A falta de um voto para a instalação de Comissão Processante contra o prefeito afastado Gustavo Cancelier (PP) segue mexendo com os ânimos em Urussanga, no Sul de Santa Catarina. Na terça-feira da semana passada (21) a instalação da comissão teve o apoio de cinco vereadores, quando eram necessários seis.

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Cancelier foi retirado do cargo no último dia 20 de maio por ser investigado na Operação Benedetta, da Polícia Federal, que apura possíveis desvios de recursos federais em obras públicas financiadas em Urussanga. Com a comissão atuando, o prefeito poderia perder o mandato, conforme os desdobramentos.

O vereador Luan Varnier (MDB), um dos cinco que votaram pela instalação da comissão, levou sua indignação à tribuna na noite desta terça-feira (28) de uma forma, digamos, inusitada, tirando o paletó e a gravata durante o seu discurso. – Eu só não tirei a camisa pois seria cassado – comentou, em contato com a coluna, logo após a sessão.

Como foi o protesto

Em tom elevado, Luan Varnier denunciou que “foi impedido de trabalhar” e que “a nossa Casa legislativa pode ser fechada, pois não tem mais prioridade de fiscalização”. Ele reclamava justamente do impedimento da montagem da comissão. 

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– Eu vejo aqui teatro – provocou. Em seguida, apanhou o telefone celular e disparou um áudio ao microfone. Era trecho de uma fala do vereador Odivaldo Bonetti (PP), presidente da Câmara que havia indicado, de antemão, que votaria pela abertura da comissão. Depois, mudou o voto, reconhecendo haver sido pressionado pela Executiva do seu partido. 

Na fala de Bonetti reproduzida por Varnier, o vereador do PP questiona: – você acha que o vereador fará uma investigação melhor que a Polícia Federal? -. E emenda: – vamos encurtar o caminho, ter acesso ao inquérito e vamos pegar as bases do inquérito. Aí sim, se tiver elementos, instala-se a Comissão Processante – afirmou o presidente da Câmara. Bonetti chegou a citar que a comissão seria onerosa para o município.

A partir daí, o vereador Varnier explodiu em raiva. – Foi dito que tínhamos que fazer uma comissão processante e hoje o presidente, da bancada do PP, vem e diz que tem que fazer uma CPI. Estão me achando com cara de otário? De palhaço? De marinheiro de primeira viagem? – indagou. O vereador do MDB acusou o presidente da Câmara de fazer o seu assessor jurídico consultar o advogado do prefeito afastado para elaborar um relatório do arquivamento do pedido de comissão processante.

– Dizer que não temos competência para fazer investigação e julgamento? Como nós não temos competência? Então, o que estamos fazendo aqui? – continuou Varnier. Daí, veio o ato culminante do discurso em tom de protesto. – Eu vou tirar o meu terno e estou indo para a minha casa. Eu não preciso mais estar aqui, e vocês também não – afirmou, arrancando o paletó e tirando a gravata, ainda na tribuna. – Nós ganhamos R$ 4,5 mil para não fazer investigação de um cara que está afastado com indício de corrupção. O que eu estou fazendo aqui? – perguntou o vereador do MDB.

Varnier comentou ainda que “a Polícia Federal, no seu relatório, diz que só em duas obras mais de R$ 600 mil foram desviados da prefeitura”. Inicialmente, a PF estava investigando um desvio de R$ 300 mil, mas anunciava que o montante geral das obras envolvidas nas apurações totalizava R$ 15 milhões de recursos captados pelo município. 

– Tem que quebrar o sigilo da sem-vergonhice – bateu Varnier, que encerrou sua fala criticando o partido do prefeito afastado. – Fazer média, eles fazem lá no grupinho da executiva do PP, aqui não – arrematou.

Outdoor citando vereadores contrários à Comissão Processante
Outdoor citando vereadores contrários à Comissão Processante (Foto: Divulgação)

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Como está o caso

A Operação Benedetta foi às ruas no dia 20 de maio. O prefeito e outras 13 pessoas entre servidores municipais, engenheiros e empresários de Urussanga e mais cinco cidades da região foram indiciados no inquérito concluído no último dia 13 e remetido à Justiça Federal.

A investigação concluiu que houve superfaturamento em diversos contratos de obras na cidade. Em dois desses contratos, os desvios teriam ultrapassado os R$ 640 mil. Entre as práticas delituosas apontadas pela PF estão formação de organização criminosa, sonegação, desvio de recursos, peculato e falsidade ideológica, e as penas sugeridas podem alcançar até 29 anos de reclusão.

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Alegando que o indiciamento aponta o fim das investigações, a defesa do prefeito está solicitando o retorno dele ao cargo. Em uma tentativa anterior, na semana passada, o Tribunal Regional Federal (TRF-4) determinou que o afastamento se estenda por mais 60 dias. Agora, uma nova consulta foi feita e a defesa de Cancelier está no aguardo de uma decisão que possa faze-lo voltar ao comando do Executivo. Enquanto isso, o vice-prefeito Jair Nandi (PSD) segue no exercício do mandato.

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