Desde 2016 que a Ferrovia Tereza Cristina (FTC), gestora de importante malha ferroviária no Sul de Santa Catarina, não registrava tráfego constante de trens ao Sul de Criciúma, em direção a Forquilhinha. O esgotamento das atividades da Carbonífera Criciúma fez o ramal que atende a esta região cair em quase que completo desuso.
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Essa situação está mudando. Nas últimas semanas, técnicos da FTC revisaram o ramal que percorre o canteiro da Avenida Centenário e costeia a Rodovia Jorge Lacerda entre os bairros Pinheirinho e Jardim Angélica, no sentido de Forquilhinha. – Fizemos uma revisão na linha, deixamos ela em melhores condições. Vai começar um tráfego de uma mineradora na região de Forquilhinha – confirma o diretor da FTC, Benony Schmitz Filho.

Por anos a fio, as mineradoras Carbonífera Criciúma e Cooperminas extraíram carvão na região de Forquilhinha e usavam a linha para carregar carvão que era vendido e transportado para o Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, em Capivari de Baixo. Agora, a retomada do tráfego de trens na região será por conta das operações da South Brasil Mineração na região do Bairro São Roque, no limite de Forquilhinha com Criciúma.
Nos últimos tempos de pouca operação, houve vandalismo e furtos no trecho. – Os trilhos estavam em boas condições, os dormentes foram estragando. Houve também muito furto de material metálico, de pregações, placas debaixos dos trilhos, daí precisamos reparar a linha – explica Benony.
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Conforme comunicado à FTC, a South Brasil deverá carregar um trem por semana a partir de Forquilhinha até Capivari de Baixo. – Normalmente, o lote padrão é de 1,1 tonelada, ou seja, deve ser esse montante que eles vão transportar a cada sete dias – projeta o diretor da ferrovia.

O trecho é bastante urbanizado. Além dos bairros Pinheirinho e Jardm Angélica, costeia também o Sangão, em Criciúma, e o ramal passa próximo de regiões bastante habitadas e com tráfego constante. Logo, a atenção dos condutores deverá ser redobrada. Vez por outra, algum carro colide com trem no cruzamento que o ramal faz perto dali, junto à Avenida Centenário, onde os trilhos convergem em direção a Siderópolis.
Mais carvão para gerar energia
A South Brasil era conhecida no mercado regional como Mineração Santa Bárbara, e sofreu recente mudança de nome. – Eles não farão mineração, eles fazem lavação de rejeitos – explica o presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM), engenheiro Fernando Zancan.
A empresa está fomentando a sua operação por conta da demanda crescente na termelétrica de Capivari de Baixo que, a partir da crise hídrica, atua na sua plenitude. – A Engie (gestora da termelétrica) precisou comprar mais carvão, e a South entrou na operação. Eles lavam rejeitos de carvão de outras mineradoras, dessa lavação eles conseguem extrair de 8 a 10% de carvão com qualidade energética, daí eles misturam esse produto com carvão adquirido de outras empresas e fazem a venda para abastecer Capivari de Baixo – detalha o diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Extração de Carvão de Santa Catarina (Siecesc), Márcio Cabral.
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– Com a queda da geração de energia nas hidrelétricas, a termelétrica está no limite, queimando 210 mil toneladas de carvão por mês, devendo chegar a 300 mil em agosto. Esse acréscimo exige mais venda pelas mineradoras da região de Criciúma, por isso esse aporte da South – informa Cabral.
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Situação da Carbonífera Criciúma
Na última quarta-feira (21) os credores da Carbonífera Criciúma foram convocados para uma assembleia geral. Na ocasião, eles votariam o plano de recuperação judicial da empresa, que está com operações paralisadas desde 2016, tendo deixado 700 trabalhadores sem emprego, mais de mil credores à espera de uma solução e um passivo aproximado de R$ 500 milhões em dívidas.
Pela falta do quórum qualificado exigido para a assembleia, uma nova foi marcada para 11 de agosto quando, com qualquer quantidade de presentes na reunião remota, o destino do processo será definido. A Carbonífera Criciúma propõe retomada de atividades para conseguir pactuar o pagamento das dívidas. Entre créditos trabalhistas, dívidas bancárias e impostos, estima-se uma dívida superior a R$ 300 milhões. Há, também, um passivo ambiental superior a R$ 100 milhões. Os valores são questionados pela direção da empresa.
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Com a saída de cena da Carbonífera Criciúma, as demais mineradoras da região assumiram o montante global de carvão que a região precisa fornecer para manter em dia as operações da termelétrica de Capivari de Baixo, responsável pela aquisição de 99% do carvão produzido na região de Criciúma.
O futuro da mineração no Sul
Em paralelo, segue em discussão a continuidade da mineração de carvão no Sul catarinense, responsável por 5 mil empregos diretos, mais de 20 mil indiretos e que movimenta R$ 5 bilhões na economia regional. A Engie Brasil, que compra o carvão da região de Criciúma, já anunciou que deixará essas operações por uma política da empresa a partir de 2025.
Há um grupo interessado em investir na compra da usina, o que representaria a manutenção da operação por mais alguns anos. No entanto, a transação ainda não foi definida pois há um impasse sobre a continuidade da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), política de subsídio ao segmento mantida pelo Governo Federal que é fundamental para a viablização dos investimentos. A CDE tem fim programado para 2027, o que inviabiliza a venda da usina para a Fram Capital, consórcio interessado na operação. A região reivindica a extensão do subsídio até 2035.

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– Estamos otimistas. Existe uma vontade dupla. O negócio ainda não foi fechado, há uma negociação também referente a impostos. Há interesse da venda e da compra e a discussão política sobre a CDE em Brasília – aponta Zancan. – Essa política será necessária para que essa cadeia econômica toda tenha tempo de migrar para novas tecnologias que estão em desenvolvimento – finaliza o presidente da ABCM.
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