Em maio completa quatro anos que três kits de perfuração de poços, com quatro caminhões cada, no valor de R$ 16 milhões, foram destinados para Santa Catarina pelo governo federal. O objetivo era perfurar cerca de 500 poços em mais de 100 municípios que sofriam com estiagem, num período de quatro anos. Passado este período, nem 20% da meta foi cumprida.
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É que dos três kits, apenas um está funcionando até o momento. Quando as máquinas chegaram, o governo do Estado não tinha quem operasse os equipamentos. Cogitou-se a contratação de funcionários temporários ou, até, repassar para a Casan. A solução foram os consórcios municipais.
Em 2015 foi assinado o primeiro convênio repassando quatro caminhões para o Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Econômico e Social da Associação dos Municípios do Oeste de Santa Catarina (Amosc).
Um segundo kit foi destinado para a Associação dos Municípios do Extremo-Oeste de Santa Catarina (Ameosc), em setembro do ano passado. No entanto, houve uma série de procedimentos burocráticos que atrasaram o início da operação.
Teve que ser criado o Consórcio Regional de Desenvolvimento (Conder), dentro da Ameosc, que coordenará os programas, entre eles o de perfuração de poços. Depois cada município interessado teve que aprovar a adesão nas câmaras municipais de vereadores.
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Até o momento, sete municípios já aderiram: Bandeirante, Guarujá do Sul, Princesa, São José do Cedro, Santa Helena, São Miguel do Oeste e Tunápolis.
_ Estamos na fase de adesão mas a expectativa é de que neste início de abril seja lançada a licitação para contratar um geólogo, sondador e auxiliar de sondador _ disse a secretária-executiva do Conder, Jussara Reginatto.
O terceiro kit foi repassado para o Consórcio Intermunicipal Catarinense (CIMCatarina), formado por 22 municípios, a maioria do Meio-Oeste, que acabou desistindo do equipamento, em virtude dos custos, e devolveu os caminhões para a Secretaria de Agricultura do Estado.
De acordo com o secretário de Agricultura do Estado, Airton Spies, esse kit está na unidade da Cidasc em Campos Novos. Ele afirmou que a intenção é disponibilizar esses equipamentos para os municípios que tenham interesse de forma individualizada.
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– Estamos disponibilizando os equipamentos para que os municípios interessados utilizem, contratando prestadores de serviços para a perfuração dos poços – disse Spies.
Ele ressaltou que também vai conversar com a Federação Catarinense de Municípios para verificar se a entidade não poderia contratar os prestadores de serviço. Spies afirmou que esse entrave todo foi ocasionado pois o estado não tinha uma estrutura como o Instituto de Águas do Paraná, que pudesse gerir os equipamentos.
Mas acredita que, apesar da demora, a solução está encaminhada e vai atender as regiões onde há maior demanda, como no Extremo Oeste.
Primeiro poço perfurado ainda não foi utilizado
O primeiro poço perfurado pelos kits, em março de 2016, na linha Flor, em Guatambu, ainda não foi utilizado pelos moradores. O motivo é que não foi instalada a rede de água, que deve beneficiar cerca de 30 moradores.
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O prefeito de Guatambu, que assumiu em 2017, Luiz Clóvis Dal Piva, disse que já destinou cerca de R$ 35 mil do orçamento para a obra, mas que depende da contrapartida dos moradores.
– Nós vamos fornecer a bomba, a caixa d’água, a abertura das valas e o encanamento até a caixa d’água. Mas precisamos da definição do número de moradores e a formação da associação para que possamos lançar a licitação – disse Dal Piva. Outros dois poços perfurados no município estão em situação similar.
Pelo menos mil famílias já foram beneficiadas
Embora apenas um kit esteja funcionando, ele já é motivo de comemoração para famílias como a de Catarina Ferreira Mendes, Adriano da Silva e Elisabete Poppe. Eles fazer parte das cerca de 80 famílias da Vila Sossego, em Chapecó, que foram beneficiadas com um poço, no final do ano passado.
_ Eu moro aqui há três anos e a gente utilizava uma fonte modelo Caxambu, mas quando chovia a água ficava embarrada e tinha que ferver. Não dava para lavar roupa branca. Agora temos água boa e ficou mas fácil para todo mundo _ disse Catarina, que aos 55 anos está concluindo o Ensino Médio e mora com o marido, uma filha e o genro.
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Ela afirmou que cada família deu uma contrapartida de R$ 800 para instalação da rede de água.
Elisabete Poppe, que é presidente da Associação de Moradores da Vila Sossego, disse que a situação melhorou com o poço.
_ Antes a gente não podia lavar roupa quando chovia pois a água ficava embarrada, quando não chovia, às vezes ficava meio-dia, um dia sem água pois a fonte não dava conta do consumo – explicou.
O secretário de Desenvolvimento Rural de Chapecó, Valdir Crestani, disse que somente no município foram perfurado dez poços, em parceria com as associação de moradores.
De acordo com o diretor-executivo do Cidema/Amosc, Morciel de Araújo, cerca de mil famílias já foram beneficiadas com a perfuração de 80 poços, em 18 municípios. A previsão é de perfurar mais 35 até o final do ano. Araújo disse que o custo de perfuração de um poço, com média de 192 metros, fica em R$ 8,5 mil. A economia é estimada em cerca de 50%. O convênio com o Estado vai até 2021. Depois que terminar a demanda na região, o kit pode ser repassado para outra associação.
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