Os acampados diante de quartéis Brasil afora anunciam atos que prometem barulho e repercussão para este 15 de novembro. Atos supostamente democráticos, mas que versam sobre temáticas inconstitucionais. Esses manifestantes estão diante de uma importante confirmação: a de que tais mobilizações, que já nasceram com causas difusas e de difícil justificativa lógica, deram o que tinham que dar. O 15 de novembro tem tudo para ser o limiar do fim da eleição. Não há terceiro turno, nunca houve. É, então, hora de ir para casa.
Continua depois da publicidade
É hora do desembarque dessa aventura com forte odor de golpismo por diversas razões que daqui, de Criciúma, podemos exemplificar com a perspectiva local que se estende a toda e qualquer praça que convive com tal fadiga. Aqui, os bolsonaristas (sim, são todos bolsonaristas, sem exceção, embora tentem descolar o rótulo por medidas orquestradas) acamparam diante da unidade do 28º Grupo de Artilharia de Campanha (28 GAC) na Rodovia Luiz Rosso, o acesso Centro de Criciúma à BR-101.

O movimento começou pacífico, de uma reunião aparentemente espontânea na noite de 1º de novembro, há exatas duas terças-feiras. As primeiras centenas que ali chegaram, carregando bandeiras e faixas (em especial as que pediam a tal “Intervenção Federal”, até hoje mal explicada), estavam munidos do entusiasmo pós-eleição dos que perderam nas urnas, mas encontravam-se aditivados pela munição fértil das fake news. Um breve questionário entre os manifestantes (e o fizemos, in loco) indicava um proliferar desconexo de razões, que iam desde a dita improbidade do vencedor da eleição até a suspeição do sistema eleitoral, do Supremo Tribunal Federal (STF) e a tal fraude, que não foi atestada nem por indicados pelo próprio presidente da República para fiscalizar a eleição.
Logo, na falta de argumentos palpáveis para conferir legitimidade prática ao movimento (a não ser o grito dos que perderam a eleição), é preciso avançar ao campo urbano, das cidades. Em Criciúma (e em grande parte das cidades onde há tais campanhas) áreas de segurança nacional estão irregularmente ocupadas. É sabido, desde sempre, que vizinhança de quartel tem esse status. Instalar barracas, banheiros químicos, dormitórios e cozinhas improvisadas, como temos testemunhado, é uma ocupação irregular, que ali só persiste por uma benevolência patriótica do Exército que, ao menos em Criciúma, assiste um tanto anestesiado ao cenário posto. Os recrutas seguem chegando e saindo, desembarcando dos carros que os levam e os buscam, sem qualquer indicativo de que encontram-se na iminência de pegar em armas para desfechar algum golpe sonhado pelo naco ali concentrado.

Há mais reflexões urbanas a justificar o fim do movimento. Em toda parte, carros estacionam sobre calçadas e acostamentos pelos apoiadores, em evidentes infrações de trânsito. Se as multas ainda não foram geradas, mesmo diante da sanha arrecadadora de gestores municipais em toda parte, é por outra benevolência patriótica. Está na hora de sacar o bloco de multas e a caneta do bolso. Em tempo: Criciúma iniciou a operação, faz poucos dias, de um novo sistema de estacionamento rotativo, eficaz e inclemente com os infratores. Não vigora na região do quartel, mas que ali seria um bom exemplo aos maus motoristas que ignoram regras básicas de estacionamento, não há dúvidas…
Continua depois da publicidade
E mais: os grupos envolvidos em tais protestos já demonstraram uma capacidade ímpar de mobilização. Em Criciúma, um dos líderes da manifestação garante que há, ali, mantimentos para até quatro meses de acampamento. Eis uma boa oportunidade de prover as famílias necessitadas dos bairros e vilas com alimentos que farão a diferença para tocar a vida na realidade, assim como poderão fazer os acampados.

E nessa capacidade de mobilização, que continuem acampados nas redes sociais, onde não atrapalham o trânsito, nem tumultuam as cidades muito menos tiram a paz de vizinhos. E ali podem continuar (desde que não abusem das fake news, claro) as suas articulações para a próxima eleição, que é onde a democracia acontece. São grupos numerosos, com votos e condições de voltar a eleger um presidente da República, assim como fizeram em 2018 e por pouco não repetiram a dose em 2022. Enquanto isso, cabe a tais “patriotas” cumprirem o papel que a democracia determinou: o da oposição responsável e constitucional no Congresso Nacional, onde estão pesadamente representados.
Então, patriotas, chegou a hora de ir para casa. Há um país a ser tocado.