A energia está mais cara. Não há quem não perceba. A fatura chega, a conta é mais pesada e o protesto, geral. De clientes residenciais a consumidores comerciais e industriais, todos sentem. A realidade é de Santa Catarina e do Brasil, e tem íntima relação com a crise energética que o país vive.
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– Com a falta de chuva, as hidrelétricas não estão gerando o suficiente de energia. Com pouca água, é necessário buscar alternativas, e isso encarece o sistema. Pelas previsões, o sistema hídrico para geração de energia não se normalizará até o fim do ano. Essa é uma das estiagens mais fortes dos últimos 100 anos – avalia Márcio Cabral, diretor executivo do Sindicato da Indústria de Extração de Carvão de Santa Catarina (Siecesc).
E o que o carvão tem a ver com isso? Tudo. Uma das alternativas para gerar energia e compensar a crise hídrica passa pela queima de carvão que move as usinas térmicas. O Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, de Capivari de Baixo, no Sul de Santa Catarina, exerce papel estratégico. O complexo, composto por sete grupos geradores, produz na plenitude 857 megawatts de energia.
E é esse contingente que vem garantindo atualmente um certo equilíbrio no fornecimento de energia aos catarinenses. – Trazemos energia de Itá, que não está gerando o suficiente. As pequenas centrais hidrelétricas têm pequena repercussão no sistema, são necessárias 900 delas para produzir o equivalente a uma Jorge Lacerda. Por tudo isso que a usina de Capivari de Baixo está operando a pleno – pontua Cabral.
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A termelétrica do Sul catarinense é gerida pela Engie Brasil, que queima 210 mil toneladas de carvão para gerar energia e reforçar o sistema. – Eles vão aumentar essa queima para 300 mil toneladas a partir de agosto, pois a demanda segue muito alta, não sobra nem meio megawatt, tudo o que sai da Jorge Lacerda é consumido – informa o diretor do Siecesc.
Sem o carvão, SC teria que importar energia
Essa produção vem garantindo, ainda, algum controle sobre o custo da energia em Santa Catarina. Acontece que, conforme Márcio Cabral, se não houvesse a Jorge Lacerda o estado teria que comprar energia da Argentina, muito mais cara, para dar conta das necessidades. – É fato, se não tivéssemos essa termelétrica, estaríamos comprando energia da Argentina – confirma.
Embora interligada ao sistema nacional, Santa Catarina não tem “uma BR-101 de linhão de energia”, exemplifica o diretor do Siecesc. – A energia que vem para o estado chega via Paraná ao Oeste, volta ao Paraná, retorna a Santa Catarina pelo planalto, vai a Florianópolis que então distribui – detalha. – Por tudo isso é que perder Jorge Lacerda será um tiro no pé para Santa Catarina – comenta.
Os riscos de perder a termelétrica
Daí, Cabral entra no assunto que vem inquietando o Sul de Santa Catarina, com repercussões para o abastecimento energético de todo o estado: a possível perda da termelétrica de Capivari de Baixo. A Engie tornou público, no fim de 2020, um cronograma para desativar Jorge Lacerda, começando pelo projetado desligamento de duas unidades ainda neste ano, mais duas em dezembro de 2023 e encerrando as operações no fim de 2025. A cadeia energética na região gera 5 mil empregos diretos, 21 mil indiretos e injeta R$ 5 bilhões na economia.
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Está em andamento uma negociação com a Fram Capital, empresa que já demonstrou interesse na aquisição da termelétrica. Mas a transação não é tão simples. Ocorre que há uma política federal de subsídios ao setor com prazo de validade. Termina em 2027 a vigência da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), um aporte que, deixando de vigorar, torna desinteressante o investimento. – O fim da CDE fará a energia das termelétricas custar o dobro do preço atual. Quem comprará essa energia mesmo em tempos de necessidade? – ingada o diretor do Siecesc. – E o pior é que, pelo que está posto, a CDE será extinta mas nós consumidores continuaremos pagando R$ 300 milhões de CDE nas nossas contas de energia – expõe Cabral.

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A questão ambiental tem importância nesse debate. Tanto que a Engie está deixando as operações em Capivari de Baixo ao optar por uma nova política de geração, com base em fontes renováveis como energia solar e eólica, em detrimento do carvão. – De fato, há uma pressão muito grande por uma mineração moderna que nós já realizamos aqui na região, com recuperação ambiental e fiscalização constante – responde Cabral. – Hoje, só os carros de Tubarão e Capivari de Baixo, juntos, geram mais CO² que a usina de Jorge Lacerda – exemplifica.
Uma das batalhas em nível político, atualmente, é para prorrogar a CDE ao menos até 2035. – As carboníferas da região de Criciúma contrataram um estudo técnico. Vieram técnicos de São Paulo e Rio de Janeiro e eles apontaram que o custo para Santa Catarina trazer energia será muito maior do que manter a Jorge Lacerda – afirma Cabral. Esses resultados foram repassados ao Ministério de Minas e Energia.
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