A produção de milho em Santa Catarina terá uma redução de 25% neste ano em relação à safra do ano passado, segundo levantamento divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

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A estimativa é de uma colheita de 2,4 milhões de toneladas, contra 3,2 milhões do ano passado. São 800 mil toneladas a menos, que terá que ser buscadas ou no Centro Oeste, ou então em outros países. Como o estado consome 6,5 milhões de toneladas para abastecer seus rebanhos de suínos, aves e bovinos, terá que trazer de fora quatro milhões de toneladas.

A redução se deve a dois fatores. Um é a redução da área de 400 mil para 331 mil hectares. Outro é uma queda na produtividade, estimada em 10%, pois na safra passada o clima foi excelente e, na safra 2017/2018 houve problema de falta de chuva no período do plantio.

Um dos produtores que teve queda de produção foi Mário Fries, de Chapecó, que também é criador de suínos. Ele reduziu a área de milho de 35 hectares para 25 hectares. Além disso teve uma quebra de cerca de 25% na produtividade, que caiu de 214 sacas por hectares no ano passado para 156 sacas. Com isso a produção que passou de sete mil sacas no ano passado não chegou a quatro mil neste ano.

– A produção foi bem menor, chegou a decepcionar, com isso vou ter que comprar pelo menos duas mil sacas para alimentar a granja de suínos – lamentou.

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O produtor Armando Zonta, de Chapecó, também colheu próximo de 150 sacas por hectare, numa área de 6,5 hectares. De acordo com o funcionário Sérgio Teodoro, a produção vai toda para o consumo da propriedade, nas criações de bovinos e ovinos.

O vice-presidente da Cooperativa Agroindustrial Alfa (Cooperalfa), Cládis Furlanetto, estima que, na área de abrangência da cooperativa haverá uma redução de 60%, sendo 50% por redução de área e 10% por queda na produtividade.

Essa redução preocupa também as agroindústrias.

– Essa queda não é boa pois afeta o volume produzido em Santa Catarina, que já não é autossuficiente e ainda exporta parte do que produz, com isso pode aumentar algum custo com o frete, mas se não houver oscilação no dólar que provoque um aumento nas exportações nós temos milho no mercado interno, não deve ocorrer o que aconteceu em 2016, quando houve escassez de milho e os preços aumentaram – disse o diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados (Sindicarne) e da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), Ricardo Gouvêa.

Em 2016  a saca de milho de 60kg chegou a R$ 45 para o produtor e até R$ 60 para a indústrias, o que gerou o fechamento de alguns frigoríficos, entre eles a Globoaves de Lindóia do Sul. Atualmente o cereal está abaixo de R$ 30 para o produtor.

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A produção nacional está prevista em 92 milhões de toneladas segundo a Conab, numa queda de apenas 5%. O secretário-adjunto da Agricultura do estado de Santa Catarina, Airton Spies, disse que o consumo nacional gira em torno de 60 milhões de toneladas o que representaria uma sobra de 30 milhões, que poderia ser exportado sem prejudicar o abastecimento do mercado interno.

– Acho que no momento não preocupa pois o milho no Mato Grosso está barato e mesmo com o custo do frete de R$ 15 a saca ele chega aqui a R$ 28, R$ 29. Também acho exagerado o número da Conab. Claro que nas lavouras do Extremo Oeste há uma quebra de 25% pela redução de área e produtividade, mas as lavouras na região de Campos Novos estão muito bonitas e a produtividade deve ser maior – argumentou Spies.

Ele também afirmou que o governo do Estado tem procurar estimular a produção de milho, com investimento anual de R$ 50 milhões em subsídio de calcário e sementes para os agricultores, que atingiram a maior produtividade do país, com média de 135 sacas por hectare. As lavouras mais tecnificadas passaram de 200 sacas por hectare.

Alternativa

O governo do Estado também está buscando alternativas de abastecimento, como a Rota do Milho, que deve ser inaugurada em março, trazendo a matéria-prima do Paraguai, passando por Misiones, na Argentina, e ingressando no estado por Dionísio Cerqueira. A longo prazo, a ferrovia é uma das alternativas para garantir o abastecimento.

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Para o presidente da Companhia Integrada para o Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), e vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado de Santa Catarina (Faesc), Enori Barbieri, também considera que no momento não há risco de falta de milho e nem de aumento de preços.

– Não há motivo para aumento de preços pois há milho no mercado interno e os estoques mundiais estão abastecidos. Teremos uma safra normal tanto no milho quanto em outras culturas, o mercado está abastecido de carne e por isso os preços dos produtos agropecuários não devem ser inflacionados – explicou Barbieri.

Com isso o consumidor pode ficar mais tranquilo.

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