Carlos Moisés da Silva elegeu-se governador, em 2018, brotando do anonimato às urnas no rodo do “17 confirma, de cabo a rabo”. Esse mesmo fenômeno fez um até então inexistente PSL eleger seis deputados estaduais, quatro federais e bateu na trave para o Senado, quase elegendo o ex-vereador Lucas Esmeraldino, de Tubarão. 

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Daí, vale contar uma breve história recente para reforçar o contexto que vai nos levar à análise de agora: não foi por acaso que Carlos Moisés tomou sua vacina contra a Covid em Laguna, no sul do estado, nesta quinta-feira (24).

> Moisés toma primeira dose contra Covid-19

O Moisés bombeiro, em Tubarão

Embora natural de Florianópolis, Moisés fez carreira no sul. Atuou no Corpo de Bombeiros de Criciúma e comandou a unidade de Tubarão, onde acabou fixando residência. E tem a sua casa de veraneio na praia do Ypuã, aprazivel recanto entre os balneários de Laguna.

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Moisés vota em Tubarão, no Colégio São José, e foi em Tubarão onde estreitou a parceria com o então vereador Lucas Esmeraldino, que o fez entrar na política. Filiados ao PSL, começaram a percorrer Santa Catarina para estruturar o partido. O trabalho foi rápido, acelerado pelo salto de Jair Bolsonaro, mas não menos cansativo. 

De motorista a governador

Há quem lembre que Carlos Moisés era o motorista de Esmeraldino. Afinal, é sabido que o governador gosta de um volante. Não raro, dispensa, mesmo nas circunstâncias atuais, os motoristas da escala do governo.

Nas idas e vindas pelo estado, que movimentaram a agenda do recém aposentado Carlos Moisés da Silva (ele foi promovido a coronel e aposentou-se aos 48 anos, em 2016), a possibilidade de uma candidatura veio à tona. A origem militar ajudaria a buscar votos, na onda que estava posta. Em uma reunião da Executiva do PSL, procurava-se o nome de um candidato a governador. Alguém sugeriu o nome do vereador Daniel Freitas, então no PP de Criciúma mas a caminho do partido de Bolsonaro. Daniel não quis. Almejava concorrer a deputado federal. Imaginava que se elegeria com boa votação, como aconteceu de fato. Foi o vice-campeão entre os catarinenses para a Câmara Federal, com 142,5 mil votos.

Então, na mesma reunião, Moisés levantou a mão. Colocou-se à disposição para ser o candidato ao Governo do Estado. E assim ele saiu do encontro. Candidato. O PSL não tinha expectativa de vitória, mas o avolumar dos números na carona do 17 com o decorrer da campanha fez o Comandante Moisés ganhar força, e ao vencer os dois turnos, passou de improvável a eleito.

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A busca de uma identidade no sul

Tudo isso para reforçar o quanto, agora, Carlos Moisés precisa de base. E essa base passa por uma identificação regional. São visíveis os esforços para que ele se identifique mais com o sul. O sul nunca o considerou muito um “governador do sul”, em um estado que por bom tempo caracterizou-se por essas questões. Afinal, o saudoso Luiz Henrique da Silveira era o governador de Joinville, e Raimundo Colombo o governador de Lages, e nas gestões deles, Eduardo Pinho Moreira era, no sul, conhecido como o governador do sul. A geografia que transcende as urnas tem peso no histórico recente da política catarinense. Mas Moisés vinha sendo uma exceção a isso.

Porém, gestos recentes mostram que sim, ele busca novas identidades, na medida em que, desde o princípio do mandato, descolou-se do cabo eleitoral que o fez governador, o presidente Bolsonaro. E uma dessas identidades que Moisés busca é a regionalidade. Não que ele vá alcançar a reeleição a partir do sul, não vai. Mas é preciso uma referência. É o que ele busca.

Secretário de Saúde, André Motta Ribeiro, acompanhou Moisés na agenda da vacina
Secretário de Saúde, André Motta Ribeiro, acompanhou Moisés na agenda da vacina (Foto: Divulgação)

Não por acaso, em um dia liberou R$ 12 milhões para pavimentar uma estrada que nem estadual é, entre Tubarão e Jaguaruna, e no dia seguinte tomou a sua primeira dose da vacina contra a Covid-19 em uma unidade de saúde de Laguna. E poucas semanas antes anunciou R$ 10 milhões para desassorear uma barra entre Jaguaruna e Laguna.

Investimentos na região

Em frequentes vindas ao sul, vem anunciando investimentos, colhendo demandas, pedindo por mais demandas, como fez em um recente jantar com empresários em Criciúma. – Tá, mas quais os projetos de vocês? – chegou a cobrar. Ele não queria saber de estradas ou pontes, nem de obras físicas, mas sim de pautas efetivas. 

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De mais a mais, nas últimas visitas ao sul garantiu investimentos importantes: a quarta etapa do Anel Viário de Criciúma, a quarta ponte sobre o Rio Araranguá, a retomada da SC-290 na Serra do Faxinal, a SC-108 entre Jacinto Machado e Praia Grande, o incentivo ao porto de Laguna, a pavimentação da SC-370, na Serra do Corvo Branco, as encostas e a futura revitalização da SC-390 na Serra do Rio do Rastro, e por aí vai.

Tomar a vacina no sul não foi apenas um gesto circunstancial, pois ele poderia ter se imunizado em Florianópolis, onde despacha a maior parte do tempo. Vacinar em Laguna foi mais uma tentativa de criar raízes, em um ambiente no qual as raízes são mais que fundamentais. São estratégicas. 

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