A situação se agrava a cada dia no campo, onde já há sacrifício de pintinhos que não podem ser transportados, leite jogado fora pois não pode ser recolhido e racionamento de comida para os animais.

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– Estamos chegando à beira do caos, temos caminhões com produto estragando, leite sendo jogado fora por não ter onde estocar, milhares de pessoas paradas, risco de violência nas estradas e a partir da semana que vem vai começar a faltar produto nos supermercados, a conta vai ser salgada – afirmou o presidente do Sindicato das Indústrias de Leite e Derivados (Sindileite), Valter Brandalise.

Ele afirmou que cerca de 50 indústrias, que empregam cerca de 15 mil pessoas, estão parando e sete milhões de litros de leite por dia serão jogados fora. Alguns produtores estão descartando leite desde quarta-feira.

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Um deles, o produtor Eliberto Rissi, de Xaxim, já jogou fora 1,5 mil litros. Também já transformou 500 litros em queijo e doou mais 500 litros.

É que ele não tem onde guardar a produção, de 550 litros por dia. Todos os dias, Rissi acorda às 5h30, faz a ordenha às 6h, para depois jogar fora o leite.

– Pensa na tristeza que dá, e não dá para levar esse leite e distribuir na cidade pois pode ser multado pela fiscalização, é desanimador, às vezes a gente pensa em nem fazer os serviço, mas as vacas precisam ser ordenhadas – disse.

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A indignação do agricultor foi tanta que ele gravou um vídeo na segunda-feira e postou nas redes sociais, criticando o bloqueio dos caminhoneiros, falando que eles deveriam parar Brasília.

A repercussão foi tanta que até começou a receber ameaças e resolveu retirar o vídeo das redes sociais.

Rissi já teve R$ 2,5 mil em prejuízo só com o leite descartado. Enquanto isso, continua com a despesa para alimentar 22 vacas. O custo de produção é de R$ 10 mil por mês. E o lucro é cerca de R$ 3 mil.

O produtor investiu R$ 500 mil há quatro anos para iniciar a produção. Tem ainda cerca de R$ 250 mil para pagar. A próxima parcela, de R$ 5,5 mil, vence em agosto.

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– Não vale a pena, estou pensando em pagar as dívidas e parar de produzir – lamentou.

O presidente em exercício do Conseleite, que reúne indústrias e produtores, José Carlos Araújo, disse que a entidade apoia o movimento dos caminhoneiros, pois o diesel é um dos componentes de custo da produção, mas que a paralisação aumenta os prejuízos no campo a cada dia.

– Não há mais espaço nas câmaras frias e os produtores desde anteontem (dia 23) estão jogando leite fora – declarou.

O presidente do Sindicato Rural de Chapecó, Ricardo Lunardi, disse que as entidades vão solicitar prorrogação de dívidas aos bancos pois sem remuneração os produtores não terão como pagar os empréstimos.

 

Falta de ração e pintinhos sacrificados

A Associação Brasileira de Proteína Animal divulgou nesta sexta-feira (25) que um bilhão de aves e 20 milhões de suínos poderão morrer nos próximos dias por falta de ração. Em Santa Catarina são 118 milhões de aves e cinco milhões de suínos.

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Lurdes Curtarelli, de Xaxim, tem 1,2 mil suínos com 80 quilos cada e ração somente até sábado (26).

– Recebi ração na quinta-feira passada e ontem (24) era para receber 18 mil quilos e a empresa só conseguiu mandar dois mil quilos. O consumo é de 1,3 mil quilos por dia e estou dando só 500 quilos. Os bichos sofrem, perdem peso e se não vier ração eles vão começar a brigar e morrer – disse a suinocultora.

O presidente da Associação dos Produtores Integrados de Ovos Férteis do Oeste de Santa Catarina, Fernando Rossa, disse que há racionamento de fornecimento de ração para os frangos e sacrifício de pintinhos.

– Ontem (24) nós conseguimos negociar a liberação de alguns caminhões de ração mas voltaram a bloquear nesta sexta-feira (25). Também já há sacrifício de pintinhos – afirmou.

 

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