Uma ossada indígena com pelo menos 400 anos está sendo estudada por pesquisadores do Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina (Ceom), que é mantido pela Unochapecó. A ossada estava dentro de uma urna funerária que foi encontrada na barranca do Rio Uruguai, em Alpestre-RS, que faz divisa com Águas de Chapecó.
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As cheias ocorridas no ano passado, com vazão que chegou a 19 mil metros cúbicos de água por segundo, no Rio Uruguai, acabou provocando erosão nas margens do rio e revelando a urna.
Mesmo quebrada em vários pedaços, pela ação do tempo, a urna com cerca de 50 centímetros de altura estava unida e continha uma ossada humana dentro dela.
Ela foi encontrada por moradores que avisaram os pesquisadores. De acordo com a coordenadora do centro e Doutora em Arqueologia, Mirian Carbonera, essa é a segunda urna funerária encontrada na região pelos pesquisadores do Ceom. A primeira foi em Águas de Chapecó, em 2014.
– Essa urna vai nos ajudar a responder como eram os sepultamentos pois a maioria eram colocados em urnas de cerâmica mas também existem ossos que foram colocados direto na terra, podendo ser por motivo de hierarquia, ou por serem prisioneiros, isso ainda a gente não sabe. O que já sabemos é que a urna que encontramos também foi utilizada como utensílio doméstico, pois há sinais de fuligem – explicou a arqueóloga.
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A doutoranda em Arqueologia Vanessa Quintana disse que ainda não foi possível definir o sexo e a idade do indivíduo que foi encontrado na urna. Devido ao tempo alguns ossos já se esfarelaram. As partes mais inteiras são do fêmur e tíbia. Os ossos estavam em posição fetal. Também não foram encontrados utensílios, mas podem ter sido colocados materiais orgânicos.
As pesquisadoras afirmaram que a ossada pertence a uma tribo Guarani, que descende de povos vindos da Floresta Amazônica, da região de Roraima.
Essa população se instalou na bacia do rio Uruguai num período entre 500 e mil anos atrás.
– Conseguimos calcular isso devido à uma camada escura, que fica em média a 50 a 60 centímetros de profundidade, que é resultado de material orgânico depositado numa área onde existia uma grande aldeia – explicou Mirian Carbonera.
Ela afirmou que o Rio Uruguai era atrativo por fornecer comida e também facilitava o transporte. Os Guaranis desse período já utilizavam canoas e a primeira urna encontrada revela que eles se alimentavam de milho, o que revela que já eram agricultores.
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Vanessa Quintana complementou que a bacia do Rio Uruguai abrigou vários povoamentos, mas de forma descontínua.
– Eles se instalavam na região e depois saíam, temos várias camadas no solo que revelam a passagem de comunidades que moraram na região em diferentes períodos – explicou Vanessa.
Objetos têm até 11,7 mil anos
Os arqueólogos encontraram numa profundidade de cinco a seis metros objetos com até 11,7 mil anos, como flechas e lascas de utensílios em pedra.
– Temos três sítios arqueológicos em Águas de Chapecó-SC, Alpestre-RS e em Ilha Redonda, em Palmitos-SC, que são os mais antigos de Santa Catarina e entre os mais antigos do Sul do país – afirmou Mirian Carbonera.
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Isso atraiu até pesquisadores de outros países, como França, Itália e Rússia. O Museu de História Natural de Paris está ajudando a bancar as pesquisas, dentro do projeto “Povoamentos Pré-Históricos do Alto Rio Uruguai”, que iniciou em 2013 e foi prorrogado até 2020.
A coordenadora do Ceom explicou que os franceses são especialistas em objetos com mais de 10 mil anos e são muito minuciosos. A idade dos objetos foi possível graças a testes com Carbono 14.
Mirian afirmou que a parceria internacional vem sendo muito positiva para o conhecimento sobre os primeiros moradores do Oeste de Santa Catarina. Diferente dos Guaranis das ossadas encontradas recentemente, esses povos eram compostos de caçadores e vinham do Sul, em um período que corresponde ao final da Era do Gelo.