O expediente está longe de ser novo em Criciúma. Vem sendo regra, não é de hoje. O prefeito da hora tira uns dias de férias, dá chance ao vice e, em seguida, ao presidente da Câmara. Uma espécie de acolhida política para manter afinadas as bases, tanto as envolvidas nas alianças com os vices, quanto na amarração com o Legislativo.
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E o gesto se repete nesta segunda-feira (13). Às 10h, em ato no Salão Ouro Negro, o prefeito Clésio Salvaro (PSDB) renova a licença que iniciou na semana passada por mais 7 dias e o vice-prefeito Ricardo Fabris (PSD) formaliza o mesmo gesto. Assim, Fabris encerra a interinidade da última semana e concede os próximos 7 dias para o presidente da Câmara, vereador Arleu da Silveira (PSDB), ser prefeito interino.
A saída de cena de Salvaro por duas semanas veio, conforme alegação que antecedeu a transmissão do cargo para Ricardo Fabris, por “razões pessoais”. Mas a licença veio em boa hora, já que o prefeito vinha convivendo com a forte repercussão das suas atitudes no caso da demissão do professor da rede municipal de ensino acusado pelo próprio Salvaro de promover “viadagem” em sala de aula.
Mas, mesmo licenciado, o prefeito não se esquiva das polêmicas. Na última sexta-feira (10) Salvaro postou nas redes sociais uma crítica ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele cobrou que o presidente tome a vacina contra a Covid-19.
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Salvaro com Eduardo Leite
Pouco antes da licença, Salvaro cumpriu uma agenda no mínimo curiosa. Integrou comitivia do PSDB catarinense que foi até Porto Alegre formalizar apoio à pré-candidatura de Eduardo Leite à presidência da República. Acontece que o gesto veio poucos dias depois da polêmica envolvendo a demissão do professor em Criciúma e a curiosidade é que Eduardo assumiu recentemente, em rede nacional, que é homossexual.
Mas Salvaro tem feito questão, sempre que pode, de afastar qualquer sinal de homofobia que tenha recaído sobre sua postura no polêmico caso do professor. – Tem pessoas que até acham que o Salvaro é meio homofóbico. Esqueçam isso – disse o prefeito na noite de 26 de agosto, em um ato em Criciúma no qual recebeu o governador Carlos Moisés no lançamento de um pacote de investimentos.
– Esta cidade não caminha para a esquerda, não caminha para a direita, essa cidade caminha para a frente, ouvindo sempre os dois lados. Mas às vezes precisamos tomar as decisões. Não é fácil ser gestor de uma cidade. O prefeito passa a ser titular de todos os problemas que tem nela – completou.
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Os gestos com a licença
O vereador Arleu, que assume a prefeitura por uma semana nesta segunda, é um dos nomes do círculo mais próximo de Salvaro, e cogitado como um possível candidato à sucessão do prefeito em 2024. Já Ricardo Fabris é do PSD, partido fiel a Salvaro e que pode lançar o vice-prefeito de Criciúma candidato a deputado estadual no ano que vem.
Outros nomes que despontam no entorno de Salvaro para uma possível candidatura na próxima disputa municipal são o atual secretário de Saúde do município, o ex-deputado Acélio Casagrande (que poderá concorrer a deputado estadual em 2022) e a deputada federal Geovania de Sá, atual presidente do PSDB em Santa Catarina.
A lembrar, ainda, que Salvaro segue alimentando nos bastidores uma expectativa de ser candidato na eleição majoritária do ano que vem. Publicamente, ele segue avalizando o nome do ex-deputado Gelson Merisio para concorrer a governador, e que sua intenção é concluir o mandato de prefeito. Ele já reconheceu, em entrevistas, que “é jovem” e que “o futuro pode estar em 2026”, em uma clara sinalização de que possa buscar uma candidatura ao Governo do Estado no pleito futuro.

As licenças anteriores
No seu primeiro mandato de prefeito, a partir de 2009, Clésio Salvaro não praticou as licenças para que os presidentes da Câmara assumissem o Executivo. Os vereadores Edson do Nascimento (PSD) e Toninho da Imbralit (MDB) presidiram o Legislativo por dois anos cada um.
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Em 2013, quando deveria assumir pela reeleição conquistada na eleição do ano anterior, Salvaro foi condenado via Lei da Ficha Limpa e o vereador Itamar da Silva (PSDB) assumiu a prefeitura por 3 meses, até que uma eleição suplementar fosse realizada e o ex-vice-prefeito Márcio Búrigo (então no PP, hoje do PL), com a benção de Salvaro, conquistasse o mandato. Os dois romperam em seguida, e passaram de aliados próximos a inimigos na política criciumense.

Márcio Búrigo inaugurou efetivamente as oportunidades de rodízio na prefeitura. Em 2014, cedeu 7 dias à então vereadora Tati Teixeira (à época no PSD) que assumiu também por consequência de uma breve licença do vice-prefeito Verceli Coral (PSDB).

Em 2015, foi a vez do então vereador Ricardo Fabris (eleito pelo PDT mas à época no PSDB) ser prefeito por 1 semana. O vereador Daniel Freitas (então no PP, hoje deputado federal pelo PSL) presidiu a Câmara em 2016 mas não teve a chance de ser prefeito interino. No mesmo ano, Salvaro derrotou Márcio e voltou à prefeitura.
Em 2018, o prefeito cedeu 10 dias do comando do Município ao então vereador Júlio Colombo (PSB, falecido em abril, vítima da Covid-19). O mesmo gesto, pelo mesmo período, foi praticado em 2019 em prol do vereador Miri Dagostim (PP, hoje secretário de Educação do município) e em 2020 para o vereador Tita Beloli (PSDB, atual secretário municipal de Infraestrutura).
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