As transições de governo em municípios nem sempre são pacíficas. Não é fora do comum que sucessores reclamem de antecessores, seja por conta da herança, seja por problemas não resolvidos. A pequena Treze de Maio, com seus 7 mil habitantes e distante 32 quilômetros de Criciúma, tem um impasse vindo à tona.

Continua depois da publicidade

> Receba as notícias de Santa Catarina pelo Whatsapp

E olha que em Treze de Maio a prefeitura trocou de lado político, mas envolveu familiares. O então prefeito Clésio Bardini de Biasi, o Keke, repassou o mandato ao seu primo irmão Jaison Bardini, o Neném. Keke, do PP, era reeleito e não conseguiu fazer o sucessor. Daí seu primo Neném, do MDB, ganhou a eleição.

Neném, à esquerda, com o seu vice recebendo a chave da prefeitura, depois da posse
Neném, à esquerda, com o seu vice recebendo a chave da prefeitura, depois da posse (Foto: Divulgação)

Problema na educação

A atual secretária de Educação, Graziela da Silva Nandi, reclama do que chama de caos deixado pela administração anterior. – Não era assim que esperávamos encontrar os almoxarifados das escolas – lamenta. Graziela registrou um boletim de ocorrência virtual na Polícia Civil para notificar que encontrou almoxarifados vazios.

Ela assumiu a Secretaria de Educação em 3 de fevereiro e conta que, desde então, tem percorrido as oito escolas da rede e vem se deparando com surpresas nada positivas. – Fizemos um processo seletivo simplificado emergencial para a contratação de professores e merendeiras para começarmos assim, com estoque vazio e muita coragem – cita. Graziela lembra que estranha ainda mais o esvaziar dos estoques por conta da pandemia de Covid-19, que impôs aulas remotas ainda em 2020.

Continua depois da publicidade

Uma das grandes preocupações é o não encaminhamento, pela sua antecessora, da licitação para aquisição dos kits escolares de uniformes dos estudantes. – É um processo moroso e burocrático, que deveria começar no ano anterior – reclama a secretária.

> Médicos alertam para situação crítica do Samu: “hora de resolver”

Além dos uniformes, faltam materiais para o trabalho nas escolas como, por exemplo, folhas sulfite. – Temos informações de que, no final do ano, a gestão anterior doou tudo o que havia nos estoques das escolas, tendo espalhado esses itens nos corredores para quem quisesse pegar. Isso é inadmissível – aponta

Alguns dos problemas, segundo a secretária, seriam no Centro de Educação Municipal
Alguns dos problemas, segundo a secretária, seriam no Centro de Educação Municipal (Foto: Divulgação)

Graziela registra, ainda, que fios do sistema de vigilância estavam cortados no forro de uma escola. – E computadores foram formatados, computadores onde estavam os documentos das escolas, dados dos funcionários, documentos que integram a organização das escolas – menciona. Até e-mails de escolas foram cancelados e páginas de redes sociais excluídas. – Seriam essas documentações posses particulares de algum servidor, para tomarem tal atitude – indaga.

Ex-prefeito responde

O ex-prefeito Keke minimizou as denúncias. – Sobre o problema dos computadores e dos documentos, quando eu soube chamei a nossa ex-secretária, ela procurou a ex-diretora da escola e tudo já foi resolvido – garante.

Continua depois da publicidade

Sobre o almoxarifado vazio, o ex-prefeito garantiu que em nenhum momento houve distribuição de material à população no fim do ano, como alegado pela atual secretária. – Isso é coisa de oposição, é que eles não estão conseguindo fazer as coisas da prefeitura e ficam dizendo isso – dispara.

Quando questionado sobre as licitações que não teriam sido adiantadas por sua gestão, Keke refere problemas ocorridos na época da transição. – Perdemos a eleição no dia 3, no dia 4 eu chamei o novo prefeito, que é meu primo irmão, para ir até a prefeitura e levar a equipe dele, para a gente fazer uma transição. Eles não fizeram, demoraram para nomear a secretária de Educação, e agora estão com problemas. Eles tiveram três meses para fazer a transição conosco e não foram atrás. Agora, ficam procurando o pessoal da nossa equipe para ver como fazer as coisas – relata.

Ex-prefeito Keke, à esquerda, foi presidente da Amurel em 2020
Ex-prefeito Keke, à esquerda, foi presidente da Amurel em 2020 (Foto: Divulgação)

Keke conta, ainda, que recentemente advertiu a atual gestão sobre o cadastro de Treze de Maio no Ministério da Saúde. – Eu soube que o meu nome ainda estava cadastrado lá no ministério como prefeito. Eles não fizeram o cadastro do prefeito novo, isso poderia impedir a cidade de receber recursos. Tive que ir na prefeitura e levar documentos para que eles corrigissem isso – alega o ex-prefeito.

Centro de Educação pediu materiais

Para atenuar a crise dos materiais alegada pela secretária, a direção de um Centro de Educação Municipal solicitou aos pais a doação de folhas sulfite. – Não era o que a gente queria. Foi uma forma emergencial que encontramos para não deixar nossos alunos sem materiais – aponta Graziela. – Nada foi feito fora da legalidade. É um ato voluntário e comum nas escolas. Não obrigamos ninguém – emenda.

Continua depois da publicidade

A secretária Graziela Nandi lembra que a volta das aulas presenciais vem exigindo investimentos, adaptações e cuidados extras em Treze de Maio. – Adotamos o modelo híbrido, um tempo em casa e outro na escola, e a modalidade 100% remota. Isso tudo exige planejamento e também gastamos mais materiais – lembra. Daí, volta o problema das folhas sulfite. – Precisamos imprimir muitos materiais para os alunos, daí o consumo das folhas triplicou – relata. – As folhas que vieram nos kits que conseguimos licitar, e que chegaram em março, estão acabando. Com essa preocupação é que mandamos os bilhetes para os pais pedindo as doações – explica.

> Da Estrada da Poeira a uma rota de romeiros em Criciúma

Em meio às dificuldades, a secretária de Educação enumera algumas conquistas, como a adoção de um sistema de educação online na rede escolar, o ponto eletrônico e a contratação de pedagogos para exercer a função de segundos professores. Um novo ônibus foi adquirido e Treze de Maio assumiu 100% do transporte escolar, sem o emprego de terceirizados.

Leia também:

> Pneumologista alerta para salto de 600% nas internações em Criciúma

> Mulher sem máscara é presa por agredir funcionário de terminal

> Mais uma etapa vencida para ampliação do Anel Viário de Criciúma