O presidente Jair Bolsonaro deu um passo importante para voltar a ter um partido visando a eleição presidencial de 2022. Ao escalar o senador Ciro Nogueira (PP-PI) para o núcleo duro do poder, entregando a ele a chefia da Casa Civil, Bolsonaro dá um claro indicativo de retorno ao PP. Ele comentou a respeito em entrevista a uma emissora de rádio do Mato Grosso do Sul na última sexta-feira (23).
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Uma das condições que Bolsonaro coloca para ingressar em um partido é ter controle. – Estou tentando um partido que possa chamar de meu – disse o presidente. A afinidade com Nogueira pode viabilizar isso, mas cria diversos cenários em relação ao posicionamento do PP nos estados.
Por exemplo, a eleição em Santa Catarina. O senador Jorginho Mello (PL) é um dos catarinenses mais próximos de Bolsonaro, se coloca como pré-candidato a governador e vem em franca campanha, não é de hoje. Em tese, não haveria dificuldades para uma composição. Mas e se os progressistas, que não têm candidato a governador desde 2010, baterem pé e quiserem ter o 11 na cabeça de chapa? – Estou com saudades de votar no 11 para governador – disse outro dia o deputado estadual João Amin, com a autoridade de quem é filho da deputada federal Ângela e do senador e ex-governador Esperidião Amin.

Será um dos muitos palanques que o PP precisará ajustar Brasil afora se receber o presidente Bolsonaro. Amin teceu um elogio a Ciro Nogueira na última sexta que é um sinal. Em entrevista à Rádio CBN Diário, o senador disse: “a ida do Ciro Nogueira para o Ministério da Casa Civil significa a pessoa certa no momento certo”. Em seguida, Amin argumentou que o novo ministro, em um regime de presidencialismo de coalizão, será decisivo para dar estabilidade ao governo Bolsonaro. Trocando em miúdos, será o estrategista no gabinete ao lado para barrar qualquer risco de impeachment.
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Os partidos de Bolsonaro:
PDC – 1988 a 1993
PPR – 1993 a 1995
PPB – 1995 a 2003
PTB – 2003 a 2005
PFL – 2005
PP – 2005 a 2016
PSC – 2016 a 2017
PSL – 2018 a 2019
“Não sei se o PP agregaria todos os bolsonaristas”
Estando certa a leitura de Amin, e tudo indica que sim, Ciro Nogueira prestará o serviço que levará Bolsonaro para os braços do PP. Voltando a Santa Catarina, fui buscar opiniões sobre todo esse cenário com o bolsonarista mais votado na eleição à Câmara Federal em 2018: o deputado Daniel Freitas (PSL), de Criciúma, vice-campeão na disputa passada com 142.571 votos.
– Eu vou acompanhar o presidente Bolsonaro, para onde ele for. Se ele for para o PP, para mim, particularmente, será muito confortável. É o partido onde comecei, onde construi minha base e pelo qual me elegi duas vezes vereador – lembra. – Sei da simpatia do presidente pelo PP. Esse movimento com Ciro Nogueira foi incisivo. Mas não sei se o PP em Santa Catarina agregaria todos os bolsonaristas – analisa o parlamentar. Ele cita casos de deputados estaduais que poderão, mesmo alinhados com o presidente, confirmar abrigo em outras legendas. – Os líderes do PP catarinense terão, se a filiação do presidente acontecer, que se alinhar ao PP nacional para que no Estado mais bolsonarista no Brasil não tenha ruídos nessa transição – resume.
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Daniel reconhece que a demora da decisão de filiação por Bolsonaro dificulta a missão dos deputados. – É natural que nossos deputados busquem o mesmo caminho do presidente, e ninguém pode se precipitar indo para um caminho errado – lembra. – Vou buscar conversar com o presidente em breve para ver se ele nos dá uma luz -, emenda.

