Na projeção da população em 2021, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que Nova Veneza, no Sul de Santa Catarina, tinha 15.515 habitantes. Nos números prévios publicados na última semana de 2022, já contemplado o Censo em andamento, foram apontados 13.396 moradores na cidade, vizinha a Criciúma. Essa redução, de 13,65%, ajuda a ilustrar a revolta de muitos prefeitos da região carbonífera.

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– Eu não tenho a menor dúvida que esses números estão errados – defendeu o prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro (PSDB), que convocou uma reunião dos seus 11 colegas da Associação dos Municípios da Região Carbonífera (Amrec) e a coordenação regional do Censo do IBGE. – Vai no Google e busca os eleitores de 2020 e 2022 e vê a diferença. Não concordamos com queda da população, tem que usar os agentes comunitários de saúde para apoiar esses levantamentos. Temos números muito diferentes – afirmou.

Salvaro contesta também a população de Criciúma: 231.088, conforme o Censo. – Criciúma tem hoje, seguramente, mais de 245 mil habitantes – frisou. – A questão não é somente brigar por tamanhos de cidades, estamos falando de arrecadação, de retorno de impostos, e esses dados errados impactam diretamente na economia dos municípios – destacou.

Em reunião nesta segunda-feira (9) houve queixas ainda dos prefeitos de Forquilhinha, Siderópolis, Treviso e Morro da Fumaça, entre outros. Todos citam diferenças de algumas centenas ou milhares de habitantes entre o Censo e a realidade das administrações municipais.

– O Censo falhou muito – criticou o prefeito José Cláudio Gonçalves (PSD), o Neguinho, de Forquilhinha, que preside a Amrec. – Eles argumentam que falta material humano, faltam investimentos – explicou. – O IBGE tem o levantamento de todas as residências das cidades. Se em alguma o recenseador não é atendido depois de duas ou três tentativas, eles fazem uma média, e isso geralmente prejudica a população – citou Neguinho.

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Em Criciúma, condomínios proibiram o Censo

O coordenador do Censo na região, Gilmar Coelho, colheu as críticas dos prefeitos e explicou as dificuldades. Ele mencionou exemplos de Criciúma onde condomínios mobilizaram-se para não receber os recenseadores. – Em um deles, chegaram a fazer uma assembleia para vetar a presença do Censo, e aprovaram isso. Conseguimos depois entrar, com muita dificuldade. Em outro condomínio, não teve jeito, não nos deixaram trabalhar – lamentou.

Coelho respondeu a crítica do prefeito Salvaro, que usou o cadastro eleitoral como base para questionar. – Esse cadastro não é preciso, já que muitas pessoas residem em uma cidade e continuam votando em outra, isso é bastante comum aqui na região – salientou.

Os prefeitos se comprometeram em realizar campanhas nas suas comunidades para o atendimento aos recenseadores até o fim de janeiro, bem como motivar os ainda não entrevistados a ligar para o IBGE pelo telefone 137. – O Censo ainda não acabou, mas não acredito em mudanças substanciais nesses números até o fim do mês – observou Gilmar.

Nova Veneza já perdeu R$ 200 mil

Segundo apurou a Amrec, alguns municípios já estão sofrendo perdas econômicas com os dados do Censo. – Tem município que já perdeu R$ 200 mil de repasse do Fundo de Participação dos Municípios que está caindo na conta hoje – comentou o presidente da associação. Ele citava o caso de Nova Veneza, cujo impacto já vem atingindo diretamente os cofres da prefeitura.

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Outra preocupação na região é que o Tribunal de Contas da União (TCU) já homologou os resultados do Censo. – Sabemos que é difícil uma revisão, mas se todos os prefeitos do Brasil se mobilizarem, eles terão que ser sensíveis – arrematou Neguinho.

Se o ritmo de perdas for mantido, Nova Veneza poderá ter perdas de até R$ 3 milhões ao longo do ano. O prefeito em exercício, Élzio Milanez (PSD), que também responde pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, quer ir ao IBGE e ao TCU em Brasília levar as reclamações.

Os números

Conforme os dados levantados pelo IBGE no Censo em andamento, a região carbonífera está com 468.723 habitantes. São 231.088 em Criciúma, acréscimo de 5,3% em relação à projeção para 2021. A segunda maior cidade da região é Içara, com 64.456 habitantes, acréscimo de 11% sobre 2021. Abaixo, a população de 2022 e a diferença percentual em relação ao projeto para o ano anterior.

Total – 468.723
Criciúma – 231.088 (+5,3%)
Içara – 64.456 (+11%)
Forquilhinha – 31.692 (+14,7%)
Orleans – 23.531 (+1,5%)
Urussanga – 20.915 (-2,3%)
Morro da Fumaça – 18.687 (+3,2%)
Cocal do Sul – 17.241 (+1,6%)
Balneário Rincão – 15.880 (+20,9%)
Lauro Müller – 14.192 (-7,7%)
Siderópolis – 13.862 (-2,2%)
Nova Veneza – 13.396 (-13,6%)
Treviso – 3.783 (-5,3%)

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