A oscilação dos prédios de Balneário Camboriú, que repercutiu nesta semana com a passagem de um ciclone pelo Litoral de Santa Catarina, é um fenômeno considerado desejável na engenharia de superestruturas. O movimento, inusitado, é o que garante que o prédio não tenha problemas estruturais diante de eventos climáticos. Os projetos são testados ao limite em túneis de vento, que simulam condições extremas para avaliar os cálculos estruturais.

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A coluna teve acesso, pela primeira vez, a um vídeo que mostra como são feitos os testes em túneis de vento. As imagens mostram a maquete do edifício Titanium Tower, da construtora FG, produzida exatamente de acordo com os cálculos estruturais prévios, em um laboratório especializado de uma empresa no Canadá – um dos centros de pesquisas e ensaios mais importantes do mundo.

O teste leva em conta as piores rajadas de vento já registradas em um período de 50 anos na área no entorno de cada projeto. No caso de Balneário Camboriú, são aplicados ventos com mais de 200 quilômetros por hora. Para se ter ideia, no último ciclone a velocidade do vento chegou a119 quilômetros por hora – foi o número registrado por equipamentos no topo de edifício Vitra, da construtora Pasqualotto & GT.

André Bigarella, diretor de engenharia da FG Empreendimentos, explica que nesses ensaios é simulada a atuação do vento em todas as faces e entorno do empreendimento. As medições têm quatro objetivos diferentes: calcular a segurança na concepção estrutural, avaliar esforços de vento, conforto estrutural e dimensionamento das esquadrias.

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Ciclone faz cobertura do Neymar balançar em Balneário Camboriú; veja vídeo

Os projetos dos prédios superaltos consideram, inclusive, características aerodinâmicas que aumentem a segurança e o conforto dos usuários, “direcionando” a força dos ventos. A técnica construtiva oferece uma análise importante sobre o efeito da vibração causada pelo vento. Os resultados que o processo gera são usados como referência para o desenvolvimento do projeto estrutural e da caixilharia.

Bigarella diz que ensaios em túnel de vento são recomendados para projetos altos — quando a altura é 10 vezes maior que a largura — e que apresentam formatos esbeltos.

– Nesse rol, enquadram-se edificações com linhas curvas ou com revestimento em pele de vidro, coberturas de estádios e de ginásios desportivos com grandes vãos, além de pontes pênseis e estaiadas – diz.

Três vezes em que os arranha-céus de Balneário Camboriú balançaram com o vento

Gerente de Engenharia Aplicada e Supertalls da construtora, Stephane Domeneghini explica que a oscilação dos edifícios é o que permite que não colapsem, nem haja danos à estrutura causados pela exposição ao vento. Para que os prédios se movimentem, os projetos precisam garantir a densidade correta do concreto, folgas e maleabilidade nas conexões.

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O desafio, para a engenharia, é garantir que a necessária oscilação não seja desconfortável para os moradores. O movimento não pode fazer com que os usuários sintam mal-estar ou enjoo, por exemplo. Stephane explica que o Brasil não possui hoje uma normativa para esse tipo de parâmetro.

– O Brasil tem normas de segurança estrutural. Então usamos parâmetros internacionais em relação ao conforto, como o de Melbourne ou o RWDI. O Brasil não tem normativa porque a verticalização estacionou no país, e agora está sendo retomada. Balneário Camboriú trouxe de volta essa discussão – avalia.

A engenharia civil desenvolveu ao longo dos anos técnicas para amenizar a sensação de movimento, e torná-lo praticamente imperceptível pelos usuários. No Yachthouse by Pininfarina, onde fica a cobertura de Neymar, que vitalizou nesta semana com o balanço, as duas torres foram as primeiras no Brasil a contar com o um sistema de amortecimento chamado outrigger, que reduz a sensibilidade ao movimento da construção. Projetado por um escritório de engenharia no Panamá, o sistema consiste em dois andares inteiros com o triplo de concreto, que funcionam como uma espécie de “contrapeso” para a vibração dos edifícios. A técnica reduz a sensação de balanço da construção.

A FG, que detém o topo do ranking do mais alto residencial da América do Sul – com o edifício One Tower, de 290 metros de altura -se prepara para testar um sistema ainda inédito no país, chamado “tuned massa dumper”, ou dumper de atenuação, que consiste em uma espécie de contrapeso no alto do edifício, que tem o objetivo de reduzir a sensação de oscilação.

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A nova tecnologia será usada no Triumph Tower, que será um dos maiores residenciais do mundo, com mais de 500 metros de altura. A obra ficará na Avenida Atlântica de Balneário Camboriú e está em fase de aprovação.  

O projeto do Triumph Tower leva a assinatura do norte-americano Fatih Yalniz, que é engenheiro da WSP e o engenheiro estrutural dos prédios mais altos do mundo. Entre suas obras estão o conceito estrutural de edificações icônicas como o One World Trade Center, o Steinway Tower 111 West 57th Street – edifício mais esbelto do mundo, o 432 Park Avenue, com conceito inovador em controle da ação de vento, o 56 Leonard St., com seu conceito arquitetônico irreverente, entre outros edifícios que moldam hoje a skyline da cidade de Nova York.

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