Cinco cidades do sul de Santa Catarina estão na rota das investigações da primeira etapa da Operação Benedetta, desencadeada pela Polícia Federal (PF) na manhã desta quinta-feira (20). 

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Mas, via de regra, o nome das operações diz muito do foco da PF. E é o caso. Benedetta é o nome pelo qual Urussanga é carinhosamente conhecida, por conta das suas raízes italianas. E é em Urussanga que se encontra o centro do esquema que está vindo à tona.

Desvio de dinheiro para obras desencadeia operação em cinco cidades do sul de SC

Não é de hoje que se comenta, nos bastidores, sobre a aplicação de recursos captados pela prefeitura de Urussanga, via Caixa Econômica Federal, para viabilizar pavimentações na cidade. As primeiras notícias da Operação Benedetta indicam que, em somente uma das obras investigadas, mais de R$ 300 mil teriam sido desviados. A PF investiga o caso desde setembro.

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A prefeitura de Urussanga prometeu, por sua assessoria, se manifestar oortunamente, assim que a PF concluir a operação que segue na região, que consiste no cumprimento de 18 mandados de busca e apreensão. Os mais de 75 policiais que visitam endereços desde cedo em Urussanga, Criciúma, Orleans, Siderópolis e Tubarão procuram conexões entre agentes públicos, servidores, empresários e o esquema de desvio em investigação. Somente na casa de um desses citados, em Urussanga, foram encontrados R$ 80 mil.

A especulação sobre possíveis irregularidades veio à tona durante a última campanha eleitoral, pela oposição ao prefeito Gustavo Cancelier (PP), que concorria à reeleição e obteve êxito no pleito. Um vereador da oposição apurou que havia irregularidades na contratação de máquinas (algumas que sequer teriam sido utilizadas nas obras em questão) e que faltava clareza na prestação de contas das obras contratadas.

São mais de 70 policiais atuando em várias frentes nesta quinta em Urussanga e outras quatro cidades
São mais de 70 policiais atuando em várias frentes nesta quinta em Urussanga e outras quatro cidades (Foto: Divulgação)

A denúncia do vereador

Em sessão do dia 20 de outubro do ano passado, na Câmara de Urussanga, o vereador Elson Ramos (MDB), oposição a Cancelier, apontou que “há vários meses tem cobrado clareza nas planilhas de custos das obras executadas com recursos do Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento (Finisa)”.

O parlamentar mencionou que os pedidos de esclarecimentos eram respondidos pela prefeitura com constantes solicitações de prorrogação de prazos para as devidas respostas. Elson recebeu do Executivo, na época, a informação de que as planilhas de custos das obras financiadas estavam sob poder da Caixa mas, ao procurou o banco, soube que não existiam esses documentos. Somente notas fiscais de pagamento dos serviços contratados e pagos.

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Também em outubro passado, que “as informações não chegam de forma clara ao Legislativo devido a existência de indícios de desvio de recursos públicos”. Foi além o parlamentar, citando que “há indícios de superfaturamento em diversas obras”. Ele mencionou a pavimentação de 700 metros de uma estrada entre o Bairro Estação e a localidade de Rio Caeté, que teria custado mais de R$ 1 milhão. Elson apontava, ainda, divergências entre a quantidade de horas pagas para serviços de máquinas e a real entrega da atividade. “Foram contratadas no período, pela administração, 57 mil horas de caminhões caçamba, 862 horas de retroescavadeira e 670 horas de patrola”, contabilizou. “Com base em informações de profissionais especializados em obras, os números de horas contratadas são exagerados”, emendou.

Denúncias foram levantadas em 2020 na Câmara de Urussanga
Denúncias foram levantadas em 2020 na Câmara de Urussanga (Foto: Divulgação)

Trator contratado nem foi usado, diz denunciante

O vereador Elson apontou, também, possíveis irregularidades na contratação de horas de serviço de trator de esteira. “Vídeos da obra, fotos e testemunhas afirmam que o equipamento não foi utilizado na movimentação de terra da estrada”, denunciou. “O serviço foi simulado com o propósito de superfaturar os custos”, detalhou o parlamentar do MDB.

A reação dos governistas

Na mesma época dessas denúncias, os vereadores governistas reagiram na Câmara de Urussanga. “As obras de pavimentação realizadas pela atual administração são as maiores dos últimos cem anos graças à excelente gestão do prefeito Gustavo Cancelier”, enfatizou, também em outubro passado, o vereador Gilson Casagrande (PP). “Nesse mesmo período da gestão passada havia apenas R$ 26 mil nos cofres da prefeitura, e hoje são aproximadamente R$ 8 milhões economizados e, com base nos números, ninguém pode falar em recursos desviados”, referiu. 

Uma das obras de pavimentação contratadas em Urussanga
Uma das obras de pavimentação contratadas em Urussanga (Foto: Divulgação)

“O caso das horas máquinas contratadas se deve principalmente a imprevistos nos projetos como lajes de pedra para serem detonadas e retiradas. As pessoas estão satisfeitas com as obras e o superfaturamento apontado pela oposição não se justifica, porque os recursos são administrados com seriedade e os serviços pautados pela economia e qualidade”, rebateu o vereador José Carlos José (PP), na mesma ocasião.

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O atual vice-prefeito, Jair Nandi (PSD), era vereador na época das denúncias e também rebateu a fala de Elson Ramos (MDB). “A pavimentação de ruas traz dignidade, melhoria na mobilidade urbana e valoriza a propriedade das pessoas”, enfatizou. Sobre o suposto desvio, ele se limitou a dizer que “cabe ao vereador fiscalizar a aplicação do dinheiro público”.