O laço preto no quartel do 2º Batalhão da Polícia Militar de Chapecó indicava o luto pela morte da policial Caroline Pletsch, 32 anos, na noite de segunda-feira, durante assalto numa pizzaria, em Natal-RN. O marido, Marcos Paulo da Cruz, 43 anos, também foi baleado, mas sobreviveu.
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No quartel o clima era de choro, lamentação e perplexidade.
– Ela era bem atuante, dedicada ao serviço, quando chegava da rua a gente conversava sobre as ocorrências. Conhecia ela antes de entrar na polícia, quando trabalhava em um banco. Era o sonho dela ser policial. Levei um susto quando soube – disse o soldado Josinei da Silva, que fica na recepção.
Alguns policias até estavam sem farda, tentando auxiliar de alguma forma na situação. A policial Marisa Provensi, é uma dessas pessoas. Ela acompanhou Caroline desde que a soldado entrou na corporação, há cinco anos.
– Quando entrou, ela disse que queria ser como eu, mas ela foi melhor do que eu. Era muito competente, ia além do básico. Na quarta-feira fizemos defesa pessoal. Ela e o Marcos tinham planejado toda a viagem, contaram que tinham locado carro, pousada. Eles tinham viajado para o Nordeste no ano passado e queriam conhecer outras praias. Quando recebi a notícia não consegui falar, não consegui chorar, não consegui dormir, é muito triste – disse Marisa, quase chorando.
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A tenente Débora dos Santos lembrou que, no ano passado, quando teve um dia da comunidade no quartel, Caroline trabalhou até às 3h da manhã e se ofereceu para ser voluntária no dia seguinte.
– Ele estava muito alegre, colocava a farda nas crianças, ligava o rádio, um policial civil até a elogiou dizendo que ela fazia a diferença. Eu estava ao lado e vi o sorriso que ela abriu no rosto. Era referência para todas nós, para todas as policiais que ingressavam na corporação – destacou a tenente.
O sargento Nilton César Orlandi, que foi colega de turma de preparação para a Polícia Militar, disse que um dos sonhos do casal era ter filhos. Marcos tinha dois filhos de um casamento anterior, mas queria aumentar a família.
– Eles já estavam juntos há mais de dez anos, mas normalmente trabalhavam em horários diferentes, antes das férias atuaram na Operação Veraneio, em Balneário Camboriú, agora era o momento de curtirem juntos – afirmou Orlandi.
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Ele contou que dois familiares e um policial militar foram até Natal para dar apoio.
Pela manhã amigos e familiares também foram ao quartel. Mas não conseguiam nem falar mais que uma frase, sem cair no choro.
– Como vou explicar para uma criança de seis anos que ela morreu – disse Leize Cruz, cunhada de Caroline ao falar do sobrinho da policial assassinada.
Ela lembrou que, na última festa de aniversário do filho, Caroline pediu liberação do trabalho para estar presente na hora do bolo.
O vigilante André Muniz, disse que considera Marcos como um irmão.
– Quando tive um acidente de trabalho ele foi a primeira pessoa para quem liguei. Ele sempre foi um cara bem disposto – afirmou.
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O comandante do 2º Batalhão da Polícia Militar de Chapecó, tenente-coronel Ricardo Alves da Silva, lamentou o segundo episódio com morte em menos de duas semanas. No dia 18 de março o policial Claudecir Barrionuevo foi morto num assalto em Chapecó.
– O que mais nos magoa é que eles foram mortos pelo fato de serem policiais. Eram dois policiais comprometidos, que só tinham elogios. Precisamos de leis mais rígidas, pois nosso processo penal é arcaico, de 1941, também precisamos de programas sociais pois não adianta só combater o crime – afirmou comandante.
Caroline tinha 14 elogios em sua ficha policial. Também tinha sido escolhida entre os destaques da corporação no ano passado. Sua foto está na entrada do quartel. Um exemplo, que se foi quando tentava descansar da jornada a que tanto se dedicou.
Antes de ingressar na carreira policial, há quase dez anos, Caroline chegou a atuar como colunista de moda. Daniel Prudente, dono da revista Destaques, onde ela trabalhou, também lamentou a morte da policial.
– É muito triste. Daí passou no concurso da PM. Falei pessoalmente com ela antes dela viajar. Ela me ligou e pediu onde estava. Me encontrou no Centro e disse que iria viajar de férias, descansar a cabeça da correria. Estava feliz. ‘Me encontrei na polícia, disse’.
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O comando da PM fez uma homenagem para a soldado nas redes sociais