Cada município tem direito a determinar dois feriados por ano. Em geral, são datas consolidadas, relacionadas a algum evento histórico ou religioso. Em Criciúma não é diferente. É feriado em 6 de janeiro, data considerada a referência da chegada dos imigrantes italianos na região, nos idos de 1880. E é feriado em 4 de dezembro, dia dedicado a Santa Bárbara, padroeira dos trabalhadores da mineração.

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O tempo passou, e novas realidades são colocadas. Está atuando nos últimos meses, na Câmara de Vereadores, a Comissão Temporária Especial de Revisão Legislativa. Todas as leis municipais estão passando por um rigoroso filtro, inclusive as que determinam os feriados.

– E nesses debates, recebemos uma demanda da Associação Empresarial (Acic) e da CDL – conta o vereador Nicola Martins (PSDB), presidente da Comissão. – Eles entendem que esses feriados precisam ser revistos. Houve sugestões de revogar o feriado de Santa Bárbara, de trocar pelo dia de São José e até de mudar para 4 de novembro – explica.

Enquanto Santa Bárbara é protetora dos mineiros, São José é o padroeiro de Criciúma. – E o argumento dos que questionam é que a mineração não tem mais tanto peso na economia de Criciúma, não há mais minas de carvão em operação na cidade – pontua o vereador Nicola. 

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Vereador preside comissão que revisa leis em Criciúma
Vereador preside comissão que revisa leis em Criciúma (Foto: Divulgação)

A opinião da Igreja Católica

O presidente da Comissão reuniu-se com representantes da Igreja Católica na última semana. Estiveram no encontro o bispo da Diocese de Criciúma, Dom Jacinto Inácio Flach, e os padres Antônio Júnior (coordenador diocesano de Pastoral) e Antônio Vander (reitor do Santuário do Sagrado Coração Misericordioso de Jesus, de Içara).

– Os religiosos compreendem a importância da discussão, e fizeram até um mea culpa, reconhecendo que a data de Santa Bárbara deveria ser melhor e mais festejada, e não passar em branco como vinha passando – revela o vereador. – Eles só pediram que qualquer decisão não seja tomada em gabinete, que seja fruto de uma ampla discussão com a sociedade – emenda.

Ficou acordado que haverá uma reunião na Câmara, no próximo dia 6, envolvendo vereadores, representantes do clero e das entidades de Criciúma. – Será importante também adicionar a essa discussão as religiões de matriz africana, que são significativas em Criciúma e que cultuam iansã no dia de Santa Bárbara – pondera a vereadora Giovana Mondardo (PCdoB).

Bispo Dom Jacinto vai à Câmara discutir o feriado católico
Bispo Dom Jacinto vai à Câmara discutir o feriado católico (Foto: Denis Luciano / Arquivo)

Há, ainda, uma razão da simbologia dos santos envolvidos que é lembrada pelos sacerdotes consultados. – Santa Bárbara é cultuada pelos mineiros pois os protege. Mas São José também, é o santo da boa morte, era muito cultuado pelos mineiros na época em que havia muitos acidentes nas minas – pontua o vereador Nícola.

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Mudança poderá impactar em outras cidades

Há, na região carbonífera, outros quatro municípios que também fazem feriado em 4 de dezembro por conta de Santa Bárbara: Forquilhinha, Siderópolis, Treviso e Lauro Müller. Nos três últimos, possível alteração nem é discutida, já que a mineração segue mantendo grande significado nas economias locais. Mas Forquilhinha sim, cogita alterar o calendário.

– Me reuni com o bispo e o pároco, mas percebi muita resistência da igreja – conta o prefeito José Cláudio Gonçalves, o Neguinho (PSD). – Sugeri que o feriado fosse no primeiro domingo de dezembro, para não prejudicar o comércio e para que façamos uma grande festa, mas a igreja não abre mão do feriado. Eles só aceitam trocar por uma outra data – relata.

Para o prefeito, “não há mais sentido em comemorar Santa Bárbara” em Forquilhinha. – Tem muito feriado. E aqui não temos mais minas de carvão – sublinha. Neguinho conta que os religiosos sugeriram uma troca, de Santa Bárbara para uma data em junho, mas o prefeito não se agradou da oferta. – O assunto aqui deu uma esfriada, vamos esperar a decisão de Criciúma para ver o que fazer – emenda.

Igreja de Santa Bárbara em Criciúma. Forquilhinha, Siderópolis, Treviso e Lauro Müller também comemoram o feriado
Igreja de Santa Bárbara em Criciúma. Forquilhinha, Siderópolis, Treviso e Lauro Müller também comemoram o feriado (Foto: Divulgação)

A Câmara de Vereadores levantou essa discussão em 2017 em Forquilhinha. Na ocasião, a Associação Empresarial e a CDL do município pediram uma revisão do feriado de 4 de dezembro. – As indústrias alegam que estão perto das férias coletivas, e esse feriado gera custos a mais, e o comércio reclama que as pessoas usam o feriado para sair da cidade, no começo de um mês importante como o do Natal – lembra o prefeito.

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Criciúma não comemora a emancipação

O outro feriado municipal de Criciúma não diz respeito à emancipação, como se dá na maioria das cidades. – Como sempre foi comemorado o 6 de janeiro, por conta da colonização, o 4 de novembro acabou esquecido – lembra o historiador Mário Belolli. 

Em 4 de novembro de 1925 a Assembleia Legislativa aprovou a emancipação do então distrito de Cresciúma (era assim a grafia da época, só modificada em 1944). Araranguá era o município-mãe de Criciúma, que acabou efetivamente instalada em 1º de janeiro de 1926. – Precisamos consolidar o 4 de novembro, mas essa data precisa entrar no calendário de feriados de Criciúma – observa Belolli, lembrando que os 100 anos serão comemorados em 2025. – E deverão ser comemorados em alto estilo – refere.

Criciúma na emancipação, em 1925, com sua estação ferroviária
Criciúma na emancipação, em 1925, com sua estação ferroviária (Foto: Arquivo Histórico Pedro Milanez / Divulgação)

– A alteração do 6 de janeiro e do 4 de novembro ainda estão em uma discussão menos avançada e a do dia de Santa Bárbara – cita o vereador Nicola Martins. – Mas é um tema que em breve levantaremos também, abrindo a discussão à sociedade – finaliza.

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