– É um milagre ele estar vivo -. Assim, o biólogo Vitor Bastos definiu a situação do macaco bugio que cumpriu uma difícil jornada na última sexta-feira (24) em Criciúma. Ele saiu do Morro Cechinel, uma ampla área verde no Bairro Mina Brasil, e deslocou-se até o Morro do Céu, outra área preservada no Bairro Ceará.

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Se fosse de carro, o bugio teria feito a viagem de 6,1 quilômetros em cerca de 12 minutos. Mas o macaco saltitou entre casas, pulou muros, subiu em telhados e, certamente, atravessou ruas. Mas a pacata manhã de véspera de Natal permitiu que ele só fosse flagrado muito perto do destino final.

– Uma amiga minha o viu cruzando a Avenida Centenário – contou Vitor, citando a via mais movimentada da cidade. Ali, por menos carros que estejam circulando, há um perigo iminente para o animal. E ele venceu essa etapa. E foi curioso que o bugio avançou em direção a outra área de natureza abundante. – Com muita sorte, ele encontrou o Morro do Céu como abrigo – referiu o biólogo.

Mas houve um momento em que a intervenção humana ajudou a salvar o bugio. O flagrante feito por uma mulher na esquina da Avenida Gabriel Zanette com a Rua Cardeal Arcoverde, já muito perto do Morro do Céu, permitiu o trânsito do macaco em segurança. – É, essa amiga minha estava passando ali em direção ao shopping quando viu o bugio em cima do galpão de uma loja ali – relatou o presidente da Associação de Moradores do Bairro Ceará, Jurandir Bitencourt.

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O mapa indicando, na linha rosa, o deslocamento que o bugio fez
O mapa indicando, na linha rosa, o deslocamento que o bugio fez (Foto: Reprodução)

– Ela viu o bugio pendurado no telhado e, em seguida, ele caiu. Essa amiga então correu na minha casa, eu moro ali perto, e me chamou – destacou Bitencourt. A Polícia Militar Ambiental foi acionada mas, como se encontrava em outra ocorrência, a PM de Criciúma se deslocou. – O bugio estava tentando subir um muro para chegar ao Morro do Céu, e não conseguia. Então formamos um cordão, um corredor humano com a vizinhança, e o bugio passou nesse corredor e conseguiu chegar em segurança no parque – detalhou.

Enquanto esse caminho humano foi criado para o macaco chegar ao Morro do Céu, houve um bloqueio no trânsito no entorno, o que colaborou para o desfecho feliz da história. – Voltei ao Morro do Céu nesse fim de semana para caminhar e procurar o bugio por ali, mas não o encontrei. Mas um jovem que estava pedalando por ali me contou que viu ele e mais três macacos. Nos parece que eles estão bem e acolhidos ali – emendou.

Essa preocupação, de uma suposta solidão do bugio que atravessou a cidade no Morro do Céu, foi exposta pelo biólogo Vitor Bastos. – O correto era fazer a captura dele e fazer a soltura numa área mais apropriada para o futuro do animal, onde ele possa ajudar na reprodução da mesma espécie – pontuou. Mas, ao que tudo indica, deu tudo certo para o ousado macaco que encarou 6 quilômetros de travessia da área central de Criciúma para ganhar uma nova casa.

Do novo ao ex-parque municipal

O percurso do macaco é cercado de um simbolismo importante envolvendo o momento da gestão do meio ambiente em Criciúma. O local de onde ele saiu está sendo transformado no Parque Municipal do Morro Cechinel, uma área de 7 hectares que está ganhando um aparelho turístico, um mirante em construção, que terá 30 metros de altitude e deverá ser inaugurado em 2023. O Morro Cechinel é o segundo ponto mais alto de Criciúma, com 250 metros, 10 metros a menos que o Morro Mãe Luzia, localizado no extremo Sul do município, no limite com Maracajá e Araranguá. O Morro Cechinel é, também, conhecido como Morro da TV, pois nele foi fundada em 1978 a TV Eldorado, atual NSC TV Criciúma.

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E o simbolismo da viagem do macaco é ainda maior ao mencionar o destino. O Morro do Céu era um parque ambiental municipal desde 2008, mas a lei municipal que o mantinha nesse status foi revogada neste ano pelo prefeito Clésio Salvaro (PSDB) com aval da Câmara de Vereadores. Desde então, uma luta entre ambientalistas, proprietários das terras e o Executivo têm ocorrido. 

Prefeito Salvaro observando a cidade do alto do Morro Cechinel
Prefeito Salvaro observando a cidade do alto do Morro Cechinel (Foto: Jhulian Pereira / Decom)

O parque municipal extinto contava com 85 hectares de área. O prefeito defende que a Lei da Mata Atlântica, que é federal, garante a manutenção do espaço, e que a lei municipal recém revogada apenas criou um passivo, uma dívida de R$ 200 milhões da prefeitura para com os demais 24 proprietários dos 33 lotes ali existentes. 

A Justiça decidiu que não pode haver qualquer intervenção na área. Durante a semana passada, a prefeitura começou a instalar uma cerca para delimitar os lotes de propriedade do município entre os terrenos privados no Morro do Céu. A Polícia Militar, com os efeitos da decisão judicial, suspendeu a atividade.

Sobre o Mirante Realdo Gugliemi, que está sendo erguido no Morro Cechinel, ele integra o projeto turístico que é uma aposta do prefeito Salvaro: a ligação subterrânea, de 1 quilômetro, com a Mina de Visitação Otávio Fontana. O empreendimento vem sendo tratado como algo único em todo o mundo. Confira abaixo:

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