Ao mesmo tempo em que é um fiel da balança, o que lhe é conferido pelo peso da caneta que manuseará pelo menos até 31 de dezembro do ano que vem, Carlos Moisés exerce um poder de idas e vindas em relação aos partidos em Santa Catarina. Ocorre que, sem filiação desde o último dia 10, o governador ora é cortejado, ora fica à margem das ordens do dia das principais legendas em Santa Catarina.

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Já houve um namoro com o PP, possibilidade que esfria na medida em que os progressistas poderão acolher o presidente Jair Bolsonaro. Isso acontecendo, haveria uma tremenda saia justa, na medida em que não é possível que Moisés e Bolsonaro, eleitos juntos em 2018, estejam no mesmo palanque em 2022. – Sem chance – reforçou à coluna no fim de semana o deputado federal Daniel Freitas (PSL), um dos líderes bolsonaristas em Santa Catarina.

Mas houve tempo, e não faz muito, que o PP esteve bem cotado para filiar Moisés e tê-lo candidato em 2022. – Saudades de votar no 11 para governador – disse na semana passada o deputado estadual João Amin (PP). Claro que muito menos no contexto de uma possível filiação de Moisés, e muito mais na expectativa de ter seu pai, o senador Esperidião Amin, candidato ao Governo do Estado mais uma vez. Ou quem sabe a sua mãe, a deputada federal Ângela. Ou ainda, correndo por fora, o prefeito de Tubarão, Joares Ponticelli.

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O líder do governo é do PP

E essa relação de progressistas e Moisés teve alguns episódios de reforço. Um deles foi a indicação, pela segunda vez no atual governo, do deputado estadual José Milton Scheffer para liderar a bancada governista na Assembleia Legislativa (Alesc). O deputado, que tem base no Sul, não nega que já teve algumas conversas sobre filiação com Moisés. 

– Quando se desfiliou, ele confirmou o que nos dizia, que quer priorizar o governo e deixar a decisão sobre partido para o início de 2022 – destacou. – Ouvi isso dele mais de uma vez. Ele quer atender desenvolver ações, fazer o governo andar e trabalhar na gestão enxuta e nos investimentos – sublinhou o deputado. – E é claro que ele tem o direito de ir à reeleição – reforçou. 

Scheffer gostaria, naturalmente, de estar no palanque de Carlos Moisés em 2022, e de ver o PP na mesma condição. Mas entende que não é tão simples. – Não houve conversa oficial. O governador tem dado uma atenção especial às nossas lideranças, o que criou essa relação forte – pontuou. – E o partido está trabalhando ativamente agora na montagem das chapas proporcionais – salientou. – A intenção do PP é ter candidato a governador, mas o foco agora está nas proporcionais e nas regiões microrregionais – completou Scheffer.

José Milton Scheffer, do PP, o líder de Moisés na Alesc
José Milton Scheffer, do PP, o líder de Moisés na Alesc (Foto: Divulgação)

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Os gestos com MDB e PSD

Há mais tempo, quando a aproximação de Moisés era com o MDB, e quando veio o apoio da bancada na Alesc ao governo, a especulação era de que o ninho emedebista poderia ser um rumo viável. Mas todas as lideranças ouvidas repetem o mesmo discurso. – O MDB tem três pré-candidatos ao governo, deles sairá um concorrente competitivo, o governador Moisés se fosse para o MDB teria que passar pelo mesmo filtro – disse algumas vezes o ex-governador Eduardo Pinho Moreira. Logo, é difícil ver o atual governador, novato em uma legenda, dependendo de disputa interna com o senador Dario Berger, o deputado Celso Maldaner e o prefeito Antídio Lunelli para ter legenda.

> Moisés abre o cofre e se coloca no jogo para 2022

Carlos Moisés tentou se aproximar do PSD. Trouxe Eron Giordani (muito próximo do deputado Júlio Garcia, ex-presidente da Alesc), para chefe da Casa Civil e o colega Ânderson Silva cravou nesse fim de semana que ele seria um nome da preferência do governador para compor como vice. Mas Giordani não quer e, além disso, o PSD tem planos de lançar candidato ao governo. As pesquisas da semana passada animaram os pessedistas, que contam com Raimundo Colombo, João Rodrigues e Napoleão Bernardes nessa ampla disputa pela cabeça de chapa.

Partidos fora do baralho do governador

Moisés recém saiu do PSL, que com PTB, Patriota e PL formará a frente de apoio à candidatura do senador Jorginho Mello a governador. Ou seja, legendas a menos no leque de opções. E o PSDB? Tem Gelson Merisio como pré-candidato, tem o prefeito Clésio Salvaro e a deputada Geovania de Sá como alternativas e dificilmente daria abrigo ao governador. Recentemente, Moisés recebeu o colega Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul e pré-candidato tucano à presidência, mas o cenário não demonstra afinar o governador e o PSDB no mesmo palanque.

Merisio, pelo PSD, foi ao segundo turno com Moisés, então no PSL, em 2018
Merisio, pelo PSD, foi ao segundo turno com Moisés, então no PSL, em 2018 (Foto: Diorgenes Pandini / DC)

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O Podemos já lançou a pré-candidatura do prefeito Fabrício Oliveira para governador. O DEM aposta no prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, como possibilidade. O PDT, que tem apoiado Moisés na Alesc, conta com o ex-deputado Fernando Coruja lançado para tentar o Governo do Estado. É difícil imaginar Moisés em um partido de esquerda, mesmo com a relação harmônica com petistas na Alesc. Até porque o PT vai, de novo, com Décio Lima para governador, no claro raciocínio de oferecer palanques para o ex-presidente Lula. 

Evangélicos convidam Moisés

Com esse cenário congestionado, Moisés poderá optar por um partido pequeno, onde terá mais facilidade de controlar as bases e não muitos engessamentos. Nessa leitura, surgem os convites de partidos com bases evangélicas em Santa Catarina: o PSC e o Republicanos.

O deputado Sérgio Motta convidou Moisés para ingressar no Republicanos em fevereiro, durante um encontro em Tubarão. Por conta da força média em nível nacional, o Republicanos oferece um bom espaço no horário eleitoral de TV e rádio, o que garante a visibilidade necessária ao governador, que desta vez não estará amparado na onda 17 nem no vínculo com Jair Bolsonaro.

Moisés e Motta em Tubarão em fevereiro; o 10 é o número do Republicanos
Moisés e Motta em Tubarão em fevereiro; o 10 é o número do Republicanos (Foto: Divulgação)

– Convidei sim – confirmou o deputado Motta, que é bispo da Igreja Universal do Reino de Deus. A legenda, com forte base no público evangélico, elegeu o deputado federal Hélio Costa na eleição de 2018, mas está perdendo essa cadeira, já que o radialista tem malas prontas rumo ao PSD. Filiados do Republicanos atuaram e atuam no governo Moisés e Motta tem sido um aliado sem muito alarde na Alesc.

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Sobre o PSC, Carlos Moisés recebeu no começo do mês o presidente estadual do partido, Narcizo Parisotto, e o deputado Jair Miotto. 

Moisés com lideranças do PSC em conversa no começo do mês
Moisés com lideranças do PSC em conversa no começo do mês (Foto: Divulgação)

Moisés agradeceu o convite do PSC, reforçou que ficará um tempo sem filiação e também elogiou a sigla, aliada com seu único representante na Alesc.

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