Prefeito de Içara, no Sul de Santa Catarina, entre 2009 e 2012, e atual coordenador regional do MDB em Criciúma, Gentil da Luz foi condenado a 10 anos, 2 meses e 10 dias de prisão em regime fechado. A condenação veio à tona a partir de sentença de primeiro grau, do juiz Fernando Dal Bó, da comarca de Içara, como resultado de uma denúncia do Ministério Público (MPSC) e de investigações da Operação Moralidade, que apurou possíveis desvios na ordem de R$ 1 milhão.
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O caso veio à tona em 2012, com o cumprimento de mandados de busca e apreensão que causaram barulho em Içara naquele ano. Tanto que Gentil, popular e considerado “bom de voto” na política local, sequer buscou a reeleição. Aquele episódio atingiu profunda e bruscamente a carreira do ambicioso ex-vereador e ex-secretário regional que, a partir de então, não disputou mais eleições, embora alguns ensaios.
Na condenação pelo juiz Dal Bó constam prática de crimes de lavagem de dinheiro, fraudes em licitações, peculato, desvios e formação de quadrilha. Procurado pela NSC, Gentil não quis comentar o caso e apenas indicou o contato com o seu advogado, Ivo Carminatti, que, por sua vez, respondeu: – não existe prova nos autos que possibilite a condenação -. O advogado observou que fará um estudo mais aprofundado da decisão do juiz para então se pronunciar oportunamente.
Ex-prefeito ganha R$ 8 mil mensais na Alesc
Desde o início do processo da Operação Moralidade, Gentil permaneceu nos bastidores de campanhas do MDB. Em 2017 chegou a ser cotado para assumir a hoje extinta Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR) em Criciúma, o que acabou abortado justamente pela saia justa que o processo já gerava.
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No ano seguinte, Gentil anunciou a saída de um cargo que ocupava na Secretaria de Estado da Infraestrutura. Visava concorrer à presidência da Cooperaliança, cooperativa de energia elétrica de Içara. Acabou desistindo do projeto.
Em 2019, foi nomeado para um cargo na Assembleia Legislativa. No portal de transparência da Alesc, Gentil consta como comissionado da liderança do MDB. Em junho, recebeu R$ 8 mil brutos e, em seu relatório de atividades, são colocadas atividades políticas na região carbonífera, como visitas e reuniões em diversas cidades. Em 2020, o ex-prefeito cogitou uma candidatura a vereador em Içara, o que acabou não se concretizando.

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Nos bastidores do MDB
Em outubro de 2009, em outro processo, Gentil chegou a ser condenado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) à perda do mandato de prefeito, por suposta prática de caixa 2 na eleição do ano anterior. Acabou posteriormente inocentado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas o fato também ajudou a tumultuar a sua gestão.
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Gentil permaneceu, depois do seu mandato, distante dos holofotes nos desempenhos locais do MDB que, em 2012, no calor da operação do Gaeco, indicou Sandro Giassi Serafin para vice de Murialdo Gastaldon, então no PT. Murialdo, no auge do petismo e à margem de vínculos com Gentil, elegeu-se, vencendo apertada disputa contra Zé Zanolli (PSD). Zanolli era justamente o vice-prefeito de Gentil, eleito em 2008 quando filiado ao Democratas.
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Com o MDB de Gentil como vice de uma chapa, e o vice de Gentil como cabeça de outra chapa, ninguém assumiu o legado do tumultuado governo do emedebista naquela disputa de 2012. Poucos dias depois daquela eleição, o ainda prefeito Gentil anunciava o convite para o vice-presidente Michel Temer (MDB) estar em Içara, para inaugurar obras financiadas pelo PAC 2.

