O Esporte Clube Metropol era o grande de Santa Catarina daquela época. Tricampeão estadual nas temporadas de 1960, 61 e 62, contava com o brilho e os gols de Nilzo. O grande atacante, natural do Rio de Janeiro e que encantou em Criciúma, chamou a atenção do Santos que o buscou no Sul catarinense em 1963. Como parte do pagamento pela compra do jogador, quase que Pelé jogou em Criciúma. A lembrança veio à tona com a morte do Rei do Futebol nesta quinta-feira (29).
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– O Nilzo foi vendido para o Santos, e o pagamento era de 18 milhões de cruzeiros – lembra o jornalista Zé Dassilva, que contou a história no livro “Histórias que a bola esqueceu”, que narra a trajetória do Metropol.
– Parte do pagamento combinado pelo Santos com o Metropol viria da renda de um amistoso que eles iriam fazer em Criciúma – recorda. A grande aposta era que, com a vinda de Pelé, que já era a grande estrela do Peixe àquela altura, faltaria espaço no estádio Euvaldo Lodi. O amistoso até aconteceu, em 8 de fevereiro de 64. Mas o Rei não apareceu.
Alegando lesão de Pelé, o Santos jogou em Criciúma desfalcado do craque, o que frustrou os torcedores do Metropol e o público de Criciúma. – O Pepe, que era ponta esquerda do Santos, me disse em uma entrevista que realmente o Pelé tinha se machucado, não era falcatrua – sublinhou Zé Dassilva.
Mas a dúvida naquele fevereiro de 64 só foi dirimida quando o avião trazendo a delegação do Santos aterrissou no aeroporto Leoberto Leal. Coube ao padre Humberto Oenning, pároco do distrito de Rio Maina, torcedor e uma espécie de capelão do Metropol, checar se o passageiro ilustre encontrava-se entre os atletas do time visitante. – Quando o avião chegou, todos estavam ansiosos. O padre entrou no avião para checar e saiu fazendo o sinalzinho dizendo para o povo que ele não veio mesmo – detalhou.
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E a ida de Nilzo rendeu uma para o folclore do Santos depois. Ao longo de 64, na reserva de Pelé havia vários meses, o ex-atacante do Metropol chegou no técnico Lula e cobrou. – Seu Lula, sou o Nilzo, o matador do carvão, lá de Criciúma. Nunca fui reserva na vida. Então, o senhor decide: ou eu ou o Pelé? -. A resposta, todos sabem. Sem espaço no Peixe, rodou por Internacional, Comerciário de Criciúma, Ferroviário de Curitiba, voltou ao Metropol e encerrou a carreira no Avaí.
O dia em que Pelé não jogou em Criciúma foi uma das muitas histórias que rechearam o calendário do Metropol nos anos 60. O time criciumense desativou o futebol profissional em 1970, depois de cinco títulos estaduais, e não mais retornou. Hoje, joga no amadorismo e mantém categorias de base. No fim das contas, Pelé nunca jogou contra uma equipe do Sul catarinense.