A SC-108, entre as cidades de Forquilhinha e Meleiro, no Sul de Santa Catarina, foi uma das primeiras rodovias estaduais bloqueadas no estado, ainda na noite de domingo (30), por conta dos atos antidemocráticos que vêm sucedendo o segundo turno das eleições presidenciais. Um fato curioso, para dizer o mínimo, chamou a atenção na rodovia durante a manhã desta terça-feira (1). 

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Os manifestantes que interromperam o tráfego na rodovia, próximo à rótula de acesso a uma indústria de cereais, estão interceptando os veículos e permitindo, via de regra, a passagem de profissionais de saúde e algum que outro caso mais urgente. A maioria, porém, precisa dar a volta e buscar outros caminhos.

Foi o caso de um padre que responde por uma paróquia no Sul catarinense. Ele, que preferiu não se identificar (temendo represálias) foi abordado na barreira e, mesmo explicando que estava viajando de Forquilhinha em direção ao Sul para atendimento religioso em uma cidade vizinha, não lhe foi permitido seguir viagem.

Rodovia é um importante acesso entre municípios do extremo Sul
Rodovia é um importante acesso entre municípios do extremo Sul (Foto: Marco Antônio Medeiros / Rádio Cidade em Dia)

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É padre cristão?

— É caso de saúde? — perguntou um dos manifestantes. 

— Eu tenho que atender o povo lá — respondeu o religioso. 

— O senhor vai ajudar nós então? Maravilha, fica aí com nós (sic) — respondeu outro bolsonarista. 

Em seguida, o sacerdote dirige-se a alguém que encontra-se dentro de um carro e conta o que mais lhe chamou a atenção: 

— Me perguntaram se eu era um padre cristão. Eu sou padre há 49 anos, servindo a Igreja – completou, atônito com o bizarro questionamento. 

— Se é padre, é petista — respondeu outro elemento. 

Ainda tentando contornar a situação, o padre levantou as mãos e fez um pedido. 

— Amigos, sejamos humanos, sejamos humanos — suplicou. 

Mais um dos que bloquearam a estrada dirigiu-se ao sacerdote:

— Estamos fazendo isso, padre, pois o senhor viu o que está acontecendo na Venezuela, as pessoas morrendo de fome — observou, usando um dos surrados argumentos deslocados da realidade brasileira e sublinhados à exaustão pelos manifestantes de ocasião em suas barulhentas e inoportunas intervenções.

Região bloqueada é movimentada por caminhões que carregam a produção de arroz
Região bloqueada é movimentada por caminhões que carregam a produção de arroz (Foto: Marco Antônio Medeiros / Rádio Cidade em Dia)

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O padre e o repórter

Sobre a desatinada pergunta feita ao religioso, se ele é “padre cristão”, cabe lembrar que os padres são figuras milenares associadas às igrejas católica e ortodoxa. Logo, é óbvio que todo padre é cristão.

A cena narrada acima foi testemunhada e gravada em vídeo pelo estudante de Jornalismo do Centro Universitário Satc (UniSatc), de Criciúma, Marco Antônio Medeiros, que durante e depois dessa ocasião foi vítima de ameaças. 

Os manifestantes exigiram identificação do acadêmico, que também atua como repórter da Rádio Cidade em Dia de Criciúma, bem como que o conteúdo do vídeo fosse apagado. 

Não foi. 

A denúncia relativa à agressão ao repórter, chamado de “malandro” pelos agressores, foi encaminhada à Associação Catarinense de Imprensa (ACI).

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