O juiz Pedro Aujor Furtado Júnior, 50 anos, titular da 2ª Vara da Fazenda Pública de Criciúma, morreu por volta das 9 horas desta segunda-feira (12), por complicações relacionadas à Covid-19. O magistrado vinha lutando pela vida havia algumas semanas, internado no Hospital da Unimed.

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O Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) emitiu uma nota de pesar:

O Poder Judiciário de Santa Catarina (PJSC) comunica, com imenso pesar, o falecimento do juiz de Direito Pedro Aujor Furtado Júnior, 50 anos, ocorrido nesta segunda-feira (12/7), às 9h10, na cidade de Criciúma, no Sul do Estado de Santa Catarina, em decorrência das complicações causadas pela Covid-19. O velório será apenas para para familiares e amigos próximos, que serão informados em tempo.

Natural de Curitiba (PR), o juiz Pedro Aujor iniciou o exercício da judicatura em Santa Catarina em janeiro de 1998. Passou pelas comarcas de Videira, Blumenau, Araranguá, Sombrio, Jaraguá do Sul e, por fim, Criciúma, onde estava lotado na 2ª Vara da Fazenda Pública.

Na pandemia, o despacho polêmico

Há quase um ano, em fins de julho de 2020, chamou a atenção um despacho do juiz em um processo movido por um cidadão que queria o direito de andar pela cidade sem usar máscara, em meio à pandemia de Covid-19. 

– Fosse o impetrante o último e único indivíduo morador de Criciúma (ou afinal o último habitante do planeta terra, uma vez que se cuida de pandemia e como o próprio nome sugere trata-se de uma epidemia global) não haveria o menor problema para que o mesmo circulasse livremente sem máscara e ficasse exposto à Covid-19 (ou a qualquer outra moléstia legal transmissível) por sua livre e espontânea vontade, uma vez que não transmitiria seus males para quem quer que seja. Mas não é esta a realidade – escreveu em seu despacho, na ocasião.

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A prefeitura de Criciúma emitiu nota sobre o falecimento de Pedro Aujor. Nela, é lembrada a defesa que o juiz fazia do uso da máscara na pandemia:

O Governo do Município de Criciúma lamenta profundamente o falecimento do Dr. Pedro Aujor Furtado Júnior, juiz da 2ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Criciúma, em decorrência de complicações causadas pela Covid-19.

Natural de Curitiba (PR), o juiz Pedro Aujor iniciou o exercício da judicatura em Santa Catarina em janeiro de 1998. Defensor do uso de máscara, como proteção contra a pandemia, “por uma questão de ética coletiva e para proteger sua família, vizinhos, amigos e todos com quem cruzar”, deixa um legado de cidadania, conhecimento e honestidade.

O carinho dos colegas

Pedro Aujor tinha livre trânsito em todos os segmentos do Judiciário, não apenas na magistratura. Tanto que o seu quadro de saúde era acompanhado de perto por muitos dos seus colegas.

O promotor Alex Sandro Teixeira da Cruz compartilhou, logo após a notícia da morte do juiz, uma nota de solidariedade e carinho, representando o respeito dos que compartilharam momentos com o magistrado recém falecido.

Hoje se vai Pedro Aujor…

Nosso Pedro não foi apenas o jurista insuperável, o magistrado brilhante, o profissional exemplar. Para nós, que desfrutávamos de sua convivência diária e amizade de décadas, Pedro era aquele tipo de pessoa com quem a gente senta para conversar e não quer que a conversa acabe, daqueles que, quando estão conosco, a gente pede que o tempo não passe…

Foi, antes de tudo, um pensador além de seu tempo, um amigo incondicional e um ser humano encantador. Nossas discussões e reflexões jurídicas, políticas, sociais, filosóficas, musicais e futebolísticas vão ficar em minha memória pelo resto de meus dias. Pedro era a sabedoria em pessoa e fonte de inspiração e aprendizado para todos nós…

Agradeço a Deus por ter tido a oportunidade de haver, por tantos anos, desfrutado do convívio e da amizade desse lageano de coração maior do que mundo, flamenguista roxo e amigo como poucos.

Com toda certeza, hoje o céu está em festa, por receber essa alma generosa e cheia de luz.

Que seja recebido de braços abertos em sua merecida morada ao lado do Pai!

Ficamos nós, aqui, até chegar nossa hora, com o orgulho de poder tê-lo chamado de amigo, irmão, e com o compromisso de honrarmos seu imensurável legado…

A trajetória

Pedro Aujor era paranaense de Curitiba. Ainda na juventude, mudou-se com a família para Lages onde muito cedo, aos 15 anos, ingressou na Faculdade de Direito. Ainda jovem, alcançou a graduação e partiu para a Escola da Magistratura, tornando-se juiz em 1998. Dali por diante, passou por diversos municípios catarinenses. Foi juiz substituto em Fraiburgo, Blumenau e Araranguá, entre outras cidades, e titular em Sombrio, Araranguá e Jaraguá do Sul, chegando em Criciúma havia pouco mais de 10 anos. 

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Costumava dizer que seu sonho era se aposentar em Criciúma. Mantinha grande círculo de amizades na cidade, e era profundo conhecedor de música e ouvinte de rádio. Se dizia fã de Bob Dylan e lembrava, sempre com bom humor, a paciência da sua esposa, com quem estava casado havia mais de duas décadas pois, no período de magistratura, já havia feito 18 mudanças de endereço.

Na Justiça, era defensor da ampliação da estrutura. Vinha brigando pela conquista de novas varas para a região de Criciúma, e atuava na Turma de Recursos, analisando todas as pautas recursais de Imbituba a Passo de Torres. Gostava de enaltecer o quanto o Judiciário se dinamizou com a informatização, lembrando que “em nada se parecia com aquela Justiça romântica dos anos 80”.

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Entre os casos marcantes em Criciúma, exerceu papel preponderante na solução do caso Criciúma Construções, uma construtora que operou no município e na região e que passou por recuperação judicial sob a sua observação. O mais recente despacho de Pedro Aujor com repercussão pública se deu em meados de maio, quando determinou a suspensão de uma paralisação de servidores públicos em Criciúma.

A pandemia em Criciúma

Os óbitos mais recentes por Covid na cidade haviam sido registrados no sábado (10). No domingo (11) não houve vidas perdidas para o coronavírus, e o caso do juiz Pedro Aujor foi a morte de número 605 no município desde o início da pandemia.

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