam de três anos sem férias e sem reajuste nos salários, além de ausência dos depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), por parte da empresa OZZ, a gestora contratada pelo Estado para conduzir o serviço. – Na Secretaria de Saúde nos disseram que o Estado vem cumprindo a sua parte, que os reajustes previstos estão sendo repassados, e que a gestora vem sendo multada pelos descumprimentos com a categoria – relata o sindicalista.

Trabalhadores mobilizados nesta terça em Florianópolis
Trabalhadores mobilizados nesta terça em Florianópolis (Foto: Divulgação)

O que diz a secretaria

A conversa dos sindicalistas na tarde desta terça foi com o secretário-adjunto da Secretaria de Estado da Saúde, Alexandre Fagundes, e o superintendente de Urgência e Emergência, Diogo Losso. – O secretário nos relatou que há um debate na secretaria sobre as medidas a tomar, e se comprometeu a tomar essas medidas em curto prazo – destaca o presidente do SindiSaúde SC, Djeison Stein. 

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– Ele apontou que a secretaria estuda uma providência com o menor impacto possível para as partes, contemplando os trabalhadores – reforça. Mas detalhes das negociações entre Estado e OZZ não foram divulgados.

Categoria reclama férias, reajustes, FGTS e condições de trabalho
Categoria reclama férias, reajustes, FGTS e condições de trabalho (Foto: Divulgação)

Contrato perto de ser rompido

Das mobilizações desta terça, ficou a certeza, para os trabalhadores, de que o contrato entre Estado e OZZ deverá ser rompido. – E iCsso deve acontecer em 30 a 60 dias, o interesse da secretaria é romper o contrato. A desculpa da empresa é que o contrato é deficitário. Mas para ganhar a licitação eles colocaram um valor muito baixo e depois pedem aditivos, e o Estado não está concedendo – esclarece Cléber Cândido.

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Os problemas com a OZZ, conforme o representante do sindicato, vêm desde a celebração do contrato com o Estado, em dezembro de 2017. E antes disso a categoria já enfrentava dificuldades com o gestor anterior, a empresa SPDM. – A terceirização não deu certo. Tem muitos trabalhadores que agora estão na Justiça cobrando a OZZ que também foram à Justiça cobrar a SPDM, que possuem passivos desde aquela época e, no fim das contas, o trabalhador vai ficar no prejuízo – lamenta.

Temor dos trabalhadores é que os salários comecem a atrasar
Temor dos trabalhadores é que os salários comecem a atrasar (Foto: Divulgação)

O Estado está sendo arrolado nas ações judiciais movidas pela categoria, mas por conta do contrato de terceirização, a responsabilidade é da empresa contratada.

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Greve é sugerida

A possibilidade de greve da categoria não está descartada. – Teremos uma assembleia em breve, o SindiSaúde levará, pelos trabalhadores do sul, a defesa da greve como forma de chamar a atenção para toda a nossa dificuldade – salienta Cândido. 

Dos cerca de 950 trabalhadores envolvidos, entre médicos, enfermeiros, socorristas, atendentes e rádio operadores, 220 atuam na região de Criciúma. – Da maneira como está, não tem como continuar – sublinha o presidente do SindiSaúde.

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Condições precárias

Na região de Criciúma, são vários problemas estruturais reclamados. – No fim de semana, a região de Tubarão estava sem a Unidade de Suporte Avançado, estava quebrada desde a semana passada e não foi consertada pois o mecânico da OZZ não tinha ferramentas para trabalhar. Acabou que as unidades de Criciúma e Araranguá tiveram que acumular as ocorrências de Tubarão – revela Cândido.

Em Araranguá também há falta de ambulância. – A de Araranguá está quebrada, e o Samu mandou uma unidade reserva de Florianópolis. Em Criciúma também há sucateamento, tanto das ambulâncias quanto das unidades, algumas até sem internet estão. Em alguns casos, os trabalhadores levam material de expediente, pois nem isso tem – explica.

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O que vem aliviando um pouco a situação, segundo o sindicalista, é o suporte que algumas prefeituras oferecem. – As unidades de suporte básico são mantidas pelas prefeituras, mas o uso delas também é coordenado pela OZZ – arremata.

Assembleia em breve deve tratar sobre possível greve
Assembleia em breve deve tratar sobre possível greve (Foto: Divulgação)

Sobre as estruturas físicas nas bases do Samu, o sindicalista refere que há casos de infestação de insetos e roedores, além de infiltrações e falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) e de uniformes em quantidade adequada.

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