É singelo definir que Carlos Moisés (Republicanos) perde o sono. E que Jorginho Mello (PL) pode fazer um brinde. E que Esperidião Amin (PP) precisa mirar no indeciso e bolsonarista. E que Gean Loureiro (UB) tem que focar no interior. E que Décio Lima (PT) necessita transpor o petismo. A leitura da pesquisa Ipec divulgada pela NSC na noite desta terça-feira (20) vai muito além.

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As traduções das reações de cada um dos cinco principais candidatos ao Governo do Estado ajudam a cristalizar a certeza do segundo turno e a incerteza de quem estará lá. Todos estão na briga. Contatos com fontes associadas às cinco candidaturas que mais pontuaram logo após a divulgação da pesquisa ajudam na construção do seguinte cenário: todos usam a noite de terça para rever algumas estratégias, tirar ideias da gaveta, engavetar parte de discursos e reforçar outros. Vai ter candidato revendo diálogo com bolsonarista, comemorando mas não tanto, batendo em possível futuro aliado, buscando novos rumos no interior e no eleitorado das periferias.

Inegável que está com Moisés o maior problema. Como atual governador, ele precisaria ter mais votos. Caberia a ele a vantagem segura mínima, inerente de quem tem a máquina, de quem é o gestor. Mas Moisés colhe um fruto indesejado (e previsível): o risco norteado pela negação (ao menos parcial) ao bolsonarismo, sempre lembrado por seus rivais no início do atual mandato. 

Na leitura de apoiadores próximos ao governador, sublinhadas logo após os números desta terça, a arrancada de Moisés para se garantir no segundo turno passa por uma conversa franca com o bolsonarista catarinense. Isso deverá ser visível nos próximos debates e nos últimos programas de TV e rádio. Afinal, se a queda de 3 pontos se arrastar daqui por diante, até o lugar no segundo turno pode estar em risco. 

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Há poucos dias, Moisés já havia dado o tom à tropa do MDB, exigindo pegada. Essa é a estratégia auxiliar. O afago aos emedebistas com a concessão do governo ainda não surtiu efeito. Um possível piscar de olhos em direção à esquerda, especulado por muitos, não está momentaneamente no radar da equipe do governador. Calcula-se o risco que essa operação possa ter, face ao antipetismo que freia Lula e impulsiona Bolsonaro no estado.

A comemoração de Jorginho Mello é óbvia, natural mas não plena. Pelo seguinte: quem é próximo do senador disse sem ressalvas, em seguida da publicação dos números do Ipec, que esperavam mais. Que o salto de 4% é salutar, positivo mas não representa tudo. A sacada da Universidade gratuita via Sistema Acafe funcionou, e alguma outra aposta do gênero vai pintar, pelo que é sinalizado nos bastidores. A cola em Bolsonaro e o jogo das redes sociais estão no caderno da equipe do senador. A meta é a garantia no segundo turno sem solavancos com outros bolsonaristas na reta final, já pensando nas conciliações de palanques para a disputa decisiva.

Tanto quanto Jorginho, Esperidião Amin quer Moisés como adversário no segundo turno. Por isso, a artilharia progressista continuará focando na experiência do ex-governador em detrimento do candidato do PL. Quem é próximo a Amin esperava algum crescimento que o mantivesse na margem de erro com Jorginho, o adversário escolhido agora para ser possível aliado depois. Mas faltou combinar com o eleitor pesquisado. Não se surpreendam com possíveis elevações de tom de Amin em relação a Jorginho pois, para os progressistas, esse mata-mata vale um lugar na rodada final.

Mas Gean não pode ser desconsiderado. Longe disso. Em números absolutos, foi quem mais cresceu: 6%. Encostou em Amin e, numa tendência de crescimento, poderá atropelar. A maior desvantagem momentânea do ex-prefeito de Florianópolis pode se tornar um trunfo: consolidado em seu eleitorado da Capital e arredores, o que confere um bom oxigênio, Gean focará na estadualização. Segundo fontes da campanha, a estratégia tem dois rumos: colar nos bons números de Raimundo Colombo (o líder ao Senado) nas regiões onde o ex-governador prepondera, e usar os candidatos a deputados, das nominatas estadual e federal. No discurso, Gean segue focado nas fraquezas do governo Moisés e tentando, sutilmente, driblar a nacionalização do debate. Afinal, é no visual o menos bolsonarista dos bolsonaristas, mas naturalmente conversa com esse eleitorado, decisivo no cenário catarinense.

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Décio Lima esperava mais. E não tem muita alternativa a não ser apostar em algum salto de Lula no estado. É o mais nacionalizado dos candidatos, apostou pesado nisso desde o primeiro debate e assim continuará. Não arredará dessa estratégia. Mas, mesmo em uma cena não tão empolgante, cresceu 4% (o mesmo que Jorginho, só aumentou menos que Gean). A aposta da coordenação de Décio está no corpo a corpo. Coordenadores estado afora que percorrem as ruas e buscam o eleitor de menor poder aquisitivo nos grandes e médios centros demonstram algum entusiasmo ainda, com o viés da crítica às políticas de Bolsonaro e o alinhamento de Décio com o voto de contraponto ao Governo Federal. 

E todos miram no debate da NSC no dia 27. Lá será o grande tira-teima.

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