A rusticidade que beira o simplório na ligação para pedestres entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul sofreu um duro golpe antes das 3h da madrugada desta segunda-feira (20). As dezenas de populares que caminhavam sobre as tábuas cambaleantes unidas por cabos de aço que conectam dois estados conheceram o frio da água do Rio Mampituba totalmente a contragosto, em um fim de Carnaval que poderia ter desfecho trágico.

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O acidente desta segunda deve servir de um rotundo sinal para os governadores Jorginho Mello (PL) e Eduardo Leite (PSDB). – O rio é federal, divide dois estados. Precisamos de um investimento aqui – advertiu Matheus Junges, secretário de Planejamento de Torres, no lado gaúcho. Para o prefeito de Passo de Torres, no lado catarinense, a ponte pênsil cumpre o seu papel. – Trocamos os cabos, fazemos manutenção. Não temos como controlar o fluxo – observou Valmir Rodrigues.

O prefeito do lado catarinense da divisa referia-se à capacidade da ponte pênsil recém rompida: 20 pessoas simultaneamente. – Mais do que isso, ela corre o risco de romper. E foi o que aconteceu – lamentou. Há dois anos os municípios estabeleceram uma parceria para dar manutenção à ponte e a mais recente troca dos cabos de aço aconteceu em março passado. – O que podemos fazer é duplicar a quantidade de cabos, reforçando ainda mais – sugeriu o prefeito Carlos Souza, de Torres.

O histórico da ponte pênsil já iniciou com um mau presságio. Perto de completar 40 anos, em dezembro de 2024, a estrutura caiu logo na inauguração. Foi em 22 de dezembro de 1984 quando prefeitos, padre, vereadores, convidados e curiosos, cerca de 40 (coincidentemente) mergulharam também a contragosto no Mampituba. Na ocasião, a ponte com seus cabos suportava 15 pessoas.

A atual ponte pênsil é uma melhoria da original, uma velha passagem que suportava quatro pedestres, estendida nos anos 60 e que ligava Torres ao vilarejo de pescadores do lado catarinense que, naqueles tempos, era parte do município de São João do Sul. Testemunhas da época recordam que a ponte original era tão “singela” que, em tempos de maré alta, chegava a tocar na água.

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Mas os tempos são outros. Está cada dia mais arriscado expor pedestres a uma travessia necessária (afinal, ela liga os centros das duas cidades, que não podem abrir mão desse fluxo). São muitos os que moram no “Passo”, como dizem os nativos do lado catarinense, e vão trabalhar do outro lado do rio. E a recíproca é verdadeira. Logo, chegou o momento de os governadores lembrarem dos torrões mais distantes de seus gabinetes ao Sul (no caso, Jorginho) e ao nordeste (no caso, Leite).

É imperioso estudar uma alternativa de concreto, com a altura suficiente para não atrapalhar os pesqueiros que ali sobrevivem e dar segurança aos trabalhadores e visitantes que vão e vem, e que não merecem sacolejar nos 30 metros de travessia. Abaixo deles, há um rio com 6 metros de profundidade e potente saída rumo ao Oceano Atlântico.

Atualmente, uma nova passagem para pedestres e ciclistas está sendo construída sobre o Rio Mampituba. Não muito longe da estrutura pênsil recém rompida, uma cabeceira em concreto, rente à ponte que une catarinenses e gaúchos na BR-101, vai em avançada construção para servir a quem não está de carro e quer fazer a passagem com segurança. Prova que é possível fazer. Basta vontade.