Nos arredores de um dos mais badalados destinos do litoral sul de Santa Catarina – o Farol de Santa Marta -, um sério problema ambiental está em curso: o assoreamento da Barra do Camacho. Quem se desloca pela SC-100 a partir de Laguna em direção ao sul, quando chega no limite com Jaguaruna, se depara com uma ponte. Sob essa ponte, em vez de água, o que há é terra. Muita terra.

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— Decretamos situação de emergência. É uma situação muito grave que está acontecendo aqui — define o prefeito de Jaguaruna, Laerte Silva (PSC). Com o assoreamento da barra, não há a ligação entre o mar e a Lagoa do Camacho, que é definida pelos nativos, que vivem da pesca, como um verdadeiro berçário natural para peixes e camarões. — Sim, os peixes entram, desovam ali, a salinidade adequada da lagoa é definida por essa troca com o mar. Sem essa ligação, nossa lagoa, que sustenta tanta gente, está ficando morta — reconhece o prefeito, sem esconder a preocupação.

O convite para o protesto postado nas redes sociais dos organizadores
O convite para o protesto postado nas redes sociais dos organizadores (Foto: Reprodução)

Acuada, a comunidade prepara um protesto. No próximo sábado vai ocorrer o ato que vem sendo chamado de “pasaço” nas redes sociais dos organizadores. — Vai ser uma força-tarefa, na pá, na picareta, na enxada e carrinho de mão. Vamos tirar o que pudermos de areia dali — adianta o empresário Reginaldo de Pellegrin, residente em Tubarão mas frequentador assíduo da região do Camacho, onde possui um imóvel.

Canal entre mar e lagoa está assoreado
Canal entre mar e lagoa está assoreado (Foto: Divulgação)

— Notamos o movimento caindo no Camacho. O comércio em dificuldades, muitas casas sendo colocadas à venda. Inclusive os imóveis estão muito desvalorizados aqui por causa disso. Quando a barra fica assim, a economia cai aqui na região — observa Reginaldo. O empresário lembra que já houve outras ocasiões em que, na demora para tomada de providências pelas autoridades, a comunidade já tomou a iniciativa. — Pelo menos umas três vezes o povo já tirou terra na pá dali da barra, a última vez foi lá por 1995 — recorda.

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O impacto para os pescadores está na captura, principalmente, de tainhas e camarões. — O peixe pequeno quer sair da lagoa e ir para o mar, não consegue. O peixe maior quer entrar na lagoa para desovar, não consegue — confirma Reginaldo. O prefeito Laerte esteve no local na última semana, para uma reunião com os profissionais da pesca, e assustou-se com a profundidade atual da Lagoa do Camacho. — Tem pontos em que ela está com lâmina de 10 centímetros, quando o normal é ter uma profundidade de pelo menos 1 metro — comenta.

R$ 7 milhões para resolver

A Associação dos Municípios da Região de Laguna (Amurel) preparou um projeto de desassoreamento da Barra do Camacho. — Precisamos de R$ 7 milhões para executar o serviço completo, e não ter risco de assorear novamente. Se fizermos um desassoreamento que custa uns R$ 2 milhões, daqui a dois anos teremos que fazer de novo, como fizeram em 2019 e agora está cheio de terra — explica Laerte Silva.

O prefeito liderará uma comitiva que estará em audiência com o governador Carlos Moisés (PSL) na próxima semana, para solicitar recursos e providências. A governadora interina Daniela Reinehr (sem partido) esteve na Barra do Camacho no último dia 22, e comprometeu-se em buscar as verbas, assegurando que já havia R$ 1,5 milhão garantidos do Governo Federal para auxiliar no investimento. — Ela até garantiu, mas esse recurso vai demorar para chegar, e nós temos pressa — pondera o prefeito de Jaguaruna.

Manifestação de pescadores durante a visita da governadora Daniela Reinehr
Manifestação de pescadores durante a visita da governadora Daniela Reinehr (Foto: Folha Regional / Divulgação)

150 mil metros cúbicos

A prefeitura contratou 400 horas de serviços de retroescavadeira e caminhão, ao custo de R$ 300 mil, para executar, nos próximos dias, um paliativo na Barra do Camacho. — O projeto completo, de R$ 7 milhões, prevê retirar 150 mil metros cúbicos de terra. Claro que não conseguiremos isso. Vamos buscar fazer um canal para dar um pouco de vida à lagoa — adianta o prefeito. Esse serviço começará entre esta sexta-feira (14) e a próxima segunda (17).

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O protesto de sábado segue marcado. Em passagem pelo local no último sábado, o empresário Reginaldo de Pellegrin flagrou alguns pescadores descartando peixes miúdos, pescados no que restou do canal da barra. Nas imagens, é possível perceber a dimensão do assoreamento do local.

https://www.facebook.com/100003268415618/videos/3884361155016127/

— Temos umas 200 pessoas já encaminhadas para ir no nosso protesto de sábado. Claro que não vamos conseguir, na pá, fazer muita coisa, mas o que a gente conseguir abrir de caminho para a água, já vai ajudar — conclui Reginaldo.