*Por Keli Magri, interina
A região que tem no agronegócio sua maior força econômica começa a despontar também como polo tecnológico no Estado, onde o setor movimenta R$ 11 bilhões por ano. A Capital do Oeste, Chapecó, é a 13ª do país com maior número de startups e abriga 80% das 110 empresas que produzem tecnologia e apostam na inovação para ascender no mercado. Juntas, elas respondem por 10 mil empregos, metade deles diretos, e movimentam milhões de reais por ano na economia regional. O crescimento do setor, que alcança 30% ao ano, é visto pelo poder público local como nova aposta econômica.
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– Se eu tivesse que apostar, diria que o segmento de tecnologia será o de maior crescimento no segundo centenário de Chapecó – afirma o prefeito, Luciano Buligon, ao administrar a cidade que concentra 75% das riquezas na produção agrícola e pecuária. O município espera a conclusão da obra do Centro de Inovação Tecnológica, em convênio com o governo do Estado – atrasada dois anos – e o sonho da construção do Distrito de Inovação com capacidade para abrigar 300 empresas – em parceria com empresários e universidades -, para acelerar o desenvolvimento do setor. Para esta última obra já há espaço definido, uma área de terra de 204 mil m², porém faltam recursos para execução, cerca de R$ 30 milhões a serem buscados nas esferas públicas estadual e federal.
– Embora importante para a conectividade, para o compartilhamento de ideias e pessoas num mesmo espaço, características fortes do nosso setor, a parte física não é tão determinante. O que precisamos é desenvolver o aperfeiçoamento, o treinamento para ensinar a mente a pensar e para fazer as pessoas criarem – argumenta o presidente da Associação Polo Tecnológico do Oeste Catarinense (Deatec), André João Telöcken. A fala do presidente encontra respaldo na falta de mão de obra qualificada na região. Segundo Telöcken, a insuficiência de profissionais impede o crescimento maior do setor.
– Hoje, com todo o desemprego que vemos no país, aqui todas as empresas de tecnologia têm pelo menos duas vagas em aberto por falta de qualificação. Se tivéssemos mais 200 profissionais, todos estariam empregados.
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O negócio é a solução de problemas
Que a tecnologia está em avanço constante, que a internet já se tornou essencial e que as máquinas já dominam a linha de produção todo mundo já sabe. O que todos cada vez mais se perguntam é como o homem pode ganhar dinheiro com isso. A resposta, tanto do presidente da Deatec, André Telöcken, quanto do sócio da 1Bi Capital, aceleradora de startups e investidora anjo de Chapecó, Andrei Bueno Sander, é a mesma: encontrar a solução viável para um problema. Foi o que os novos empreendedores chapecoenses Ricardo Sponchiado e Sérgio Venicius Vanin fizeram. Após passarem pela incubadora tecnológica durante o curso de Sistemas de Informação na universidade e por um intercâmbio na área fora do país, os dois se tornaram sócios e fundaram a empresa de softwares HUB2B para resolver um problema de lojistas do país inteiro. Eles criaram um sistema para conectar marcas aos canais de venda, economizando tempo operacional aos comerciantes.
– A ideia surgiu na minha viagem de intercâmbio na Índia. Trabalhei lá durante dois anos em uma empresa que criou um sistema para integrar e conectar as empresas, possibilitando a troca de demandas entre elas. Trouxe a ideia para cá e iniciamos o projeto – conta Sérgio.
O projeto começou na incubadora, foi selecionado pelo programa Startup SC do Sebrae em 2014 e pela InovAtiva Brasil em 2015.
– No início, como técnicos na área, focamos muito no produto. Não falamos com o cliente e esse foi o nosso maior erro. Quando passamos a ouvir o cliente, entendemos a sua necessidade e apresentamos uma solução, aí o negócio cresceu – complementa Ricardo.
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A startup de Ricardo e Sérgio é uma das três apoiadas pela aceleradora 1Bi Capital de Andrei Bueno Sander, que investe em projetos no Oeste com a pretensão de se tornar uma empresa com US$1 bilhão de capital nos próximos 10 anos. A HUB2B, que começou com uma ideia para solucionar um problema e com investimento zero, em quatro anos tem 17 funcionários, mais de 300 clientes e faturamento anual de R$ 1 milhão.
– A aceleradora é um unicórnio. Investimos em boas ideias que surgem de jovens empreendedores lapidadas nas incubadoras e que precisam de investimento para crescer. Entramos com mentoria, organização, estrutura física e ajudamos na busca por fundos de investimento maiores – explica Andrei, cujo investimento total foi de R$ 300 mil em 2017 e projeta crescer 30% neste ano.
– A tecnologia não tem fronteiras e não é moda passageira. Estamos apenas no começo, no primeiro minuto do primeiro tempo. Temos muito a crescer numa região que tem vocação empreendedora – projeta.
Startups em Chapecó
Além da Deatec e da 1Bi Capital, as universidades oferecem apoio às ideias inovadoras no setor, por meio das incubadoras e pré-incubadoras tecnológicas. A Unoesc oferta a pré-incubadora para desenvolvimento de novos negócios. Podem se inscrever alunos, egressos da Unoesc e colaboradores, inventores autônomos e a comunidade em geral. A partir de uma ideia nova, o interessado pode ser selecionado e passa por um processo de desenvolvimento do conceito, que pode incluir pesquisa e desenvolvimento de um protótipo, além da elaboração de um plano de negócios. A ideia selecionada receberá apoio técnico, comercial e jurídico para se desenvolver.
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Já a Unochapecó disponibiliza a Incubadora Tecnológica (IncTech), que também se caracteriza por ser um mecanismo de transferência de tecnologia para inovação dos projetos de pesquisa. Atualmente são 23 projetos apoiados, além de três empresas já colocadas no mercado. A seleção é feita duas vezes por ano e pode ser inscrito tanto o produto pronto quanto somente a ideia. A incubadora trabalha para validar a ideia, desenvolver o produto e auxiliar com consultoria e captação de recursos.