– Fica tranquila, deixa tudo acontecer com calma -. Quase cochichando, doce, sábia e ao mesmo tempo firme, a mãe orientou a filha. – Porque essa morada aqui é provisória. A gente está aqui se preparando para a morada que é de verdade -. Assim, com ternura encobrindo profunda dor, que Maria Dal Farra Naspolini despediu-se de sua filha na noite da última terça-feira (25) no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

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A morte da jornalista Susana Naspolini abateu Criciúma. A terra onde ela havia nascido em 20 de dezembro de 1972 voltou a acolher a filha ilustre no fim da tarde da última sexta (28) para a sua morada final. – Como ela sempre quis – confidenciou a mãe. 

Acontece que, muito ligada ao pai, Susana sentiu fortemente a perda de Fulvio Naspolini, falecido em maio de 2021 aos 83 anos. – Ela ficou muito chocada com a perda do pai – lembrou Maria. – Eles conversavam todos os dias, as tardes deles eram de conversa – salientou. Susana dizia, com orgulho, que foi com Fulvio que aprendeu a controlar as despesas. – E ela disse, certa vez, que queria ser enterrada perto do pai. E esse dia chegou, ela acabou enterrada aqui, do lado do pai dela – destacou a mãe.

Maria (segunda vereadora da história de Criciúma, única vice-prefeita e professora aposentada) sempre lembrou que Susana escolheu ser jornalista muito cedo. – Tanto que, quando inscreveu-se pro primeiro vestibular, ela nem colocou segunda opção. E me disse que, caso não passasse, tentaria no outro ano de novo. Não precisou -. Assim, Susana partiu rumo ao sonhado diploma na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e, depois, a partir de exitosa trajetória na RBS TV (hoje NSC), tomou o rumo do Rio de Janeiro, onde celebrizou-se como repórter diferenciada que sempre foi.

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Susana ao lado da mãe, Maria, no dia em que ela recebeu homenagem na Câmara de Criciúma; de muletas estava Fulvio, o pai da jornalista
Susana ao lado da mãe, Maria, no dia em que ela recebeu homenagem na Câmara de Criciúma; de muletas estava Fulvio, o pai da jornalista (Foto: Câmara de Criciúma / 21.10.2016)

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Primeiro câncer aos 18

Mas a doença bateu à porta muito cedo. – Aos 18 anos foi o nosso primeiro encontro com o câncer. Daí o segundo, o terceiro, o quarto e no quinto ela não tinha mais forças – observou Maria. – Durante o tratamento ela teve uma metástase, pararam de novo e trocaram o tratamento, que acabou sendo devastador. A segunda quimio foi a tragédia anunciada – pontuou, lembrando capítulos que ela acompanhou do lado da filha.

Maria se surpreendia com a força que Susana moveu desde sempre. – Essa menina lutando, ela buscava energia não sei de onde, olhava para a gente, sorria. Só ficou de cama a partir do momento que não conseguiu mais, mesmo -. – Foram 11 dias de internação em São Paulo e infelizmente não deu mais – registrou. Nas homenagens no Rio de Janeiro, antes do sepultamento em Criciúma, uma certeza confirmada: – o que a gente mais ouvia das pessoas era de que a Susana era alegria para elas -.

Susana era catequista voluntária para adultos em paróquias do Rio de Janeiro. Numa delas, certa vez assustou o padre. – É que as pessoas estavam saindo da sala chorando muito. O padre, assustado, foi buscar saber o que havia acontecido. É que a Susana comovia as pessoas com o que dizia – observou a mãe, recordando diversos pontos dos livros “Eu escolho ser feliz” e “Terapia com Deus”, lançados pela jornalista nos últimos anos, narrando suas lutas contra o câncer.

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Susana com um de seus livros
Susana com um de seus livros (Foto: Reprodução / Redes sociais)

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Ela abriu mão da peruca

Nos últimos tempos, com o tratamento mais rigoroso que a fez perder os cabelos, Susana foi convencida, a contragosto, a usar uma peruca. – Foi no segundo tratamento, caiu o cabelo, todos indicando para comprar peruca, ela foi colocar a peruca e disse que não gostou. Foi ao supermercado, reclamou da coceira e, quando voltou, tirou e guardou. E nunca mais usou. Disse que era careca e que as pessoas a teriam que aceitar assim. Essa era a Susana -.

Maria contou que sua filha era assediada o tempo inteiro. – Pois enfrentava a doença com facilidade, e isso serviu de exemplo para muita gente -. Mais um exemplo de um fator que sempre pautou Susana: a determinação. – Ela viveu tudo com intensidade. Se a gente fazia uma programação que não dava, ela nos cobrava e argumentava. Ela era determinada a fazer o que achava certo – emendou. 

Maria recebendo apoio no velório de Susana na sexta-feira, em Criciúma
Maria recebendo apoio no velório de Susana na sexta-feira, em Criciúma (Foto: Marco Antônio Medeiros / Rádio Cidade em Dia)

Uma das preocupações agora é da avó Maria. Acontece que Julia, a neta, tornou-se órfã em menos de uma década. Seu pai, o narrador esportivo Maurício Torres, faleceu em 2014. Agora, sem Susana, Maria deixou sua casa, a família e Criciúma de portas mais que abertas para a neta. – Julinha sempre interagiu muito bem conosco e conhece bem Criciúma – apontou a avó, que contou ainda que Susana morreu de mãos dadas com Julia.

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– A Susana era minha pequena guerreira, minha pequena grande gigante. Ela está em casa agora – finalizou.

O sepultamento de Susana na sexta-feira em Criciúma
O sepultamento de Susana na sexta-feira em Criciúma (Foto: Rachel Schneider / NSC TV)

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