É provável que a maior contribuição do vice-presidente da República ao governo encerrado à 0h deste domingo (1), tenha sido o discurso de 7 minutos que foi ao ar em rede nacional às 20h deste sábado (31). Em fala firme, bem concatenada, repleto de argumentos bem pontuados e sem escapar da autocrítica, Hamilton Mourão falou tudo o que Jair Bolsonaro deveria ter dito no começo de novembro, assim que o segundo turno acabou. – Mudamos de governo, não de regime – avisou Mourão. Disse o óbvio, mas o óbvio precisa ser dito.
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-Lideranças que deveriam tranquilizar e unir a nação em torno de um projeto de País deixaram com que o silêncio ou o protagonismo inoportuno e deletério criasse um clima de caos e de desagregação social de forma irresponsável – pontuou Mourão, oferecendo um chapéu que pode servir a vários, inclusive ao titular do governo do qual o general era o vice. Em seguida, frisou que “as Forças Armadas pagaram a conta” de tais irresponsabilidades antes citadas.
Mourão agradeceu os milhões de eleitores de Bolsonaro que, no fim das contas, não foram dele, já que o vice na chapa era outro militar, Braga Neto. O ex-vice elegeu-se senador pelo Rio Grande do Sul. – Ele convidou a população a se tranquilizar, convocando todos a “voltar à vida normal”, dando um claro recado a manifestantes que seguem diante dos quartéis, mesmo com Bolsonaro já nos Estados Unidos e um novo governo posto.
Para Mourão, caberá à oposição zelar pelo respeito à democracia e monitorar para que desmandos não ocorram. – A alternância de poder é saudável e deve ser preservada – frisou. E desfiou conquistas do governo Bolsonaro. Mencionou entregas na economia, digitalização da gestão, avanços na tecnologia da informação e nas privatizações de estatais além de uma “eficaz e silenciosa reforma administrativa”. Lembrou ainda que Bolsonaro apoiou empresas e os mais necessitados no ápice da pandemia de Covid-19, além dos estados e municípios.
Mourão salientou que fica o legado de um Brasil em ascensão econômica, com contas públicas equilibradas e “livre de práticas e sistemas de corrupção”. E não deixou de criticar, por tabela, o Judiciário, ao lembrar que “a consolidação da economia liberal” e outras conquistas foram “tão vilipendiadas por representantes dos três poderes”. Ou seja, até criticou o Judiciário, mas também apontou para Executivo e Legislativo.
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Definitivamente, Mourão foi o democrata que Bolsonaro não foi depois da eleição. Ele conseguiu concluir o governo como o sistema vigente pede. O ex-vice-presidente saiu maior com a fala oportuna na hora certa. Quem esperava que da sua voz fosse partir alguma ordem golpista, ficou evidente o compromisso de Mourão com a vida seguindo no Brasil, conforme apurado pelas urnas. Mourão explicou com clareza a Bolsonaro como um ex-presidente deve passar o poder ao próximo. Mesmo que antagonista.