A decisão do Egito em cancelar uma visita diplomática brasileira após o Brasil cogitar a possibilidade de mudar a embaixada em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém, além das manifestações chinesas alertando o presidente eleito Jair Bolsonaro de não imitar a política externa do presidente americano Donald Trump, trouxe certa apreensão para o agronegócio brasileiro.
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Somente a China compra 80% da soja brasileira. E neste ano se tornou a maior compradora de suínos de Santa Catarina. Já os países árabes estão entre os maiores compradores de frango. Dos dez maiores mercados desse produto, cinco são árabes. O Egito, por exemplo, comprou 2,2 mil toneladas no mês passado, um crescimento de 105% em relação a outubro do ano passado.
O engenheiro agrônomo Alexandre Giehl, que é analista do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri, fez um cálculo apontando que esse mercado da China, incluindo Hong Kong, mais os países árabes, representam vendas de US$ 914 milhões somente em carne de frango e suíno neste ano.
Apesar da carne de porco não ser consumida por muçulmanos, ela também é exportada para alguns países árabes, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, para abastecer a população não-islâmica. Para chineses e árabes foram exportadas 139 mil toneladas de carne suína, com faturamento de US$ 265 milhões. Isso representa 53% do faturamento e 52% do volume.
No caso do frango, são 414 mil toneladas e faturamento de US$ 648 milhões,o que representa 44% do faturamento e 47% do volume.
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Alexandre Giehl destaca que um estremecimento nas relações com esses países teria impacto negativo para a economia de Santa Catarina.
— Seria péssimo, no caso do suíno a China é nosso principal mercado e os árabes estão entre os principais compradores, mas o impacto mais drástico seria no suíno pois não temos tantos mercados. A China compensou em parte o embargo russo, que durou quase um ano, mas o faturamento ainda está inferior — explica o analista.
Ameaça em momento de boas notícias
Giehl lembra que essa ameaça vem justamente num momento de boas notícias no mercado externo, como a reabertura do mercado russo e uma recuperação nas exportações.
Nas agroindústrias a avaliação é de que o novo governo vai ouvir o setor e não tomará medidas que prejudiquem as negociações.
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— Não vejo nada que possa afetar. Claro que as relações comerciais tem interferência das relações diplomáticas. Mas o novo presidente ainda nem sentou na cadeira. Nossa relação com a China está boa, eles são grandes parceiros, assim como os árabes. Acho que é prematuro falar em crise — disse o diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados de Santa Catarina, Ricardo Gouvêa.