Pontual e oportuno o registro da colega Estela Benetti sobre o peso da fala do governador Carlos Moisés nesta terça-feira (9) na COP26, em Glasgow, na Escócia. Na plenária Governadores pelo Clima, Moisés fez um avanço que jamais foi percorrido por qualquer gestor catarinense em se tratando do futuro do Sul de Santa Catarina perante à extração do carvão. Ele foi corajoso.

Continua depois da publicidade

> Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo Whatsapp

O gesto começou com um passeio histórico preciso nos 6 minutos de fala. Moisés pontuou com propriedade que a origem da mineração na porção meridional do estado teve não somente inspiração, mas pesado investimento (para os padrões da época) de europeus. – Quem iniciou a exploração do carvão em Santa Catarina foi uma empresa inglesa – sublinhou.

Os primórdios remontam quase dois séculos. Por volta dos anos 30 do século 19, tropeiros descobriram, nas margens do Rio Tubarão, pedras que incendiavam. A essa altura, o Sul todo se resumia a um município só. Tudo era Laguna. A mineração permaneceu arcaica. Eis que, em 1861, Felisberto Pontes, o visconde de Barbacena, comprou terras na região, associou-se a investidores da Inglaterra e fundou a primeira companhia de mineração catarinense. O nome entrega: The Tubarão Coal Mining Company Limited. Em seguida, veio a viação férrea, citada por Moisés também na Escócia. E nela, mais uma digital britânica: Donna Thereza Christina Railway Co. Ltd, a atual Ferrovia Tereza Cristina (FTC).

FTC mantém malha de 160 quilômetros de trilhos no Sul
FTC mantém malha de 160 quilômetros de trilhos no Sul (Foto: Denis Luciano / NSC Total)

> Governador ouve os apelos de empresários do Sul

Continua depois da publicidade

Exploração de 160 anos

Ou seja, a história prova que Carlos Moisés tem razão na sua cobrança. Os europeus, tão interessados na descarbonização (no que não estão errados), precisam ajudar a mitigar o passivo de um processo de mineração iniciado por eles, com capital deles, há exatos 160 anos. No fim do século 19, os ingleses perceberam que o carvão do Sul catarinense não tinha o potencial energético esperado, e abandonaram o projeto. A partir daí, tanto as minas que proliferaram quanto a ferrovia que até hoje existe são tocadas por empreendedores brasileiros.

– No governo Vargas, a criação da CSN fez ela se transformar no principal explorador do carvão da região – lembrou Moisés. – Na década de 90, a crise americana do petróleo impulsionou a extração de carvão como fonte de energia – pontuou. Nesse instante, o governador catarinense conseguiu envolver os Estados Unidos na questão regional.

Moisés contou, também na COP, que o carvão representa uma movimentação econômica anual de R$ 21 bilhões e a geração de 5 mil empregos. – É preciso uma alternativa justa – cobrou. Daí, veio a sugestão que chamou bastante a atenção. – Envolver a Comunidade Europeia – disparou. – A criação de um fundo talvez, de recuperação ambiental – sugeriu, apontando para o “passivo ambiental de mais de mais de 100 anos, há minas que ainda vertem poluindo lagos, rios, lençol freático, criando gases para o efeito estufa -.

> Cinco anos depois, a retomada do tráfego de trens ao Sul de Criciúma

A argumentação de Carlos Moisés foi bem construída. A cobrança, fundamentada. – É um tema que precisa ser dividido com todos, é um tema de interesse mundial e começou a exploração por interesse de países americanos e europeus – registrou. 

Continua depois da publicidade

Foi pelo governador catarinense que a COP26 soube, por exemplo, que investimentos de R$ 2,5 bilhões estão a caminho do estado para a transição ao gás natural visando a geração de energia. Ele citou o Complexo Termelétrico Jorge Lacerda e mencionou Capivari de Baixo, onde a Diamante Geração de Energia, que recém assumiu a gestão transmitida pela Engie Brasil, vai realizar investimento pesado na troca de uma das usinas do carvão para o gás natural.

Vamos descarbonizar?

Certo, vamos descarbonizar. Mas e o Sul de Santa Catarina, como fica? – Fica aqui o convite para o Parlamento Europeu – desafiou Carlos Moisés. – Que a gente consiga construir alternativas conjuntas para a transição justa para a sustentabilidade social daquela gente que desenvolveu esse hábito, essa vida subterrânea, mas por demandas internacionais – completou, mencionando as gerações de trabalhadores que, no subsolo de Criciúma e parcela importante da região, percorreu e ainda percorre as galerias de onde se extrai o carvão para gerar energia. 

O governador, ao seu modo e no lugar adequado, colocou na pauta internacional algo que, historicamente, sempre foi tratado como um problema exclusivamente regional.

Continua depois da publicidade

Leia também:

> SC teve 19 mortes em 68 acidentes aéreos nos últimos 10 anos

> Estado tem queda de 56% na média móvel de mortes por Covid

> Como ficaram as regras para eventos de grande porte em SC