Gigante e assustadora. Possante e imponente. Mas também destruidora. A passagem de 33 anos da mega escavadeira Marion por Siderópolis, no Sul de Santa Catarina, deixou marcas que insistem em não cicatrizar. Há memórias saudosistas, até positivas daqueles que admiram o operar de uma máquina tão grandiosa. Mas há o passivo ambiental, resultante de tempos em que minerar carvão passava à margem das regras hoje tão apuradas.
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A Marion 7800 fabricada em Ohio, nos Estados Unidos, veio para o Sul do Brasil por encomenda da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que precisava acelerar a exploração de carvão visando a plena operação das unidades de produção de aço e ferro em Volta Redonda, no Rio de Janeiro. Nesse sentido, deu certo.

O carvão estava na superfície em Siderópolis, e a Marion, que operou na cidade de 1958 a 1991, não titubeou em, por anos a fio, escavar e escavar.
Até que, em 1991, com a saída de cena da CSN, a Marion mudou de mãos. Foi vendida por 2 milhões de dólares para a Petrobrás, que a desmontou e a transportou para São Mateus do Sul, no Paraná. Lá, ela começou a atuar na extração de xisto. Sua aposentadoria foi anunciada há poucos dias. Agora, ela é apenas uma peça de museu. Museu ao ar livre, claro, por conta da sua dimensão. Ficará como objeto de exposição.
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No vídeo abaixo, um dos últimos operadores da Marion narra os últimos momentos da Marion no Paraná:
Saga da Marion virou filme
Recentemente, um grupo de cineastas e amantes da arte, que se reúnem no Polo de Cinema de Criciúma, resgataram a história da Marion. Foram até Siderópolis, passaram por São Mateus do Sul, uniram os pontos e criaram o enredo que deu à luz ao curta-metragem “Marion, galos e passarinhos”, cujo pré-lançamento já se deu no canal do grupo no YouTube.
O filme foi custeado pela Lei Aldir Blanc, e contou com a direção do cinéfilo criciumense Sander Hahn.
Nove meses para desmontar
A aposentadoria da máquina tira de cena uma gigante de 6,4 mil toneladas, com capacidade de 145 toneladas de carga, 23m³ de caçamba de 70 metros de lança, que é a sua plataforma para içar e carregar a terra revirada. A Marion é tão grande que, quando da sua venda da CSN para a Petrobrás, foram necessários nove meses para o desmonte, de outubro de 1991 a junho de 1992, e 112 carretas transportaram a estrutura do sul de Santa Catarina até o Paraná, conforme conta o historiador Nilso Dassi, profundo conhecedor da história da região carbonífera.
Os engajados na causa ambiental não guardam saudades da Marion. Pelo contrário, evocam o seu uso como a razão de um ainda grande passivo ambiental. Lembram que, na época da venda da escavadeira, a luta foi para que a Petrobrás arcasse com a recuperação das terras escavadas, enquanto a Marion não saísse de Siderópolis. Não deu certo. Entre os testemunhos, o do professor Gerson Philomena, que conta que “a Marion extraia tudo o que via pela frente”. O resultado: paisagens lunares no interior de Siderópolis, com crateras que se tornaram lagos de água contaminada e com coloração diversificada.
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Muitas dessas extensões passaram por investimentos posteriores de recuperação, por parte das mineradoras que sucederam as atividades da CSN na região, e hoje a mineração envolve processos bem distintos. O maquinário tem cada vez menos operação humana e o passivo precisa ser administrado ao mesmo tempo em que o terreno é minerado.
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