A agenda até era técnica. Mas, no fim das contas, muito mais política. O ministro da Saúde não poupou na munição para defender o governo do presidente Jair Bolsonaro na sua passagem por Criciúma e Sombrio na última sexta-feira (18). E o melhor (para ele): sem réplicas. Pelo contrário. Com quem compartilhou espaços, muitos aplausos.
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– Estamos perto de tirar as máscaras – referiu Marcelo Queiroga a certa altura, em discurso de 12 minutos na inauguração da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Rio Maina, distrito de Criciúma. Mas de pronto ele saltou da crise sanitária para a pauta eleitoral: – e depois vamos desmascarar os mascarados de sempre que impediram e impedem ainda hoje o progresso do Brasil -.
E foi além. – Não podemos deixar essa gente voltar – convocou. – Já sabemos o que fizeram quando estiveram no poder -, relatou. Daí, Queiroga fez uma relação entre governos passados e o fechamento de 40 mil leitos de UTI, dos quais 22 mil foram, conforme Queiroga, reabertos na atual gestão.

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“O mito te demite”
Queiroga abriu a falar com uma menção direta ao prefeito Clésio Salvaro. – Você foi no meu gabinete no dia 4 de janeiro me convidar para estar aqui. E eu estava lá, trabalhando, pois se não trabalhar, o mito te demite -, disparou, provocando gargalhadas no ambiente lotado por lideranças políticas e comunitárias de Criciúma.
Em seguida, citou a advogada e jornalista Júlia Zanatta, que foi adversária de Salvaro na eleição de 2020 à prefeitura de Criciúma e mais ácida crítica do tucano. Próxima da família do presidente, ela é uma dos apostas dos Bolsonaro para a eleição a deputada federal. Outra prova que Queiroga chegou em Criciúma munido de um afiado discurso político, ciente dos terrenos que precisava demarcar no Sul do Estado. – Eu falei com o presidente Bolsonaro, minha amiga Júlia Zanatta que também integra o nosso governo, e ele pediu que trouxesse o abraço dele para vocês – referiu.

Respeito às crianças
O ministro, então, fez comentários sobre conservadorismo e corrupção. – O governo do presidente Bolsonaro é um governo conservador – disse. – O nosso compromisso é com a destinação apropriada dos recursos públicos. Não há nenhum ministro, nenhum auxiliar direto do presidente acusado de atos de corrupção – emendou, cativando mais aplausos.
Entremeando as falas políticas com alguns dados técnicos (mas priorizando a política), Queiroga fez até menção ao que chamou de inocência das crianças em sala de aula, trazendo à baila uma pauta comportamental e até da educação. – Esse governo conservador também tem compromisso com a vida, desde a sua concepção. É um governo que tem compromisso com a inocência das crianças na sala de aula. É um governo que tem compromisso com a dignidade da pessoa humana – sublinhou.
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Na sequência, Queiroga elencou o acréscimo de R$ 100 bilhões em investimentos no SUS em 2020 e 2021 “para o ministério apoiar os estados e municípios, cujas cores são verde, amarelo, azul e branco, cores da nossa pátria amada, Brasil”. Mais uma oportunidade que o ministro não deixou escapar.

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“Quem aqui tomou vacina?”
Em dois momentos, Queiroga tirou proveito da aglomeração que o cercava para perguntar: “quem aqui já tomou vacina?”. Se alguém não levantou a mão, não levantou discretamente. E olha que havia algum que outro antivacina nas cercanias do ministro naquela manhã de sexta em Criciúma. – Todas essas vacinas foram adquiridas pelo governo do presidente Bolsonaro com os recursos do povo brasileiro. Essas vacinas só tem um dono, o povo do Brasil, que vão ajudar a por fim no caráter pandêmico da Covid-19 – declarou Queiroga.
Ainda sobre Covid, ele pontuou agradecimentos aos seus colegas profissionais da saúde e prestou solidariedade às famílias “dos mais de 630 mil brasileiros que perderam a vida”. Citou, ainda, compromisso com o atendimento aos que sofrem com sequelas da contaminação pelo coronavírus.
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O ministro avançou até à pauta social, tecendo elogios ao auxílio emergencial, “o maior programa social realizado por um governo durante a pandemia”, defendeu. – Agora, em 2022, vamos dobrar a dose. No Auxílio Brasil, nenhum brasileiro vai receber menos de R$ 400 – declarou.

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Narrativas falsas
E recorreu ao “reconhecereis a verdade e a verdade vos libertará” para convocar os aliados a defender o governo Bolsonaro. – Sabemos que esses que ficam por aí disseminando narrativas falsas, a população brasileira não acredita neles. E nós vamos trabalhar duro, andar por esse Brasil, o presidente Bolsonaro já deixou claro para os ministros, mais Brasil e menos Brasília. Não quer ministro trancado em gabinete, visitando UPAs e hospitais – apontou. – O presidente Bolsonaro não quer ministros visitando hospitais de luxo que atendem a elite de São Paulo – bateu.
E arrematou com uma provocação de dúbio sentido sobre vacina: – nós estamos acabando com a praga da corrupção. Todos os integrantes do governo Bolsonaro se vacinaram contra a praga da corrupção -.
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Tucanos na plateia do ministro
Importante referir que parcela substancial da numerosa plateia que acompanhou Queiroga nesse ato na nova UPA de Criciúma não é necessariamente um seguidor do seu discurso. O prefeito Salvaro foi eleitor de Eduardo Leite nas prévias do PSDB e demonstra estar fechado com o voto em João Doria.
Citado várias vezes por Queiroga, o ex-secretário de Estado e atual titular da Saúde em Criciúma, Acélio Casagrande, é cristão-novo no ninho tucano e vai no embalo de Salvaro. Cabe lembrar que o prefeito de Criciúma é o coordenador do grupo que definirá o destino do PSDB na eleição estadual, e ele tem sido cada vez mais entusiasta de uma aliança com Carlos Moisés. Até o abrigo no tucanato já foi oferecido pelo grupo ao governador. Tudo indica que estarão no mesmo palanque e, obviamente, longe de Bolsonaro.

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