A empreitada é grande. Embora próximos no espectro político, os líderes de esquerda via de regra encontram dificuldades para jogar no mesmo time em Santa Catarina. E até nas reuniões prévias para tentar afinar um discurso, a equação não parece ser unânime. Isso foi notado mais uma vez do que resultou do encontro deste sábado (14), em Florianópolis.

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Na mesma mesa estiveram lideranças do PT, PDT, PSB, PCdoB, PV e Rede. No mesmo papo, ao menos dois pré-candidatos a governador: os ex-deputados Décio Lima (PT) e Fernando Coruja (PDT). E a anotar ausências dos mais extremos à esquerda, como PSOL e PSTU, que vêm apresentando candidaturas nas disputas recentes. Já aí, um indicativo de que não será tarefa simples reunir a esquerda no mesmo palanque.

Mas o PSOL esteve em um dos bate-papos anteriores, em junho, com o vereador Afrânio Boppré, da Capital. A despeito de eventuais defecções, o clima é de otimismo entre os esquerdistas catarinenses no sentido da formação de uma frente. Há as questões nacionais a serem pontuadas, naturalmente. PT com Lula e PDT com Ciro Gomes não se unem, fato. Mas não chega a ser um fator a inviabilizar, ao que parece, uma coligação estadual. 

O grupo da esquerda que esteve conversando em junho
O grupo da esquerda que esteve conversando em junho (Foto: Divulgação)

Todos colocam como pontos pacíficos a união de esforços para oferecer alternativas ao governador Carlos Moisés e ao presidente Jair Bolsonaro. Todos os envolvidos na conversa deste sábado serão oposição, tanto estadual quanto federal.

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Quem participou

Entre os que estiveram no encontro, além de Décio e Coruja, a ex-deputada Ana Paula Lima (PT, atual suplente de deputada federal); o também petista José Vermohlen, membro da executiva estadual do partido; o deputado estadual Rodrigo Minotto e o vice-prefeito de Itajaí, Marcelo Sodré, ambos do PDT, além do presidente estadual e secretário nacional do partido, o ex-deputado Manoel Dias; o presidente do PV catarinense, Guaraci Fagundes; os representantes do PCdoB, Douglas Mattos (presidente estadual), Anderlise Abreu (presidente em Florianópolis) e Janaína Deitos; mais Homero Gomes (PSB) e outros líderes das siglas envolvidas.

Petistas e a cabeça de chapa

Décio Lima é dos mais empolgados com a possível frente. Acontece que ele foi o quarto entre os oito concorrentes a governador na disputa passada, com 12% dos votos. É um bom capital, com o qual ele pretende se cacifar à cabeça num possível chapão esquerdista. É difícil imaginar que o PT vá abrir mão do 13 na urna, até em nome do projeto de Lula e do necessário contraponto no Estado mais bolsonarista do Brasil. 

E essa missão do PT catarinense poderá, de variadas formas, fazer ao menos o PDT e o PSB repensarem uma eventual união. No caso do PDT, tem Ciro, e no do PSB, tem uma indefinida conjuntura nacional associada ao interesse de alguns setores socialistas em nível estadual por um palanque mais ao centro, o que o PT na frente não terá condições de oferecer.

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Além da candidatura Lula, o PT tem a seu favor, nas negociações para costurar a liderança da esquerda catarinense, o desempenho da disputa passada, quando mesmo desgastado elegeu um deputado federal (por pouco não foram dois) e quatro estaduais em Santa Catarina. Entre os demais, o PDT fez dois estaduais (já perdeu um) e o PSB três (um já saiu e os outros dois só aguardam a janela, ficará zerado na Alesc).

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Décio Lima, fiel defensor de Lula em Santa Catarina
Décio Lima, fiel defensor de Lula em Santa Catarina (Foto: PT-SC / Divulgação)

PSB com um pé cá, um pé lá

O PSB dependerá muito do xadrez político dos principais estados para determinar sua posição. As posturas em São Paulo e no Nordeste serão importantes. A filiação do governador do Maranhão, Flávio Dino, já apontado como um bom vice para Lula, foi um sinal. Expressiva parcela dos socialistas defende apoio a Lula, independente da vaga de vice. Há grupos que simpatizam com Ciro também. 

O ex-deputado Cláudio Vignatti é o presidente do PSB catarinense, na reconstrução do partido mais à esquerda depois do período de Paulo Bornhausen e os seus, já devidamente alojados no Podemos faz algum tempo. Se ergueram vozes no partido, como do vice-presidente estadual Juliano Campos, de um possível apoio a uma eventual candidatura do senador Dário Berger (MDB) para governador, e esse grupo é o mesmo que defende o PSB mais ao centro na disputa de 2022, o que pode ir sutilmente afastando os socialistas das conversas com o grupo esquerdista.

Vignatti lidera a nova fase do PSB catarinense
Vignatti lidera a nova fase do PSB catarinense (Foto: Divulgação)

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Comunistas e pedetistas

O PCdoB, presidido em nível estadual pelo ex-vereador Douglas Mattos, de Criciúma, encara o desafio de encorpar bancadas em nível federal e estadual. Logo, se agrupará nas disputas majoritárias. Provavelmente não ao ponto de oferecer um candidato a vice-presidente, como foi com a deputada gaúcha Manuela D´Avila, que esteve na chapa de Fernando Haddad (PT) em 2018. O namoro nacional com o PSB, que poderia resultar numa fusão, foi por água abaixo.

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Os comunistas estiveram mais próximos do PDT em 2018 em Santa Catarina. Ambos fizeram parte da ampla coligação que respaldou Gelson Merísio (PSD) ao Governo do Estado, e se uniram na nominata à Câmara Federal que elegeu Hélio Costa (do então PRB) e Rodrigo Coelho (PSB) e teve a terceira suplente Ângela Albino (PCdoB) e o quarto, Manoel Dias (PDT). Em nível estadual, o PDT elegeu os deputados Rodrigo Minotto e Ana Paula da Silva (a Paulinha, que foi expulsa do partido) e tem César Valduga (PCdoB) como primeiro suplente.

Fernando Coruja, o pré-candidato do PDT, ao lado do deputado Minotto
Fernando Coruja, o pré-candidato do PDT, ao lado do deputado Minotto (Foto: Divulgação)

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O PDT tem participado das reuniões do grupo mas parece muito inclinado às suas candidaturas próprias, focando na composição de bancadas e na garantia de palanque para apoio a Ciro Gomes. Porém, a definição pela volta das coligações proporcionais vai mexer no jogo. Os pedetistas garantem que estavam com nominatas completas encaminhadas para Câmara e Alesc. Agora, com coligação, é mais fácil unir os interesses e demandar menos forças por partido para chegar aos votos almejados nas legendas.

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