Santa Catarina teve um crescimento estimado em 9% na produção de leite em 2017 em comparação a 2016, segundo a Epagri. Além do bom clima e do trabalho dos agricultores e da indústria, um dos componentes que vem auxiliando neste crescimento são as pesquisas da Epagri. A empresa estadual já desenvolveu a variedade de grama missioneira gigante e, no ano passado, lançou a catarina gigante, em Canoinhas, pastagens adaptadas ao clima do Estado e à alta produtividade.
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Em Chapecó, no Centro de Pesquisa para a Agricultura Familiar, há mais de 10 anos vem sendo feito um trabalho de melhoramento genético de aveia e azevém, de olho em cultivos mais produtivos nos próximos anos.
Também foi criado há pouco mais de um ano, em Chapecó, o “bastão forrageiro”, que nada mais é do uma régua que indica a altura ideal para se colocar ou retirar o gado da pastagem. O instrumento é o resultado das pesquisas de Felipe Jochims, doutor em Zootecnia. Ele analisou qual o momento correto para se obter o melhor aproveitamento dos diferentes tipos de grama. Na missioneira gigante, por exemplo, a altura de entrada do gado no campo é com 29 centímetros, senão o pasto começa a ficar velho, e a de saída é de 12 centímetros, para evitar que a planta fique tão fraca que demore a se recuperar ou que comprometa o solo.
Com isso, o rodízio entre os piquetes — uma subdivisão da área de pastagem — diminui de 28 a 35 dias para 18 a 21 dias. Ou seja, dá para usar novamente a área de pasto em menos tempo.
Foram distribuídos 330 bastões para os extensionistas da Epagri em todo o Estado. E o gráfico com as medidas é disponibilizado gratuitamente. Basta solicitar na Epagri de Chapecó.
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Jochims também pesquisa diferentes níveis de adubação, uso de dejetos suínos e consórcio entre gramíneas e amendoim forrageiro, que ajuda a fixar nitrogênio no solo e diminui o uso de ureia.
— A bovinocultura de leite deve continuar crescendo muito aqui no Oeste de Santa Catarina pois apenas com mudanças no manejo, sem gastar mais em adubação, é possível aumentar em 40% a produção de pasto em relação ao manejo que vem sendo feito tradicionalmente — explicou Johims.
Solução para a falta de milho
Outra pesquisa desenvolvida no Cepaf/Epagri é de consórcio entre pastagem e silvicultura. Jochims está pesquisando qual a melhor distância entre as árvores, para obter melhores resultados. Estão sendo testadas linhas de 15, 20, 25 e 30 metros de distância umas das outras. O espaço entre as árvores é de três metros cada no início, mas com o manejo devem ficar somente uma a cada nove metros.
— O objetivo é proporcionar bem-estar ao animal, que sofrerá menos com o sol e com isso se alimentar mais, além de ter mais um ganho de renda com a madeira — afirma o pesquisador.
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Ele destacou que existem 204 propriedades de referência no Estado, onde são aplicadas as tecnologias pesquisadas na Epagri, e que servem de modelo para outros produtores. Nestas propriedades são realizados os chamados “Dia de Campo”, onde os vizinhos vão conhecer as novidades de manejo.
O zootecnista Vagner Miranda Portes, doutor em Biotecnologia e Biociências pela UFSC que também trabalha com bovinocultura de leite, destaca que o foco da Epagri é a produção de leite com base no pasto. Com isso, o custo de produção cai pela metade, de R$ 0,98 para quem usa base de milho, para R$ 0,55 na produção à base de pasto. Isso também ajuda a aliviar a demanda por milho, já que Santa Catarina é deficitária no produto.
Laboratório de sanidade animal vai ajudar na qualidade
Além das pesquisas para aumentar a produção, o Cepaf/Epagri inaugurará em julho o Laboratório de Biotecnologia em Sanidade Animal. Já foram investidos mais de 200 mil em equipamentos, segundo o zootecnista Portes. Alguns equipamentos permitem fazer análise molecular do leite e identificar geneticamente as doenças. Portes disse que desenvolveu em seu doutorado uma metodologia que utiliza a biologia molecular para multiplicar cópias de sequência do DNA e facilitar essa identificação.
— Essa metodologia se destaca pela rapidez de resultados, sendo economicamente acessível, permitindo mapear pelas amostras as propriedades que têm doenças como mastite, além de ser útil na identificação de doenças relevantes para a saúde pública, como listeria e brucelose — afirma o zootecnista.
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Segundo ele, das 80 mil propriedades produtoras de leite no Estado, 73,9% estão no Oeste.