O cultivo de cogumelos é novidade no Oeste de Santa Catarina, além de fonte de renda, a prática é uma motivação para a permanência de jovens no campo. É o caso de Eliel Cella, 25 anos, de uma família de três irmãos ele é o único que ficou sítio de oito hectares, situado na comunidade de Colônia Cella, em Chapecó.

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– Comecei no ano passado com o objetivo de ter uma renda a mais na propriedade, pois é uma atividade que não precisa de muito espaço – afirma Cella.

A família também possui um aviário que produz 9 mil aves a cada dois meses e 16 vacas que proporcionam 250 litros de leite por dia. Em novembro do ano passado, Cella investiu R$ 20 mil para iniciar a produção de cogumelo, do tipo  Champignon.

Ele comprou uma câmara fria usada de caminhão, onde montou as prateleiras para colocar as bolsas com camadas de matéria orgânica e turfa onde são cultivados os cogumelos. O material é separado em sacos para reduzir o risco de contaminação. Cella também montou uma sala anexa para lavar o produto e realizar o cozimento.

Ele está colhendo a segunda safra, cerca de 600 quilos no total. Sua produção é vendida para outro produtor, Darlan Izoton, de Coronel Freitas, que foi quem ensinou Eliel o cultivo e industrialização o produto.

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Izoton , 36 anos, nunca tinha trabalhado como produtor. Formado em geografia, fez um curso de pós-graduação em georrefrenciamento (mapeamento de imóvel rural que referencia os vértices do perímetro, definindo área e posição geográfica) e montou uma empresa de recadastramento imobiliário e mapeamento urbano.

Depois de alguns anos na atividade, decidiu largar tudo e morar em uma propriedade da família, na linha Cairu, interior de Coronel Freitas. Como a área era pequena, três algueires, equivalente a 7,2 hectares, não conseguiu financiamento para colocar um aviário ou um espaço para criar outros animais. Um dos motivos foi o valor do financiamento, que era maior do que o da propriedade, que ficaria como garantia. Izoton também não tinha bloco de produtor rural para se enquadrar nos financiamentos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). A região pequena também era inviável para a produção de leite.

– Eu buscava uma atividade de valor agregado e daí tive o auxílio de um primo que fez curso de técnico agrícola em Concórdia, onde obteve informações sobre o cultivo de cogumelos. Pesquisamos o mercado de Chapecó e descobrimos que havia demanda em restaurantes e pizzarias – diz.

Há cinco anos Izoton vendeu parte da terra para investir R$ 15 mil na produção. Aproveitou um contêiner usado para montar as prateleiras de bambu, onde são colocados as bolsas.  Em outra sala, usa material reciclado de um galpão de fumo na construção.

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Existiram algumas dificuldades no início do cultivo, mas agora ele está animado, pois passou a plantar de 300 quilos para 600 quilos por mês. A produção é vendida em Chapecó e já houve encomenda para o Litoral de Santa Catarina. A demanda do município de Chapecó gira em torno de 800 quilos por mês, segundo o produtor.

Industrializando o produto ele consegue agregar 50% do valor do cogumelo, passando de R$ 12 para R$ 18 por quilo.

– Os restaurantes daqui estão optando por produtos mais frescos, também estamos nos organizando em grupos e queremos aumentar a produção, quem sabe formar uma cooperativa, para termos competitividade de preço – afirma.

O produtor Darlan Augusto Izoton calculaque com investimento de R$ 15 mil a R$ 20 mil é possível produzir 620 quilos de conserva a cada dois meses, – média de tempo que o cogumelo leva para crescer –, rendendo um faturamento de R$ 19 mil por ano.

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A Associação Nacional dos Produtores de Cogumelos (ANPC) estima que, em um espaço de 80 metros quadrados é possível obter uma renda líquida de dois a três salários mínimos por mês.

A atividade também tem atraído pessoas da área urbana. Uma delas é o servidor público da Secretaria de Desenvolvimento Rural de Chapecó, Giulio Primo Migliavacca, que começou o cultivo do cogumelo tipo Shiitake, cultivados em toras de madeira.

– Uma vez experimentei esse cogumelo numa casa de sushi e, após um curso em Chapecó, não pude participar mas tinha vontade de cultivar esse produto. Há um ano e três meses comprei 500 toras e passei a cultiva os cogumelos numa chácara da família – conta Migliavacca.

O investimento inicial foi de R$ 3 mil. Giulio começou a colher há três meses e até agora já vendeu 12 quilos do produto, em bandejas de 200 gramas. O preço varia de R$ 65 a R$ 75 por quilo. Para o servidor a atividade é um complemento de renda. Ele já tem mil toras e comprou mais mil de outro produtor. Sua meta é ter uma produção suficiente para tirar entre R$ 1 mil e R$ 2 mil por mês.

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Na região de Chapecó atualmente são cinco produtores. Em Santa Catarina não há dados nem da Secretaria de Agricultura, nem da Associação Nacional dos Produtores de Cogumelos. Em São Paulo, onde a atividade é mais forte, são 750 produtores segundo a ANPC. Ainda conforme à associação, o Brasil produz  cerca de 25 mil toneladas de cogumelos comestíveis por ano,  das quais, 10 mil toneladas são importadas. 

A organização afirma que é notável o crescimento tanto na produção, quanto no consumo, principalmente pela proliferação de restaurantes de comida japonesa, mas que não há percentuais de crescimento.

É nesse contexto que Santa Catarina quer inserir-se, onde a estrutura de pequenas propriedades rurais pode alavancar a produção de cogumelos que por meio da atividade o Estado passe a ser notado nas estatísticas.