Quando elegeu-se presidente da República em 2010, Dilma Rousseff (PT) pediu para ser chamada “presidenta”. Desde então, e lá se vão 12 anos, ela teve um segundo mandato, sofreu impeachment, viu Michel Temer resgatar o termo “presidente” e Jair Bolsonaro sucede-lo. Em Criciúma, a troca no comando da Câmara de Vereadores permitiu o resgate do tema nesta terça-feira (4).
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É que o Legislativo criciumense realizou sessão extraordinária para encaminhar a mudança da mesa diretora e, também, apreciar alguns projetos que restaram de 2021. Na abertura dos trabalhos, o vereador Obadias Benones (Avante) leu o termo de renúncia das funções diretivas, cumprindo acordo prévio.
– Vazamos – brincou o vereador Arleu da Silveira (PSDB), que assim entregou a presidência. Ele convidou a vereadora Roseli De Lucca Pizzolo (PSDB) para assumir interinamente o comando da Casa. Até esta quarta-feira (5), a partir das 16h quando, em outra extraordinária, os vereadores elegerão a nova direção.
Roseli é a candidata da chapa única governista, com o vice-presidente Julio Kaminski (PSL) e os secretários Salésio Lima (PSD) e Toninho da Imbralit (PSDB). A chapa será inscrita até as 19h desta terça.
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“Senhora presidenta”
Coube à vereadora Roseli, então, presidir a sessão. Logo no primeiro projeto, que tratava sobre violência obstétrica, a vereadora Giovana Mondardo (PCdoB) foi à tribuna para defender a pauta. – Senhora presidenta – disparou a parlamentar, saudando a colega que será a segunda mulher a presidir o Legislativo de Criciúma.
A única mulher a alçar a função até então foi a ex-vereadora Tati Teixeira (na ocasião do PSD), em 2014.
O substantivo feminino em um termo geralmente reportado no masculino gerou burburinho na sequência. Não demorou e o vereador Nicola Martins (PSDB) fez uso da palavra para tratar de um projeto de sua autoria que institui um modelo de transição democrática de governo em nível municipal.
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– É ‘senhora presidente’ que a senhora prefere ser chamada? – indagou, à colega tucana. – Senhora presidente – respondeu Roseli. – Então a chamarei de senhora presidente – emendou Nicola.
Mais alguns minutos e a vereadora Giovana voltou à tribuna, desta vez para defender projeto que tratava da formação do Fórum Permanente de Integração de Políticas de Combate ao Racismo e Promoção da Igualdade Racial em Criciúma. A parlamentar do PCdoB, ao justificar sua última fala na sessão, lembrou que a Academia Brasileira de Letras reconheceu a validade do termo ‘presidenta’. – Prometo que é a última, presidenta, segundo a Academia de Letras – destacou.

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Campos ideológicos expostos
Discussões gramaticais à parte, o debate traz à tona, logo na primeira exposição pública da Câmara de Criciúma em 2022, ponderações com viés ideológico, o que confere algum estofo à legislatura. Embora nenhuma mulher esteja despontando com vigor até o momento para a disputa presidencial de outubro (o MDB lançou a pré-candidatura da senadora Simone Tebet, mas que ainda não emplacou), o resgate do termo ‘presidenta’ por uma vereadora do PCdoB vem carregado de simbolismo.
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Giovana projeta candidatura a deputada estadual e que tem total alinhamento com as esquerdas e a tentativa de eleger o ex-presidente Lula na sucessão de Bolsonaro e, naturalmente, a menção à ‘presidenta’ faz relembrar a trajetória de Dilma e a divisão posterior ao impeachment da petista.
Por outro lado, o bate pronto de um vereador do PSDB que tem perfil reformista e liberal, jovem e em primeiro mandato (a opositora do PCdoB também é estreante), resgata o contraponto à ‘presidenta’, não apenas no conteúdo, mas também na forma. Detalhe que, embora tucano, o vereador Nicola não encarna qualquer entusiasmo à pré-candidatura de João Doria tanto que, nos tempos da prévia, chegou a anunciar que não votaria em qualquer dos concorrentes.

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A presidente quer ser presidente
– É simplesmente respeitar como ela prefere ser chamada. Não é questão de estar no Aurélio ou não – comentou Nicola, logo após a sessão.
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Consta que, em recente evento de confraternização dos vereadores e funcionários da Câmara, surgiu a brincadeira de alguns, chamando Roseli de ‘presidenta’. Na ocasião, ela já havia referido o pedido para ser chamada de ‘presidente’, o que reiterou nesta terça. Logo, ao gosto da própria, Roseli De Lucca Pizzolo será a segunda ‘presidente’ da história da Câmara de Vereadores de Criciúma. Eleição nesta quarta, a partir das 16h.
Sobre a pauta da Câmara, que tornou-se secundária perante às farpas político-gramaticais, todos os projetos foram aprovados por unanimidade. Além dos já citados, um (também da vereadora Giovana) que institui a política criciumense de agroecologia e produção orgânica.

Como pano de fundo, a maioria absoluta que o governo Salvaro detém na Câmara é ampliada. Em tese, com a adesão do vereador Julio Kaminski (PSL), que era ferrenha oposição na legislatura passada, o governo detém 14 dos 17 vereadores. Acontece que Kaminski é do PSL, partido que detém outra cadeira, do vereador Daniel Antunes, que já anunciou independência. Logo, o União Brasil, que fundirá o PSL com o DEM (que tem um vereador em Criciúma, Manoel Rozeng), já nasce dividido, e deverá levar dois dos seus três votos efetivamente para a base de Salvaro.
Nada, no entanto, que ameace numericamente a esmagadora maioria. No máximo, será um 13 a 4 para os governistas.
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