Frigoríficos foram afetados com a greve dos caminhoneiros. (Foto: Angélica Luersen / especial)

O Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados de Santa Catarina (Sindicarne) afirma que todos os frigoríficos do Estado estão sendo afetados de forma total ou parcial com a paralisação dos caminhoneiros. A estimativa da entidade é de que 50 mil trabalhadores do setor estejam parados. 

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Algumas empresas suspenderam as operações ainda na última quarta-feira (23/5), como as unidades da JBS de Ipumirim e Itapiranga e as da BRF de Campos Novos e Concórdia. Já a Aurora paralisou todas as unidades a partir da manhã desta quinta-feira (24/5). Ainda segundo informações do Sindicarne, a previsão é de que outras empresas que ainda estão atuando parem as atividades nas próximas horas.

Ao vivo: Acompanhe os efeitos em SC da paralisação dos caminhoneiros

Em nota, a entidade afirmou que a greve “afetou a imensa cadeia produtiva da carne, forçando a suspensão das atividades de dezenas de indústrias frigoríficas e prejudicando as atividades pecuárias em mais de 20 mil propriedades rurais”. 

No texto, que está na íntegra abaixo, a entidade e a Associação Catarinense de Avicultura (ACAV) afirmam que “nas áreas urbanas, as plantas industriais de abate e processamento de aves e suínos deixaram de receber cargas vivas e insumos, ao mesmo tempo em que estão impedidas de escoar os produtos acabados para os portos e os grandes centros de consumo. A capacidade de estocagem a frio dessas unidades está exaurida e o processo produtivo resultou estrangulado. Dessa forma, os frigoríficos paralisaram parcial ou totalmente as atividades em todo o Estado”.

Abrangência
A paralisação nas atividades da Aurora afeta diretamente 28 mil trabalhadores. A maioria destes funcionários atua em Santa Catarina, onde estão localizadas 11 das 16 unidades da empresa que estão sendo afetadas. Em uma delas, no bairro Saic, em Chapecó, apenas funcionários de manutenção e limpeza estavam trabalhando na manhã desta quinta-feira. No local, 15 caminhões com câmara fria estavam parados no pátio e um caminhão de transporte de suínos estava vazio do lado de fora.

Na BRF de Chapecó o principal efeito até o momento ocorre no setor de perus, que abate cerca de 30 mil animais por dia. Atualmente, a paralisação atinge 1,2 mil funcionários de um total de cinco mil que atuam na unidade. Na linha de frango, onde são abatidos 220 mil animais por dia, as atividades devem continuar.  – A empresa optou tentar continuar com o abate de frangos, pois tinha ainda animais para abater hoje pela manhã (quinta-feira, 24/5). Se não conseguirem continuar as atividades, vão dar treinamento para os funcionários – disse o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Carnes e Derivados (Sitracarnes) de Chapecó, Jenir Ponciano de Paula. 

Transporte
O transporte da carga que deveria ser ter ocorrido pela manhã na BRF de Chapecó ainda não foi realizado devido ao bloqueio dos caminhões em rodovias de todo o Estado.

O motorista Antônio Rosina, que trabalha para uma empresa de transportes, estava parado desde às 5h da manhã no pátio de um posto de combustível. Eram 9h e ele ainda não tinha saído.
– Estou esperando uma ordem da empresa, pois trancaram no interior também e estão ameaçando apedrejar os caminhões que tentarem passar. Não tem o que fazer. Ontem consegui trazer uma carga de 3,2 mil frangos, mas hoje não saí daqui ainda. Não dá para arriscar. As últimas cargas que chegaram foram de madrugada – contou.

Veja os locais onde há paralisação dos caminhoneiros em SC nesta quinta-feira

Confira na íntegra nota do Sindicarne e da Acav emitida nesta quinta-feira:

O Sindicato das Indústrias da Carne e Derivados no Estado de Santa Catarina (SINDICARNE) e a Associação Catarinense de Avicultura (ACAV), em face da continuidade da greve dos caminhoneiros, vêm a público para manifestar sua preocupação com as graves – e algumas irreparáveis – consequências desse movimento para a economia e a sociedade catarinense e brasileira.
A paralisação total da circulação de bens, mercadorias, matérias-primas e insumos nas rodovias estaduais e federais afetou toda a imensa cadeia produtiva da carne, forçando a suspensão das atividades de dezenas de indústrias frigoríficas e prejudicando as atividades pecuárias em mais de 20 mil propriedades rurais.

No campo, os estabelecimentos rurais que atuam nas áreas de avicultura, suinocultura e bovinocultura leiteira deixaram de receber ração para nutrição animal, pintinhos e outros serviços e insumos, sendo obrigados a adotar a restrição alimentar em seus plantéis. Simultaneamente, a produção acabada não pode ser retirada. O prolongamento da greve colocou a base produtiva agropecuária em situação de gravíssimo risco, determinando a inutilização de milhões de litros de leite que já começam a ser descartados e colocando em sofrimento nutricional os animais.

A ameaça atual e iminente é de perda massiva de ativos biológicos com início de mortandade nas principais regiões produtoras. Santa Catarina tem um plantel permanente de 5 milhões de suínos e 118 milhões de aves alojadas que, a partir de agora, entram em regime crítico de sobrevivência. Se esse quadro se confirmar poderá haver imprevisível impacto de ordem sanitária.

Nas áreas urbanas, as plantas industriais de abate e processamento de aves e suínos deixaram de receber cargas vivas e insumos, ao mesmo tempo em que estão impedidas de escoar os produtos acabados para os portos e os grandes centros de consumo. A capacidade de estocagem a frio dessas unidades está exaurida e o processo produtivo resultou estrangulado. Dessa forma, os frigoríficos paralisaram parcial ou totalmente as atividades em todo o Estado.

Além do incalculável prejuízo econômico e financeiro, os óbices que o setor industrial enfrenta agravarão a situação brasileira no mercado mundial em face do não cumprimento dos contratos internacionais de fornecimento de proteína animal a diversos países.

SINDICARNE e ACAV compreendem o drama que os transportadores enfrentam com a atual política de preços dos combustíveis e apelam para que Governo e grevistas aprofundem o diálogo em busca de uma solução com o necessário apoio do Congresso Nacional. É urgente encontrar uma solução, pois, nesse estágio, uma das mais avançadas cadeias produtivas do País está seriamente afetada e a sociedade brasileira ameaçada de desabastecimento.

 

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