O preço do milho subiu 20% em um mês e preocupa criadores de aves, bovinos e, principalmente, suinocultores catarinenses, pois é o principal componente da alimentação. E este é apenas um dos percalços enfrentados atualmente por produtores de carne.

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No caso do milho, a saca de 60 quilos, que estava R$ 26,50 em 1o de fevereiro, aumentou para R$ 32 no dia 1o de março. Isso no preço pago ao produtor de milho. Para quem cobra, o valor chega a R$ 37 e R$ 38, respectivamente.

 Para piorar a situação dos criadores, o preço do quilo vivo de suíno, que chegou a R$ 3,30 no ano passado e estava a R$ 3,10 no início do ano, caiu para R$ 2,90 em fevereiro.

– Os criadores independentes estão tendo prejuízo de R$ 24 por suíno gordo, de 100 quilos, pois o custo de produção aumentou e a remuneração caiu. A situação está bem complicada. Tivemos aumento de produção e a Rússia, que esperávamos a reabertura de mercado para fevereiro, ainda não retomou as compras – disse o presidente da Associação Catarinense dos Criadores de Suínos, Losivânio de Lorenzi.

No ano passado, a Rússia comprou 100 mil toneladas das 276 mil exportadas por Santa Catarina. Desde dezembro houve um embargo. O país alegou ter encontrado substância não permitida no produto, o  que foi rebatido pela indústria nacional.

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A China aumentou as compras neste início de ano, mas não o suficiente para compensar a falta do mercado russo. Aliado a isso houve um aumento de 4% na produtividade e 4% na produção catarinense, segundo o presidente da ACCS.

O suinocultor Devanir Cozer, de Xaxim, entrega 500 leitões por mês para um produtor independente. Para ele, no momento a atividade não está remunerando, mesmo produzindo quase todo o milho que consome sua criação.

– Está no limite, não fosse eu mesmo fazer a ração e silagem de grão úmido, teria que parar com a criação. Subiu o milho, subiu o farelo de soja, subiram os minerais usados na ração e o preço do suíno caiu. Vamos tentar manter a criação e esperar melhora de preço – afirmou Cozer.

Embrapa alerta que custo vai subir mais

O economista da Embrapa Suínos e Aves de Concórdia, Ari Jabas Sandi, ainda não fechou o custo de produção de fevereiro mas já alerta que vai subir.

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– Esse aumento é preocupante, mas não por falta de aviso. No ano passado houve uma grande exportação de milho para o Egito e, com a redução na safra nacional, os estoques estão mais baixos, por isso o mercado pressiona o preço – explicou Sandi.

Ele comenta que também há uma especulação no mercado alimentada por uma previsão de quebra de safra na Argentina.

O diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados de Santa Catarina (Sindicarne) e da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), Ricardo Gouvêa, avaliou que neste ano o milho não deve aumentar como em 2016, quando chegou a R$ 45 para o produtor e R$ 60 para a indústria.

– Temos que esquecer 2016, aquilo foi um ano atípico, o produtor de milho também não poder esperar que a saca de milho vai chegar naqueles patamares. Subiu um pouco agora, o que aperta um pouco as margens de lucro, mas esse é um patamar histórico normal.

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Segundo ele, o que preocupa é a política de exportação do cereal, mas o Ministério da Agricultura teria assegurado que não vai deixar faltar o produto.

Setor de aves também sofre com novas exigências

Nem só os suinocultores deparam-se com aumento de custos e embargos. A União Europeia, por exemplo, aumentou o rigor e as exigências para comprar carne de frango do Brasil. De acordo com o Sindicato Nacional  dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários, deste o final de janeiro os caminhões que transportam aves para exportação e que têm como destino a União Europeia, terão que ser inspecionados por um auditor federal na chegada aos frigoríficos.

Antes, essa fiscalização era feita por um agente ou auxiliar de inspeção. Após a Operação Carne Fraca, que apontou irregularidade em alguns frigoríficos, os europeus passaram a ser mais exigentes e isso tem afetado até as exportações. Em Santa Catarina, por exemplo, a exportação de frango caiu 11% em janeiro, comparado a janeiro do ano passado.

De acordo com o presidente do Sindicato dos auditores, Antonio Andrade, o estado mais afetado é Santa Catarina.

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– SC é um dos que mais exportam aves para a União Europeia e lá temos uma defasagem muito grande – afirmou. 

O Sindicato fez um pedido para contratação de 1,6 mil profissionais. Recentemente, o Ministério da Agricultura realizou concurso público e contratou 300 médicos veterinários, sendo que 36 foram para Santa Catarina.

O diretor-executivo da Acav/Sindicarne, Ricardo Gouvêa, reconhece que o problema afeta a agroindústria:

– É público e notório que não tem fiscais, mas a gente espera que isso seja revertido em esquemas de rodízio e com o chamamento dos 300 médicos veterinários.

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Ele indica outro problema: algumas plantas foram embargadas no ano passado. O sindicato vem trabalhando para esclarecer os pontos questionados e, assim, cumprir as cotas. Ele também obteve informações de que o certificado sanitário do Brasil com a Coreia do Sul está pronto, faltando só ser publicado para começar a assinatura dos contratos de exportação. Embora os volumes iniciais não sejam grandes, isso ajudaria o preço do suíno a reagir no mercado. Há também uma negociação para a abertura do México e, em relação à Rússia, a expectativa é que ele seja reaberto em breve.

Quem não pode reclamar é o consumidor – o preço da proteína tem se mantido estável.