A sexta-feira é histórica para Santa Catarina. O Tribunal de Julgamento reúne-se virtualmente para determinar o destino político do estado: ou volta o governador Carlos Moisés ou consuma-se o primeiro impeachment de um governante na história catarinense, com Daniela Reinehr efetivando-se governadora até 31 de dezembro de 2022.
Continua depois da publicidade
E o sul catarinense está representado nesse momento decisivo. O deputado estadual José Milton Scheffer (PP) é um dos cinco parlamentares com direito a voto no tribunal misto. Na primeira votação, foram seis pelo afastamento de Moisés (os cinco desembargadores mais o deputado Laércio Schuster, do PSB), com Zé Milton e os colegas Valdir Cobalchini (MDB), Fabiano da Luz (PT) e Marcos Vieira (PSDB) posicionando-se pelo arquivamento do processo.
> Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo Whatsapp
Logo, falta um voto, em relação à rodada anterior, para que seja fato definitivo o impeachment. Assim, os votos dos alinhados contrários são determinantes. E como há lideranças do campo de Daniela que garantem que algum voto será virado a favor do afastamento de Moisés, essa curiosidade aumenta.
Zé Milton em silêncio
Por isso, também, a atenção redobrada sobre o voto do deputado sul catarinense. Zé Milton tem se mantido em silêncio, distante de holofotes. Há dois poréns para justificar um ou outro voto do progressista de Sombrio.
Continua depois da publicidade
O primeiro porém, seria da manutenção da esperada convicção anterior, de votar pelo arquivamento. E a explicação é simples. Zé Milton sempre teve uma postura alinhada a Carlos Moisés na Alesc, reforçada na “segunda gestão” dele. Quando Moisés voltou do primeiro impeachment, buscou dar maior dimensão política, evitando novos desgastes. E nesse alinhamento, buscou Zé Milton para seu líder na Alesc.
“Assumimos a convite do governador para ser a ponte entre o executivo e o legislativo e vamos trabalhar para melhorar a tramitação de projetos importantes para Santa Catarina. Bem como vamos articular junto ao Estado para tirar do papel importantes obras da nossa região”, disse Zé Milton na tarde de 12 de janeiro, logo após ter sido convidado pelo próprio governador para a liderança do governo no Parlamento.
Líder até o fim de março
Ele permaneceu na função, fiel a Moisés, até 30 de março, quando, em pronunciamento no plenário, desejou serenidade à governadora interina Daniela, que àquela altura voltava ao comando do estado. “Quando fui chamado pelo governador Carlos Moisés para assumir a liderança do governo, vim com a missão de construir um processo de reconciliação entre o governo, o parlamento e a sociedade catarinense. E trabalhei na busca do consenso e a promoção do bem comum”, discursou Zé Milton, na ocasião.
Desde então, Zé Milton tem se mantido discreto, nos bastidores.
E o PP?
Aí entram os componentes de uma segunda perspectiva, menos provável, de mudança de voto. Mas nessa matemática está o próprio PP. É visível que, para o partido, ficar no governo é importante, seja qual for o governo. Há o “PP com Daniela” e o “PP com Moisés”.
Continua depois da publicidade
Não será surpresa se setores do partido tenham pressionado Zé Milton, como representante da sigla no tribunal misto que hoje vota, no sentido de alterar voto e ajudar a consumar uma consolidação da governadora em detrimento de Moisés. E o movimento que Daniela fez no sentido do voto de Zé Milton foi claro, ao convocar o ex-deputado Leodegar Tiscoski para o colegiado, enquanto secretário de Infraestrutura.

Leodegar, ponte com Daniela
É que Leodegar sempre foi muito próximo de Zé Milton. São da mesma região, do extremo sul, e o deputado teve suas primeiras incursões na política por influência direta de Leodegar. Seria normal uma tentativa do agora secretário, investindo pelo voto do antigo pupilo. Mas esses supostos gestos são enfaticamente negados por Leodegar, que em público vem garantindo total liberdade de voto ao colega.
E há, ainda, o peso da posição partidária com foco na eleição de 2022. O projeto futuro do PP se viabiliza com Daniela governadora? Ou com Moisés? Há lideranças no PP almejando espaço como vice-governador, como é o caso do prefeito de Tubarão, Joares Ponticelli, mapeado para secundar uma chapa encabeçada ou pelo senador Jorginho Mello (PL) ou pelo ex-deputado Gelson Merisio (PSDB). Há uma leitura de que esse caminho seria mais viável com Daniela no governo. Mas o PP precisaria combinar isso com o deputado Zé Milton. E não parece haver essa disposição.
Pelo arquivamento
Logo, a expectativa (de momento) é que o único deputado do sul no Tribunal de Julgamento manterá seu voto original, colaborando para um possível retorno de Carlos Moisés. As respostas virão a partir das 9h. Santa Catarina estará atenta.
Continua depois da publicidade