– Vamos fechar o governo inaugurando obras que por muitos anos foram grandes anseios – dizia Gentil, na ocasião. – O presidente Michel foi o maior responsável pela realização desses sonhos – citava. – Murialdo e Sandro assumirão uma prefeitura bem equilibrada e, assim como Michel Temer, também espero ser convidado para as próximas inaugurações – completava. A visita acabou não acontecendo.
Em 2016, com Murialdo já no MDB, a chapa pura, novamente com Serafin de vice, alcançou reeleição com boa margem sobre a hoje prefeita Dalvania Cardoso (PP). E novamente Gentil ficou fora do circuito.
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Eduardo Moreira critica Gentil
Em recente visita à região carbonifera, o ex-governador Eduardo Pinho Moreira, que tem natural ascendência sobre as lideranças do MDB, fez críticas públicas à coordenação regional do partido, por perdas de filiados e falta de ampliação nos quadros do partido. Embora não nominou, a crítica era endereçada justamente ao ex-prefeito Gentil da Luz, que é o coordenador regional do MDB.
– É necessário organizar o meu partido, que perdeu sustentação, perdeu pessoas e está havendo um distanciamento dos líderes, uma má condução do coordenador regional. Ele está estimulando a dissidência. Eu voltarei todas as semanas à região para aglutinar o nosso partido e definir candidaturas – disse Moreira, em uma entrevista à Rádio Som Maior.

Mais sobre a Operação Moralidade
Além de Gentil, houve outras 18 condenações, entre as quais da ex-secretária de Finanças do governo do ex-prefeito. Ela foi condenada a sete anos de prisão, também em regime fechado.
Quando desencadeada a Operação Moralidade, em junho de 2012, Gentil foi um dos primeiros a testemunhar e alegou inocência. Conforme o MPSC na época, eram 25 indiciados em um complexo esquema de corrupção e de desvio de dinheiro público, com obras superfaturadas em Içara.
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Houve interceptações de gravações comprometedoras, tanto do ex-prefeito quanto de vários dos demais envolvidos. Gentil tem direito a responder a condenação inicial em liberdade, a exemplo da ex-secretária e de outros 17 condenados, que contam com penas variáveis entre detenções mais breves, penas mais brandas e perdas de direitos políticos.
Os condenados em primeiro grau na Operação Moralidade:
Gentil da Luz, ex-prefeito – 10 anos, 2 meses e 10 dias de reclusão em regime inicial fechado, 53 dias-multa no valor de um salário mínimo vigente em novembro de 2011 e 46 dias-multa com referência ao salário mínimo de outubro de 2012
Micéia Luiz, ex-secretária de Finanças – 7 anos, 2 meses e 10 dias de reclusão em regime inicial fechado
Paulo César Balsan – prisão em regime semiaberto, 6 anos e 2 meses
Erasmo Balbinot – prisão em regime semiaberto, 5 anos e 8 meses
Semiaberto com possível substituição para penas restritivas – Alexandre Mangili (4 anos, 1 mês e 16 dias), Ronicaster Paes (4 anos e 6 meses), Jurê Bortolon (4 anos, 4 meses e 12 dias) e Fernando da Rosa (4 anos, 4 meses e 12 dias)
Aberto com substituição para penas restritivas – Josiane Pedra Borges (3 anos, 7 meses e 6 dias), Tarcísio da Luz Alves (3 anos, 1 mês e 10 dias), Hélio Recco (2 anos e 6 meses), Jorge Rodrigues (3 anos, 1 mês e 10 dias), Joel Antônio Casagrande (3 anos), Adilton Ricardo Tramontin (2 anos e 8 meses), José Ídio dos Passos (2 anos), Sandro Giassi Serafin (2 anos e 4 meses), Richard Evaldt (3 anos), Rosângela Teixeira Roldão (3 anos), Rodrigues Mendes (2 anos e 8 meses)
O prazo final para julgamento do processo em primeiro grau era 12 de julho, ou seja, a próxima segunda-feira. E o veredicto do juiz Fernando Dal Bó veio à tona nesta sexta (9).
O processo consta de 363 páginas, determina recuperação de R$ 449 mil aos cofres públicos de Içara e aponta perdas cargos e funções públicas ou mandato eletivo além de perdas de direitos políticos por oito anos aos citados.
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