Ainda estava escuro e o relógio marcava 6h30min do mais recente 4 de julho, uma segunda-feira. Como de praxe, o motorista Geraldo Corrêa, 64 anos, conduzia um dos ônibus da pequena frota da prefeitura de Treviso, no Sul catarinense, em direção a Criciúma. A bordo, 34 estudantes passageiros. Mas a viagem terminou em tragédia.
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A escassa visibilidade, ainda mais prejudicada pela neblina, não permitiu que Geraldo notasse uma pá carregadeira, também da prefeitura, trafegando pela SC-446, no limite de Treviso com Siderópolis. Tudo foi muito rápido, da colisão à rápida reação das crianças e adolescentes, das quais 23 resultaram com ferimentos, na maioria leves. O motorista não resistiu. Morreu no local.
Desde então, a Polícia Civil debruçou-se no caso e alcançou uma definição nesta terça-feira (11). O condutor da pá carregadeira foi indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. O inquérito apontou, ainda, que a autoria ficou evidente, já que o motorista da máquina encontrava-se no local, tripulando a mesma no centro da via, em baixa velocidade e com escassa condição de visibilidade pela vítima, acabando por atingir a traseira da pá carregadeira. O condutor da máquina segue vinculado à prefeitura de Treviso.

– Era nosso amigo, um grande profissional – lamentou o prefeito de Treviso, Valério Moretti, referindo-se a Geraldo quando do acidente. Na época, cogitou-se que a máquina não poderia estar trafegando naquelas condições e que faltaria ao equipamento uma melhor condição visual, com iluminação refletiva adequada. O prefeito minimizou essa hipótese. – Foi uma fatalidade – apontou.
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A prefeitura tratou de esclarecer, ainda, que a frota de ônibus do transporte escolar é nova na cidade. O próprio veículo envolvido no acidente fatal tinha apenas seis meses de uso, tendo entrado em circulação no fim de 2021. – Nossos ônibus são bastante utilizados, já que temos um interior grande, com comunidades distantes, e transportamos diariamente esses alunos de todas as nossas localidades – sublinhou Moretti. – Mas esse ônibus havia sido revisado na semana anterior ao acidente, estava com seguro e a habilitação do motorista em dia – completou o prefeito.
A morte do motorista gerou consternação na pequena cidade de menos de 4 mil habitantes. Houve luto oficial de três dias e diversas homenagens prestadas pelos estudantes. Para muitos, Geraldo sacrificou a própria vida ao proteger os estudantes de um mal maior. – Se ele tivesse, em um reflexo, desviado o ônibus para um dos lados, esse lado teria batido na carregadeira e aí a tragédia seria ainda maior, envolvendo os estudantes. Ele bateu de frente e morreu assim, bravamente, no exercício da sua função – lembrou o prefeito, enaltecendo a memória de Geraldo.

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