Como fica a candidatura de Jorginho Mello
Sobre a disputa ao Governo do Estado, Daniel Freitas alinhou-se desde cedo contra a gestão de Carlos Moisés, embora eleitos pelo mesmo partido. – Não tem qualquer possibilidade de estarmos juntos – garante o deputado. – O senador Jorginho Mello é o nosso candidato, tem o PL, o PSL e PTB estarão juntos. Jorginho tem história, é um fiel escudeiro do presidente, é atuante. Depois do equívoco de 2018, quando elegemos alguém sem experiência, precisamos de um governador experiente – avalia. Para Daniel, os índices de Jorginho são maiores que os apontados pelas pesquisas.
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Mas o deputado criciumense tem uma opinião importante sobre o cenário das candidaturas ao Governo do Estado caso se confirme a ida de Bolsonaro para o PP. – Se o presidente for para o PP, isso vai mexer no jogo, quem sabe ao ponto de fazer o senador Jorginho repensar. É que o PP vai querer ter candidato ao governo – pondera Daniel, conhecedor dos progressistas, com os quais esteve filiado até pouco mais de três anos atrás. – Ou então o PP encampa a candidatura do PL com o senador Jorginho ao governo e lança um candidato ao Senado. Já tem o senador Amin, quem sabe mais um senador do PP – cogita.

Senador dos bolsonaristas: Hang ou Daniel
E Daniel Freitas não esconde que ofereceu seu nome para concorrer a senador. – Sou candidato natural à reeleição para deputado federal mas coloquei meu nome sim à disposição do presidente Bolsonaro para concorrer ao Senado. Mas se o Luciano Hang for candidato, ele tem 100% do meu apoio – afirma, categórico.
Daniel tem feito gestos de aproximação com Luciano Hang. Recentemente, o convidou para um almoço em uma vinícola de propriedade da sua família em São Joaquim. – Tive duas conversas com ele. Nesse dia, na vinícola, fiz o convite para ele ser nosso candidato a senador. Depois fui a Brusque e reforcei o convite. Ele disse que tem resistências da família e por conta dos negócios, mas ele sempre foi ativista pelo Brasil – observa. Hang não foi categórico na intenção de concorrer. – Mas depois dos resultados positivos das últimas pesquisas ele começou alguns movimentos a mais. O presidente Bolsonaro já nos disse que se o Luciano quiser ser candidato a senador, a vaga é dele e não se discute – completa.

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Sobre uma possível candidatura ao Senado, Daniel Freitas se disse surpreso com os 2% alcançados nas pesquisas. – Gostei do resultado – sublinha.
Com Jorginho governador, ex-prefeito de Imbituba no Senado
Se Jorginho Mello for eleito governador, abrirá vaga por quatro anos no Senado para um de seus suplentes. A primeira é a viúva do ex-governador Luiz Henrique da Silveira, Ivete Appel da Silveira (MDB). Daniel Freitas acredita que ela não assumirá o mandato. – Não acredito que dona Ivete assuma. Nesse caso, acredito que o senador deve ser o Beto Martins – responde.
Daniel lembra que Beto é ex-prefeito de Imbituba, pertencia ao PSDB e migrou recentemente para o PL. – Acreditamos que ele vá representar toda a agenda do senador Jorginho, de defesa do governo Bolsonaro e das nossas pautas – opina o deputado. Ainda assim, ele aponta que o bolsonarismo terá uma candidatura ao Senado em Santa Catarina.
Daniel foi cassado pelo PP
Antes de ser eleito deputado federal pelo PSL em 2018, Daniel Freitas foi duas vezes vereador pelo PP em Criciúma. Elegeu-se em 2012 com 2.125 votos e reelegeu-se quatro anos depois com 3.423 votos.
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Daniel teve um atrito com o PP em 2018. Em março daquele ano, migrou para o PSL, e os progressistas pediram a cadeira dele na Câmara. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) deu ganho de causa ao partido, e antes de posta em prática a decisão Daniel renunciou ao mandato. O ex-vereador alegava que havia duas vezes tentado espaço no PP para concorrer a deputado estadual e, sem aval, optou por trocar de legenda. Deu certo.
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O deputado federal tem a política no DNA. Seu bisavô, Diomício Freitas, foi deputado federal e suplente de senador entre os anos 60 e 70, tendo pertencido à UDN, Arena e PDS. Morreu em maio de 1981 após constituir um império: liderou empresas de mineração, cerâmica, comunicação, construção, hotelaria, reflorestamento e agropecuária.
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