Nunca a troca de uma bandeira rendeu tanta repercussão em Criciúma. Na última quinta-feira (30) a coluna levantou a mudança do pavilhão da Palestina pelo da Arábia Saudita na representação dos árabes no Parque das Etnias, no Bairro Próspera. O fato repercutiu nas redes sociais e muitos integrantes da comunidade árabe da cidade, calculada em cerca de 300 pessoas, reclamaram.

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– Devolvam a bandeira da Palestina ao Parque das Nações – reclamou o filho de árabes Ziad Jaber. O pedido foi atendido e, poucas horas depois da postagem (no fim da manhã de quinta) a bandeira da Palestina estava lá de novo. – Não é uma bandeira nova, resgatamos a antiga e a recolocamos ali – explicou o diretor de Turismo da Fundação Cultural de Criciúma (FCC), Ismail Ahmad Ismail.

O expediente, de resgatar as bandeiras removidas, não é recorrente. A prefeitura de Criciúma faz compras de bandeiras novas a cada 5 ou 6 meses para trocas. – É que ali bate muito vento, e as bandeiras precisam ser trocadas – lembrou Ismail. Ele reforçou que houve uma falha do fornecedor ao encaminhar uma bandeira da Arábia Saudita como representação dos árabes de Criciúma. Há 10 anos o Parque das Nações expõe a bandeira da Palestina, e muito antes disso os árabes já faziam o mesmo nos eventos nos quais se faziam representar na cidade.

A bandeira da Arábia Saudita tremulou por cerca de 10 dias até a troca
A bandeira da Arábia Saudita tremulou por cerca de 10 dias até a troca (Foto: Denis Luciano / NSC Total )

– Acho que nunca uma família da Arábia Saudita veio para cá. Já os palestinos são mais de 80% dos árabes de Criciúma – calculou Ziad. Ismail vai além. – Mais de 90%. É uma característica da imigração árabe para Criciúma. Em outras partes de Santa Catarina, existem árabes de outras origens, mas daqui a maioria absoluta é de palestinos mesmo – recordou o diretor de Turismo. – Por isso que a mesquita de Criciúma é palestina, a rua onde fica a mesquita é a Rua Palestina – detalhou.

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O simbolismo da troca

A troca das bandeiras passa longe de ser um capricho por parte de quem reclamou. Há todo um simbolismo. Os palestinos (e os de Criciúma, muitos filhos e netos não são diferentes) lutam pela autonomia do território da Autoridade Palestina, que vive no epicentro de uma crise diplomática antiga com o Estado de Israel. A Arábia Saudita, embora teoricamente alinhada à causa palestina e opositora do regime israelense, é vista com certa desconfiança. Há árabes que entendem que, por sua força econômica e por deter peso na matriz do petróleo, os sauditas poderiam ser mais incisivos em relação à causa palestina.

Por essas e outras que a troca da bandeira não caiu muito bem. Mas o paliativo serviu para resolver o problema. – E a bandeira nova já está a caminho – garantiu Ismail, que se moveu rapidamente para evitar novos desdobramentos da breve crise árabe instalada em Criciúma por conta do episódio. 

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Aniversário da colonização

A discussão tornou-se pertinente por esses dias, já que na próxima quinta-feira (6) Criciúma comemora seus 142 anos de colonização. E as etnias representadas fazem alusão justamente aos pioneiros do município. Na lista das sete estão italianos, poloneses e alemães, que efetivamente chegaram nos primeiros anos a partir de 1880, além de portugueses e espanhois, que vieram numa segunda leva, e mais adiante os africanos e os árabes.

E essas sete etnias contam com diretorias próprias para promoção de eventos culturais e gastronômicos em Criciúma, tomando parte da chamada União das Etnias. Elas estarão sendo chamadas nas próximas semanas em Criciúma para a retomada da Festa das Etnias, principal evento do município, realizado desde 1989 e que sofreu descontinuidade nos últimos dois anos, por causa da pandemia de Covid-19. 

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– Podemos voltar a fazer eventos, se tudo continuar como estamos, com avanço da vacinação, que tenhamos um ano bem melhor em 2022, vamos voltar a conversar com o pessoal das etnias e ver se existe essa possibilidade, de repente fazendo algumas mudanças no formato – comentou Ismail. – A cidade sempre pede pela volta do formato mais antigo, é algo que será colocado na pauta para a gente ver ao longo do ano – emendou. O formato mais antigo citado pelo diretor é o estilo “quermesse”, como se fazia no passado, com banquinhas de comida e atrações culturais em algum ponto público, externo, e não em pavilhões fechados, como se fez nos últimos anos. Houve uma tentativa recente, no Parque das Nações, sem sucesso.

Logo, a polêmica da troca das bandeiras dos árabes ajudou a despertar a discussão sobre a volta da Festa das Etnias em Criciúma. Um resultado prático para o turismo local e regional.

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