Seria apenas mais um de tantos vídeos abrindo votos para governador e presidente. Mas o anúncio feito pelo principal prefeito que o PSDB tem em Santa Catarina carrega vários significados. Afinal, Clésio Salvaro é daqueles que “não prega sem estopa”.
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O mandatário de Criciúma faz questão, no vídeo compartilhado na noite desta quinta-feira (1), de rasgar elogios a Esperidião Amin (PP) e pedir voto para Jair Bolsonaro (PL) por uma razão muito simples: quer plantar agora para colher em 2026.
– Algumas pessoas me perguntam, tu estás com o Esperidião? – iniciou. Na resposta, ele lembrou o currículo do progressista enquanto prefeito, deputado, senador e governador, enfatizando que Amin “não responde a nenhum processo de corrupção”. Em seguida, sublinha obras de governos do progressista na região de Criciúma e completa citando parcerias de ambos quando o hoje prefeito de Criciúma era deputado estadual. Em seguida, abre o voto para Bolsonaro e arremata citando o slogan da atual campanha do ex-governador.

A leitura óbvia é a do natural apoio, consumado pela chapa que teve Salvaro na cabeça da articulação. O prefeito tem grande ingerência na campanha. Indicou pessoas de confiança para postos-chave e é o mais próximo conselheiro de Amin. E já tem dele o compromisso público de que, caso eleito, não buscará a reeleição. Logo, abre o caminho para a desejada retribuição dentro de quatro anos.
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É voz corrente, também, que em um eventual governo Amin o hoje prefeito de Criciúma terá espaço prestigiado. Isso a partir de 2024, quando Salvaro terá encerrado seu décimo segundo ano à frente da maior prefeitura do Sul catarinense.
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E o aceno a Bolsonaro?
Em 2018, Salvaro fez campanha para o então tucano Geraldo Alckmin. Caminhou com ele pela região, colou adesivo no peito e pediu votos. Participou do naufrágio tucano naquela disputa. No segundo turno, antipetista de carteirinha que é, votou em Bolsonaro. Sem surpresas, nem ênfase.
E sem tanta ênfase também ao presidente seguiu durante os anos seguintes. Mas agora, ao contrário de quatro anos atrás, Salvaro não demonstra qualquer constrangimento em ignorar o seu partido na disputa nacional. Afinal, o PSDB está com Simone Tebet (MDB), tem a tucana Mara Gabrilli como vice. O prefeito passa batido nesse detalhe partidário e, no vídeo da noite desta quinta, estreia como um eleitor confesso de Bolsonaro.

O gracejo mira bolsonaristas de Santa Catarina com os quais, naturalmente, o tucano espera contar em seu projeto futuro. Entre esses seguidores do atual presidente, o fraternal amigo João Rodrigues (PSD), com quem compôs uma suposta chapa há alguns meses mas que não decolou do campo das especulações fomentadas por ambos.
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Hoje, os prefeitos de Criciúma e Chapecó, com enfoques não muito diferentes visando o futuro (o chapecoense sonha tanto com a Agronômica quanto o criciumense), são parceiros em chapas distintas. Rodrigues coordena a campanha de Gean Loureiro (União Brasil). Conforme o que a urna apontar dentro de um mês, não será surpresa se Salvaro e Rodrigues encontrarem-se no mesmo palanque. É até provável, conforme os postulantes vivos na disputa.
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“Em 2028 eu volto”
Para despistar o lance desta quinta, houve o gesto da véspera. Na noite de quarta, em outro vídeo, Salvaro disparou um torpedo contra o Sindicato dos Servidores Públicos de Criciúma e Região (Siserpi). Ao passar defronte à sede, próxima ao Paço Municipal, gravou um vídeo no qual criticou o “Salvarômetro”, uma contagem regressiva montada pelos sindicalistas para contar os dias que faltam para o fim do governo Salvaro. É que o prefeito e a categoria vivem às turras, e não é de hoje.
– Eu vou indicar em 2024 um candidato a prefeito daqueles bons, e se ele afrouxar em 2028 eu volto. Aqui não tem moleza. No nosso governo, servidor que gosta de trabalhar é bem valorizado -. A promessa de Salvaro, além de alimentar a fogueira contra esquerdistas e opositores locais, tem ares de despiste mas também de vaticínio. Afinal, se toda a estratégia não funcionar, o hoje prefeito nem titubeia: lança-se em 2028 na mesma disputa da qual já participou em 2004, 2008, 2012, 2016 e 2020. Isso, claro, se não estiver despachando por algum gabinete que julgue mais interessante em Florianópolis.
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