Quem chega em Criciúma pela SC-445 ou Via Rápida, passando por Içara, encontra em seguida o Parque das Nações Cincinatto Naspolini. Inaugurado há dez anos, nele há o simbolismo herdado do mais tradicional evento da cidade: a Festa das Etnias. Surgida em 1989 para enaltecer o papel dos colonizadores, ela teve 31 edições até 2019, e não ocorreu depois por causa da pandemia de Covid-19. A expectativa é de retomada em 2022.

Continua depois da publicidade

> Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo Whatsapp

Sem os pavilhões, previstos originalmente para abrigar suas atividades, as etnias contam no parque com bandeiras hasteadas permanentemente que as representam. Sem problemas para italianos, alemães, portugueses, poloneses e espanhois. Em relação aos africanos, escolheu-se a bandeira de Angola. E quanto aos árabes, a da Palestina. Mas isso mudou.

Nesta quarta-feira (29), no lugar da bandeira preta, verde, branca e vermelha tremulava a verde com inscrição em árabe, da Arábia Saudita. Isso não caiu bem entre alguns dos descendentes da colônia de cerca de 300 árabes que vivem em Criciúma. – Devolvam a bandeira da Palestina ao Parque das Nações – postou Ziad Jaber, nascido em Criciúma mas filho de palestinos. 

Postagem do filho de palestinos Ziad Jaber em rede social
Postagem do filho de palestinos Ziad Jaber em rede social (Foto: Instagram / Reprodução)

– Meu repúdio a essa atitude. Em Criciúma, mais de 80% da colônia árabe é de palestinos, que eu saiba nenhum saudita mora ou esteve por aqui – emendou Ziad, em outra manifestação nas redes sociais. Em contato com a coluna, ele reforçou que, além dos muitos palestinos que tomara o Sul catarinense como destino entre os anos 60 e 70, houve famílias libanesas também. – Mas sauditas, não – sublinhou.

Continua depois da publicidade

> Além de SC, variante Ômicron da Covid circula em sete estados do Brasil

O fornecedor se enganou

A Fundação Cultural de Criciúma (FCC), responsável pela gestão dos parques, está resolvendo o problema. O diretor de Cultura do município, que é descendente de árabes, contou o que aconteceu. – As bandeiras do parque são trocadas a cada 6 meses, pois ali bate muito vento, o que danifica elas. Na última troca, faz pouco mais de 10 dias, o fornecedor se enganou e produziu essa da Arábia Saudita em vez da Palestina – justificou Ismail Ahmad Ismail.

Com a bandeira da Arábia Saudita em mãos, a FCC fez contato com a coordenação da etnia árabe, ligada à União das Etnias de Criciúma. – Explicamos o ocorrido e o presidente da etnia consentiu. Mas faremos a troca quando as novas bandeiras ficarem prontas – garantiu. Assim, na próxima remessa a bandeira da Palestina retomará o lugar da representação dos árabes no Parque das Nações. – A etnia é árabe. Somos uma nação com 23 ou 24 países. A bandeira palestina é usada em função do primeiro presidente do grupo. Eu sou libanês – contou Omar Saleh, que é o presidente da etnia árabe de Criciúma.

Na foto de setembro, a bandeira palestina é a terceira da esquerda para a direita
Na foto de setembro, a bandeira palestina é a terceira da esquerda para a direita (Foto: Thiago Hockmüller / Portal Engeplus)

> Estado alega falta de concorrência e quer barrar alta do gás natural

Os sete grupos étnicos organizados na cidade (e representados pelas bandeiras no parque) formam a União das Etnias de Criciúma que, por sua vez, responde pela Festa das Etnias. O evento estreou em 1989 na Praça Nereu Ramos. Face ao grande sucesso, migrou até chegar ao Pavilhão José Ijair Conti, local de exposições na cidade. Houve uma experiência recente, não bem sucedida, de realizar a festa no Parque das Nações.

Continua depois da publicidade

Em 2019, no pavilhão de exposições, houve a 31ª edição, a mais recente. Veio a pandemia de Covid-19 que forçou a suspensão e a expectativa é pela retomada em 2022. 

> Vídeo: Bolsonaro volta a causar aglomeração em SC

Árabes fizeram mesquita em Criciúma

Das sete etnias, a árabe é considerada a mais recente em Criciúma. A história aponta que 15 a 20 famílias oriundas da Palestina, Egito e Líbano instalaram-se na cidade a partir dos anos 60, mas há notícias de chegada anterior de libaneses que estabeleceram-se no comércio.

Com eles, veio a tradição da gastronomia e da dança típicas dos árabes. Desde quando foram incorporados à Festa das Etnias, tornaram-se um sucesso. O restaurante árabe é dos mais procurados, e a performance das danças do ventre também recebem muitos elogios, além de outros estilos apresentados nas noites culturais. Entre os pratos do cardápio árabe, a esfiha, o homus e o kafta, além do quibe cru, da maqluba e do carneiro recheado.

Da participação na Festa das Etnias, resultou a iniciativa dos árabes de dotar Criciúma de uma mesquita palestina, inaugurada em 2000. Localizada na Rua Palestina, vizinha ao Parque Municipal Altair Guidi e a poucos metros do Paço Municipal, a mesquita é local de encontro dos muçulmanos da região. De um alto-falante na torre, são entoados em determinados horários cânticos árabes que convidam os fieis a frequentar a mesquita.

Continua depois da publicidade

Criciúma tem mesquita palestina há pouco mais de 20 anos
Criciúma tem mesquita palestina há pouco mais de 20 anos (Foto: Caio Marcelo / Agência RBS)

– Meu pai participou da fundação da Sociedade Muçulmana em Criciúma, que sempre foi muito ativa na organização dos árabes na Festa das Etnias. Dessas participações vieram os recursos para a mesquita palestina – contou o jornalista Jaaffar Omari, que trabalha com gastronomia árabe em Criciúma. Ele lembrou que o uso da bandeira palestina para representar a comunidade entre as etnias é um ato de “respeito e luta pelo reconhecimento da Palestina”.

> A jornada do macaco bugio que atravessou o Centro de Criciúma

A procura à mesquita teve um acréscimo nos últimos anos em Criciúma, a partir da chegada de imigrantes de países africanos, como Gana e Togo. Muitos muçulmanos, eles buscaram o local para professar sua fé. 

Estrangeiros lotaram mesquita de Criciúma em 2014
Estrangeiros lotaram mesquita de Criciúma em 2014 (Foto: Cyntia Amorim / Portal Engeplus / Arquivo)

O xeique Adil Ali-Pechliye ministra as celebrações. Ele responde pela mesquita desde 2011. Natural de São Paulo, estudou na Universidade Al Munawrah, em Medina, na Arábia Saudita, de onde foi enviado a Criciúma para orientar sobre a doutrina muçulmana.

Há uma década, o xeique Adil chegava da Arábia Saudita
Há uma década, o xeique Adil chegava da Arábia Saudita (Foto: Denis Luciano / Arquivo)

Leia também:

> O atraso de um ano do ministro Tarcísio em inauguração no extremo Sul

Continua depois da publicidade

> Prefeito puxa discussão sobre novo estádio em Criciúma

> No Natal, a lembrança para os mais pobres