Medo? Eles não têm. Perícia? Sim, até surpreende. Como, sem os recursos e, teoricamente, sem o conhecimento, bandidos conseguem atacar a rede elétrica e levar os fios assim, com tanta frequência e tranquilidade? Essa nova modalidade de crime, cada vez mais recorrente nos maiores centros urbanos, repete-se em Criciúma. E não poucas vezes.

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– Não aguentamos mais – conta um comerciante do Bairro Pinheirinho. Essa região é a que mais sofre com as frequentes faltas de energia por consequência dos fios levados. 

E isso acontece das mais diversas e surpreendentes formas. – Outro dia, o vizinho chegou em casa e a caixa de energia não estava mais ali – recorda o mesmo comerciante, que lembra ainda do dia em que o bairro ficou sem telefonia. – É que levaram a caixa inteira, onde havia todas as ligações. Levaram por causa do metal da caixa e do cobre dos fios que haviam ali – analisa.

A venda fácil dos fios de cobre é um atrativo para os criminosos que se multiplicam. E multiplicam suas ações. Que o diga o morador de rua apanhado depois de cometer duas vezes o mesmo delito em três dias. Ele atacou uma igreja em obras no Bairro Santo Antônio, na quinta-feira (23) e um colégio no Bairro Santa Bárbara neste sábado (25).

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Parte dos fios furtados em ocorrências nos últimos dias em Criciúma
Parte dos fios furtados em ocorrências nos últimos dias em Criciúma (Foto: Polícia Militar / Divulgação)

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Na ocorrência de quinta-feira, a Polícia Militar foi acionada depois que um vizinho viu dois homens em atitude suspeita na área de uma igreja evangélica em obras. Um deles foi localizado e confirmou que agiu em parceria com um morador de rua, que conseguiu fugir. Foram recuperados 6 quilos de fios prontos para serem levados.

Pois o mesmo morador de rua agiu neste sábado, e desta vez foi apanhado. O alarme do Colégio Adventista disparou, os policiais apareceram e visualizaram um homem com uma mochila na Rua Henrique Lage, perto da escola. Na mochila, 1,6 quilo de fios, retirados de uma caixa distribuidora de energia.

Ainda neste sábado, mais uma ocorrência, desta vez com autoria ainda ignorada. Por volta das 12h30min, um homem foi flagrado em um pavilhão, dizendo que estava em busca de água. Mas ele carregava 5 quilos de fios. Conseguiu fugir, trocou socos com um vigilante no caminho e, mais adiante, foi apanhado pela PM e preso.

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Nem cerca elétrica afasta bandidos; depois, até ela foi levada
Nem cerca elétrica afasta bandidos; depois, até ela foi levada (Foto: Denis Luciano / NSC Total)

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Voltando ao caso do comerciante do Bairro Pinheirinho, ele conta mais dos prejuízos que os bandidos vêm causando. – Muitas vezes o freezer do supermercado amanheceu desligado, eles não podem ver um aparelho de ar condicionado que arrancam todos os fios – detalha.

E tem mais: nos fundos de um supermercado cuja loja é bastante visada pelos ladrões, foi construída uma sede social para os funcionários. Os bandidos arrancaram toda a fiação e até o que serviria para proteger o local: nem a cerca elétrica escapou.

Lideranças da região estão em busca de ajuda. Reuniões já foram promovidas na PM e até na prefeitura. A PM alega que, geralmente, esses criminosos são moradores de rua que usam o resultado das vendas dos fios para consumir drogas.

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Em uma rua do Bairro Pinheirinho, onde havia uma caixa de telefonia só sobrou o suporte
Em uma rua do Bairro Pinheirinho, onde havia uma caixa de telefonia só sobrou o suporte (Foto: Denis Luciano / NSC Total)

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– Em geral, esses crimes são circunstanciais – avalia o tenente coronel Sandi Sartor, comandante do 9o Batalhão de Polícia Militar de Criciúma. – É muito difícil a abordagem preventiva. E a reincidência é muito comum. São pessoas com 30, 40 passagens pela polícia por furto – observa. 

Em julho, um posto de saúde ficou às escuras no Bairro Nossa Senhora da Salete, resultado de ação de bandidos que levaram os fios. Na ocasião, a Celesc confirmava a recorrência dos delitos. – Eles tem muita habilidade em manusear esses fios – destaca o gerente da Divisão Técnica da Celesc em Criciúma, Zulnei Casagrande. 

Não há dados oficiais do prejuízo, mas a Celesc calcula que em média, por ação, os bandidos levam de 30 a 40 quilos de fios, o equivalente a 100 ou até 200 metros. Em áreas rurais, já há registro de furtos de transformadores de energia. Houve um caso neste ano no distrito de Caravaggio, em Nova Veneza, onde os criminosos tentaram levar um regulador de alta tensão com mais de 300 quilos.

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O problema em SC

A Polícia Civil deflagrou, durante a semana, a Operação Apolo, com foco no combate aos furtos e receptação de fios. A ação ocorreu em 28 municípios de todas as regiões. A Celesc aponta que já registrou mais de 2,3 mil ocorrências de furtos qualificados em suas instalações ao longo de 2021. 

A operação alcançou 168 estabelecimentos que compram e vendem fios de cobre, autuando 10, apreendendo 1,8 mil quilos do item e executando 6 prisões. Embora os índices alarmantes em Criciúma, a Polícia Civil apreendeu mais fios de cobre em Itajaí, Blumenau, Balneário Camboriú e Mafra.

Ação foi realizada durante a semana em 28 municípios
Ação foi realizada durante a semana em 28 municípios (Foto: Polícia Civil / Divulgação)

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