Após o fim da paralisação dos caminhoneiros, o feriado de Corpus Christi foi de trabalho para muita gente em Santa Catarina. As indústrias, que ficaram paradas por cerca de 10 dias, com prejuízo diário de R$ 10 milhões, segundo o Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados (Sindicarne), decidiram começar a recuperar o tempo perdido. As principais agroindústrias – JBS, BRF, Aurora e Pamplona – retomaram os abates, embora ainda parcialmente.

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A Aurora só não retomou o abate de aves nas unidades de Abelardo Luz e Erechim (RS), pois ainda não conseguiu esvaziar os estoques. Mas trabalhou em Xaxim, Maravilha, Quilombo e Guatambu. Nas unidades de suínos, o abate só começou numa unidade de Chapecó e São Gabriel do Oeste (MS). Mas os trabalhadores já voltaram em algumas unidades na industrialização da matéria-prima.

— Com os caminhões que chegaram escoltados na madrugada de hoje (quinta-feira) nos portos, começa a dar um fluxo nas cargas. Ainda não é o normal mas já é um fluxo importante que ajuda na volta dos abates — diz Gouvêa.

Além dos caminhões que puderam descarregar nos portos, para atender as exportações, os caminhões vazios puderam chegar aos frigoríficos e os caminhões que levavam matéria-prima também conseguiram descarregar.

– Hoje (quinta-feira) retornou 100% da coleta de leite, pois insumos como embalagens e material de limpeza chegaram aos laticínios para retomar a industrialização. O recolhimento já está normal — afirma o presidente do Sindicato das Indústrias de Leite e Derivados de Santa Catarina (Sindileite), Valter Brandalise.

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Na madrugada de quinta-feira, o leite produzido pela Granja São Roque, da família de Félix Muraro Júnior, em Chapecó, foi recolhido. Pela primeira vez em 10 dias, o tanque de 6 mil litros ficou vazio.

Nesse período, o produtor teve que jogar fora 550 litros e vender 14 mil litros para queijarias, por valor entre R$ 0,80 a R$ 1,00 por litro, bem abaixo do R$ 1,45 que recebia do laticínio ao qual está vinculado, mas que não conseguia fazer a coleta por causa dos bloqueios. O prejuízo foi de R$ 14 mil.

— Hoje, dá para dizer que voltou à normalidade nossa produção. Tinha reduzido a alimentação das vacas em 5% e agora já está normal. Volta a tranquilidade, pois nesse período a gente ficava preocupado com a situação — diz o produtor, que tem 80 vacas em lactação e produz 2,4 mil litros por dia.

A granja também tinha sido afetada na entrega de leitões. Um lote de 200 animais atrasou cinco dias mas, na quarta-feira, já foi recolhido.

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Outro produtor de leite, Eron Baldissera, teve que jogar fora 14 mil litros de leite. Um prejuízo de cerca de R$ 20 mil. Mas pelo menos conseguiu salvar outros 25 mil litros com tanque de resfriamento e caixas d'água estocadas numa câmara fria, alugada por R$ 250 ao dia.

– Fiz um investimento de R$ 5 mil, mas pelo menos consegui salvar parte da produção. Vou ter que tirar dinheiro de outro lugar para cobrir o prejuízo, mas a gente também espera que o preço do leite aumente para compensar o que foi perdido – considera Baldissera.

A estimativa do presidente do Sindileite, Valter Brandalise, é que tenham sido desperdiçados 6 milhões de litros de leite por dia durante a paralisação.